Cerca de um milhar de pessoas, em mais de três centenas de carros e motos, provenientes de todo o Algarve e até da vizinha Espanha, participaram na tarde deste sábado na marcha lenta contra as portagens na A22, chegando a entupir o trânsito à entrada de Faro, junto ao Fórum Algarve.
Os organizadores da marcha manifestaram o seu «forte protesto e repúdio» contra o anúncio feito ontem pelo Governo de que as portagens começarão a ser cobradas até ao fim do mês.
No auge da manifestação, José Vitorino, antigo presidente da Câmara de Faro e líder do Movimento Com Faro no Coração (CFC), fez uma declaração aos jornalistas, em nome dos organizadores da marcha – Comissão de Utentes da Via do Infante, Movimento Não às Portagens na A22, Moto Clube de Faro e CFC -, para protestar contra a introdução de portagens.
«Queremos manifestar a nossa revolta contra o governo e o poder de Lisboa, que tem sugado as divisas do turismo do Algarve, não tem ligado à região e, agora, em período de crise, lança-nos um xeque mate, porque ficamos aqui cercados e isolados quase como um enclave», disse José Vitorino.
Os algarvios «vão ter que pagar e ter barreiras para se deslocar entre os concelhos onde moram e trabalham», situação que disse ser «quase criminosa» e irá «empurrar turistas e residentes para a estrada da morte», a Estrada Nacional 125, acrescentou.
Manifestou-se ainda «contra a AMAL [Comunidade Intermunicipal do Algarve], porque os presidentes de câmara andaram durante cerca de dois anos a brincar com coisas sérias e a virar o bico ao prego em função dos seus interesses político-governamentais, traindo o eleitorado nas eleições [Autárquicas] de 2005 e 2009».
Por seu lado, João Vasconcelos, da Comissão de Utentes da Via do Infante, considerou «positiva» a participação de mais de duas centenas de automóveis e de uma centena de motos na manifestação.
«Independentemente de o ministro ter anunciado[ontem] a introdução de portagens, estão aqui muitas pessoas. Isto não é fácil, mas é mais uma demonstração que uma parte da sociedade algarvia está descontente com a introdução de portagens e vamos continuar a lutar mesmo depois da sua introdução», afirmou.
Também presentes na marcha lenta, os deputados do PCP (Paulo Sá) e do Bloco de Esquerda (Cecília Honório), eleitos pelo Algarve, consideraram que a introdução de portagens na Via do Infante é uma medida «injusta», que deve ser suspensa.
Paulo Sá disse à Agência Lusa que «é indispensável travar uma luta na rua contra a intenção do governo de introduzir portagens» na A22. «É importante que os algarvios saiam todos para a rua, protestem e exijam do governo a suspensão da medida», afirmou ainda Paulo Sá, pois, «se os algarvios protestarem de uma forma efetiva e empenhada, o governo pode recuar».
Por seu lado, Cecília Honório classificou a marcha lenta como «um grande protesto, uma grande manifestação por uma luta que é absolutamente justa».
A deputada bloquista, que salientou o facto de a manifestação até ter contado com pessoas vindas de Espanha, disse que «agravar a crise com crise, colocando portagens na Via do Infante, só vai agravar o problema» do Algarve.
Cecília Honório defendeu ainda a necessidade de suspender a introdução de portagens, «porque quando a sociedade tem razão e quando há um protesto com esta dimensão, há um governo que tem que ouvir».
Muitos e originais protestos
Na marcha lenta, além dos cartazes da manifestação colados nos carros, houve quem fizesse os seus próprios cartazes de protesto. É o caso de um cartaz colado na janela traseira de uma viatura, onde a participante escreveu uma letra alternativa para o hino nacional:
«Heróis do mal
Pobre Povo
Nação doente
… E mortal
Expulsai os tubarões
Exploradores de Portugal
Entre as burlas
Sem vergonha
Ó Pátria
Cala-lhe a voz
Dessa corja tão atroz
Que há-de levar-te à miséria
P’ra rua, p’ra rua
Quem te está a aniquilar
P’ra rua, p’ra rua
Os que só estão a chular
Contra os burlões
Lutar, lutar»
Foi ainda o caso do manifestante que participou na marcha lenta, junto ao Fórum Algarve, de bicicleta, ostentando um cartaz que dizia: «Algarve? Só de bicicleta».
Outros manifestantes ostentavam cartazes com palavras de ordem como «Portajar = Matar», «Portajar Via do Infante é atirar-nos para a estrada da morte» ou ainda «Vamos andar a Passos de caracol».
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