Hoje vou falar sobre a perda de mandato por parte de Macário Correia, que foi agora confirmada pelo Tribunal Constitucional.
Sobre isto, muito haveria a dizer. Podia escolher abordar a questão de forma algo demagógica e dizer, por exemplo, que no país há muitos casos de autarcas verdadeiramente corruptos e a esses ninguém lhes toca.
Poderia dizer que há os casos conhecidos e que já passaram pelos tribunais, embora em algumas situações, sem um fim à vista: Isaltino Morais e Fátima Felgueiras.
Poderia dizer também que há os casos de que toda a gente fala, neste concelho e naquele, de autarcas corruptos, com fortunas mais ou menos inexplicáveis.
Poderia mesmo recordar os casos de outros políticos em relação aos quais há suspeitas de corrupção ou, pelo menos, de ilegalidades, e que nunca passaram pela barra dos tribunais.
Poderia, de facto, ser demagógica e falar de tudo isso. Mas não o vou fazer.
Vou apenas invocar aqui o meu conhecimento pessoal, enquanto jornalista e cidadã, de Macário Correia.
Enquanto jornalista, já conheço Macário há mais de 25 anos, desde que comecei a trabalhar, tinha ele então outras funções, e não tenho, nem nunca tive, a menor razão de queixa dele.
Enquanto cidadã, nomeadamente como pessoa que se preocupa com as questões de ambiente e de ordenamento do território, já discordei muitas vezes de Macário Correia, por exemplo quando ele era secretário de Estado do Ambiente.
Macário Correia é uma personagem controversa. É uma pessoa que não tem medo de afrontar os interesses instalados, ainda que sejam os do seu próprio partido, que não tem papas na língua, nem se coíbe de pisar calos.
É também alguém que não se importa de preterir pessoas competentes para instalar em certos cargos gente da sua confiança, com isso cometendo injustiças. Muitas injustiças.
Penso ser inegável que Macário conseguiu, tanto na Câmara de Tavira, como agora na de Faro, por em ordem coisas que há longos, longos anos estavam mal.
Mas isso acontece ao mesmo tempo que tem tomado algumas medidas que têm o condão de desagradar a gregos e a troianos e que nem para encher os cofres da Câmara servem, como é o caso dos estacionamentos pagos em toda a cidade de Faro.
Macário Correia é, em suma, uma pessoa capaz de gerar os mais violentos ódios ou a admiração. Capaz mesmo de gerar, em simultâneo, ódio e admiração, conforme as atitudes que vai tomando.
Feitas as contas, como cidadã, direi que acho uma perda para Faro e para o Algarve, que Macário Correia saia da Câmara da capital algarvia e que, por isso, deixe também a liderança da associação de municípios.
Mas é bem verdade que ele perde o mandato não por causa de uma qualquer embirração de alguém, antes porque, de facto, ficou provado em tribunal que cometeu ilegalidades. É bom que não nos esqueçamos disto.
Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e que pode ser ouvida em podcast aqui.