Um dos membros do Corpo Docente do Mestrado Integrado de Medicina (MIM) da Universidade do Algarve mostrou-se «surpreendido» com a tomada de posição da direção do curso e defendeu que «a existência de uma excelente relação entre o Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina (DCBM) e o Centro Hospitalar do Algarve (CHA) é fundamental para o bom funcionamento do curso, e proveitosa para ambas as partes».
Paulo Caldeira, que dá aulas neste curso da UAlg enquanto colaborador externo e é médico no CHA, endereçou uma Carta Aberta à direção do MIM, onde mostra a sua surpresa pela demissão, mas «ainda mais pelas declarações e motivos apresentados, que indicam haver uma importante clivagem sobre o entendimento das relações entre o DCMB e o CHA».
Na passada sexta-feira, a direção e Grupo Executivo do MIM apresentaram a sua demissão ao reitor da UAlg João Guerreiro, alegando que um novo protocolo que irá ser assinado entre a universidade e o CHA compromete a sua autonomia pedagógica, situação que a reitoria desmente.
«A relação institucional com o CHA é única, uma vez que grande parte do ensino clínico é realizado nas instalações e pelo corpo clínico deste centro hospitalar. É natural que, para o desenvolvimento das atividades pedagógicas entendidas como necessárias pela direção do curso, seja tido em conta a estrutura interna dos diferentes Serviços Clínicos e que, de uma forma geral, as relações sejam institucionais e não pessoais», lê-se, na carta de Paulo Caldeira.
«Por outro lado, inúmeros clínicos do CHA (entre os quais me encontro) fazem efetivamente parte do Corpo Docente do curso de medicina. Como tal, têm garantido o ensino clínico no 3º e 4º ano do curso e devem naturalmente tomar parte nas decisões pedagógicas do curso. Não devem ser entendidos apenas como colaboradores externos do DCBM e colocados à margem de desenvolvimento do curso, como muitas vezes acontece. O desconhecimento prévio da fundamentação desta decisão de Direção é apenas mais um exemplo», defendeu.
O médico do CHA lembrou ainda que algumas das recomendações feitas por uma Comissão de Avaliação Externa ao MIM «apontam claramente para a necessidade de reforço da colaboração com instituições clínicas, para a necessidade de reforço e qualificação do corpo docente clínico e para a necessidade de uma coordenação efetiva do ensino clínico».
«Julgo que, até agora, tem faltado a implementação destas medidas e isso reflete-se na qualidade do ensino», sustentou Paulo Caldeira.
O médico defende que se deixe «de lado questões menores» e se preocupe mais em implantar «as mudanças que são necessárias: reforço e qualificação do corpo docente clínico e criação de estruturas intermédias que garantam uma efetiva coordenação pedagógica do ensino clínico no CHA».