Depois das eleições para a Comissão Política Concelhia do PS/Portimão, que se disputam sexta-feira, dia 1 de junho, «é absolutamente desejável que a normalidade se instale na vida do Partido» considera Manuel da Luz, em carta enviada aos dois candidatos, Luís Carito e Joaquim Castelão Rodrigues.
Na missiva a que o Sul Informação teve acesso, e que Manuel da Luz diz ser «uma carta de esperança», o presidente da Câmara de Portimão e ele próprio ex-presidente daquela Concelhia sublinha que «outros combates bem mais importantes se avizinham, onde os adversários estão no exterior do PS. Ganhe quem ganhar, após o ato eleitoral não pode haver lugar a revanchismos, a garrafas de champanhe, a manifestações de vitória que deixem ferida na unidade do Partido porque todos vamos ser necessários para os próximos combates».
Manuel da Luz, que invoca a sua condição de autarca eleito pelo Partido Socialista há mais de 18 anos, afirma ter «uma noção muito clara sobre a importância da concelhia do PS num município como o de Portimão, onde somos poder desde que há eleições democráticas».
É que, salienta, «trata-se de uma eleição importante e com consequências futuras para o PS, em geral, e muito em particular no nosso concelho».
Por ter «estima e consideração por todos os candidatos que se apresentam a votos», Manuel da Luz diz que lhe «apeteceu» escrever «esta carta, porque não é todos os dias que dois militantes», com a «experiência política e perfil» de ambos os candidatos, «resolvem candidatar-se a uma estrutura de base do nosso partido».
«E em que contexto? Num quadro de dificuldades nacionais evidentes e, também, numa altura em que os partidos políticos portugueses – e o nosso não é exceção – necessitam de se renovar e de se abrir à sociedade, que hoje é bem mais complexa e diversificada do que na altura da sua constituição», acrescenta.
«Há perguntas e anseios incontornáveis para melhorar a qualidade da nossa democracia, o que não se fará sem uma forte renovação partidária, sem novas formas de fazer política».
Manuel da Luz coloca à discussão dos militantes do PS em Portimão cinco «reflexões», que traduzem as suas preocupações em relação ao que está em causa nestas eleições para a CPC socialista.
E são elas:
«Como – e é uma questão sempre atual! – dar vitalidade ao partido na procura de melhores mecanismos de participação e de abertura à sociedade envolvente?»
«Como dar substância efetiva e atual a uma Comissão Política Concelhia, onde é fundamental a capacidade de ouvir e respeitar as bases, a capacidade de organizar e gerir para objectivos do PS local, a capacidade de gerir um permanente clima de diálogo, respeitando as competências, entre o Partido e os órgãos autárquicos?»
«Não será que o tempo de votar é tempo de responsabilidade pessoal, onde não contam amizades e cumplicidades mas a consciência de cada militante na avaliação do que está em causa?»
«Não é verdade que o voto é livre? Não é verdade que o PS sempre foi e é um Partido que respeita a liberdade de voto sem qualquer constrangimento ou pressão de quem quer que seja?»
«Não é verdade que não há, nem nunca houve, medo em Portimão, sendo, por isso, esse um tema que não faz sentido no ato de votar?»
E Manuel da Luz termina manifestando que «todas estas questões – e muitas outras, com certeza – me preocupam e sei que qualquer um de vós não se cansará, no âmbito da vossa candidatura, em tentar encontrar-lhe soluções e o melhor encaminhamento».
Em Portimão, Manuel da Luz, atual presidente da Câmara eleito pelo PS, não poderá voltar a recandidatar-se, devido a ter atingido o limite máximo de mandatos.
Por isso, as atuais eleições para a Comissão Política Concelhia são encaradas como uma espécie de “primárias” para a escolha do futuro candidato socialista à autarquia que este partido governa desde que há Eleições Autárquicas.
