Farto de ver incêndios a destruir, em horas, o trabalho de uma vida, de muitas vidas, o presidente da Câmara de Monchique anuncia que está a ser preparado um Plano Municipal da Floresta, «com normas e regras claras».
Este plano, acrescenta Rui André, servirá para «poder apresentar a proposta, ao primeiro ministro, para que Monchique seja um caso de estudo, um projeto piloto a nível nacional de prevenção estrutural em termos de florestas».
O anúncio do autarca até foi feito há uma semana, durante a reunião semanal do Centro de Coordenação Operacional Distrital (CDOS) de Faro, que teve lugar poucas horas antes do reacendimento do incêndio que acabou por queimar, no total, na serra de Monchique e seus contrafortes, mais de 2200 hectares.
Rui André disse que, na elaboração do plano, estão envolvidas também as associações de caça e de produtores florestais, bem como outras entidades e pessoas, de modo a «promover o envolvimento da comunidade em problemas que são de todos».
Mas o autarca quer ir mais longe e, em declarações ao Sul Informação, propôs também a criação de um Observatório Florestal, que integre investigadores das universidades e outras entidades ligadas à floresta, ao ambiente e à conservação da Natureza.
O Plano Municipal da Floresta será complementado por um Regulamento das Atividades Florestais, «não focado apenas nas atividades do corte das madeiras, mas abrangendo tudo o que se pode fazer na floresta».
Tal regulamento, acrescentou o presidente da Câmara de Monchique, terá «normas e regras claras, para obrigar, por exemplo, a que as atividades de extração de madeiras sejam alvo de licenciamento municipal». «Queremos saber o que está a ser plantado, o que vai ser cortado e quando, que máquinas vão utilizar, se usam produtos perigosos, etc. Queremos saber tudo para ter uma monitorização do espaço do concelho e não para obter receitas».
Outro objetivo desse plano é promover a «criação de pontos de água, de faixas de gestão de combustível, e sensibilizar as populações, talvez através da criação de ZIF [Zonas de Intervenção Florestal, uma espécie de condomínios florestais]», acrescentou.
Rui André, que é vice-presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), entidade que reúne os 16 municípios da região, recordou que «estamos a trabalhar na AMAL com o Governo no sentido de descentralizar competências para as autarquias». «Mas tem-se apenas falado das áreas social, de educação e de saúde. Também teremos de ter novas competências na área florestal», sublinhou.
O presidente da Câmara de Monchique defende ainda é preciso travar a eucaliptização da paisagem da serra e que uma das formas de o fazer é classificar os canteiros, os socalcos agrícolas, de modo a que, por estarem abandonados, não venham a ser destruídos, com os terrenos de encosta ocupados por plantações de eucaliptos.
Em declarações ao Sul Informação, Rui André explicou melhor a sua ideia: «uma das medidas que pode ser importante para controlar um pouco a eucaliptização é classificar os canteiros de pedra seca, pois, além de valorizar esta arte que tanto caracteriza a paisagem da serra, será uma forma de valorizar a agricultura e travar a sua destruição para plantar eucaliptos».
O autarca revelou que pretende fazer uma candidatura para a valorização desses socalcos característicos das encostas da Serra de Monchique e garantiu que, «seja qual for o resultado, o que interessa será a fase de preparação da candidatura e o envolvimento e discussão sobre o assunto».
Mas, porque as coisas não podem ficar pela metade, Rui André considera que «este problema dos incêndios e da floresta não se resolve apenas neste âmbito e por isso nós temos um plano específico que estamos a implementar, de forma a criar circuitos curtos entre os produtores agrícolas e de animais, de forma a serem os restaurantes os escoadores desses produtos».
Um primeiro passo já foi dado pela Câmara de Monchique há três anos, quando foi assumido um compromisso de qualidade com os restaurantes locais, de modo a incentivá-los a consumir produtos monchiquenses.
Mas a burocracia, as regras rígidas e até a falta de um matadouro móvel têm impedido que este projeto se concretize na sua plenitude.
«Vou pedir ajuda ao Governo para implementar algumas medidas que desburocratizem os circuitos. Será, sem dúvida, um incentivo à produção», disse o autarca ao Sul Informação.
Rui André garantiu também que não irá desistir do projeto do matadouro móvel, que irá facilitar a vida dos pequenos produtores pecuários. Tendo em conta que em todo o Algarve não há matadouro, aquele equipamento irá levar «a que as pessoas possam ter animais nos terrenos agrícolas», tendo assim mais rendimento, de modo a evitar o abandono da serra.