No entanto, independentemente de quem ganhe as eleições de dia 1 – Joaquim Castelão Rodrigues ou Luís Carito -, se uma lista tiver 1/3 da Comissão Política, pode propor um candidato a presidente, que será escolhido através de eleições diretas entre os militantes do PS. Tendo em conta a situação extremada que se tem criado nos últimos mês, é bem provável que a confusão continue na Concelhia socialista após as eleições de sexta-feira. Daí a maior pertinência da carta enviada por Manuel da Luz aos dois candidatos.
As eleições para as Comissões Políticas Concelhias do PS decorrem no Algarve e no país nos dias 1 e 2 de junho.
Eis o teor da carta, na íntegra:
«Confesso que tenho seguido, à distância, a campanha para as eleições à Concelhia de Portimão, através da leitura de vários documentos que, como militante activo e com quotas em dia, me têm sido enviados.
Sobre a forma, os eventos, os acontecimentos, as redes sociais desta campanha – permitam-me que me abstenha de comentar.
Como sabem, já fui presidente da Concelhia do PS de Portimão, sou autarca eleito pelo Partido Socialista há mais de 18 anos; tenho, portanto, uma noção muito clara sobre a importância da concelhia do PS num município como o de Portimão, onde somos poder desde que há eleições democráticas.
Trata-se de uma eleição importante e com consequências futuras para o PS, em geral, e muito em particular no nosso concelho.
E é verdade que tenho estima e consideração por todos os candidatos que se apresentam a votos. Por isso, apeteceu-me escrever esta carta porque não é todos os dias que 2 militantes, com a vossa experiência política e perfil, resolvem candidatar-se a uma estrutura de base do nosso partido.
E em que contexto? Num quadro de dificuldades nacionais evidentes e, também, numa altura em que os partidos políticos portugueses – e o nosso não é excepção – necessitam de se renovar e de se abrir à sociedade, que hoje é bem mais complexa e diversificada do que na altura da sua constituição.
Há perguntas e anseios incontornáveis para melhorar a qualidade da nossa democracia, o que não se fará sem uma forte renovação partidária, sem novas formas de fazer política.
Posto tudo isto, e passado o tempo necessário para uma boa reflexão sem ruído que distraia do essencial, gostaria de apelar aos militantes do PS em Portimão para considerarem algumas reflexões que aqui proponho sob forma interrogativa:
Como – e é uma questão sempre actual! – dar vitalidade ao partido na procura de melhores mecanismos de participação e de abertura à sociedade envolvente?
Como dar substância efectiva e actual a uma Comissão Política Concelhia, onde é fundamental a capacidade de ouvir e respeitar as bases, a capacidade de organizar e gerir para objectivos do PS local, a capacidade de gerir um permanente clima de diálogo, respeitando as competências, entre o Partido e os órgãos autárquicos?
Não será que o tempo de votar é tempo de responsabilidade pessoal, onde não contam amizades e cumplicidades mas a consciência de cada militante na avaliação do que está em causa?
Não é verdade que o voto é livre? Não é verdade que o PS sempre foi e é um Partido que respeita a liberdade de voto sem qualquer constrangimento ou pressão de quem quer que seja?
Não é verdade que não há, nem nunca houve, medo em Portimão, sendo, por isso, esse um tema que não faz sentido no acto de votar ?
Todas estas questões – e muitas outras, com certeza – me preocupam e sei que qualquer um de vós não se cansará, no âmbito da vossa candidatura, em tentar encontrar-lhe soluções e o melhor encaminhamento.
É por tudo isto que vos desejo felicidades para a eleição do dia 1 de Junho.
Mas é por tudo isto que esta é também uma carta de esperança!
Camarada Carito e Camarada Castelão,
Depois deste acto eleitoral é absolutamente desejável que a normalidade se instale na vida do Partido. Outros combates bem mais importantes se avizinham, onde os adversários estão no exterior do PS. Ganhe quem ganhar, após o acto eleitoral não pode haver lugar a revanchismos, a garrafas de champanhe, a manifestações de vitória que deixem ferida na UNIDADE do Partido porque todos vamos ser necessários para os próximos combates.
Deixei escritas as razões pelas quais resolvi escrever-lhes esta carta a que poderão dar o uso que entenderem.
Saudações Socialistas do
Manuel da Luz
Portimão, 28 de Maio de 2012»