O Motoclube de Faro exige «uma mudança radical» na dimensão do dispositivo policial afeto à Concentração Internacional de Motos e o fim do alegado «controlo repressivo» aos que nela participam, sob pena de deixar de organizar o evento.
«Sem demagogia e com muita razoabilidade na análise de todos os fatores envolvidos na realização do evento em causa, o fim da concentração é uma opção em discussão prioritária pelo Motoclube de Faro», assegurou a associação que organiza a iniciativa, numa carta aberta dirigida ao Ministro da Administração Interna, igualmente endereçada a várias entidades, entre as quais a GNR e a PSP, as duas forças cuja atuação é fortemente criticada.
Ao Sul Informação, o presidente do Motoclube de Faro José Amaro disse que a manutenção do evento passa, desde logo, por «uma mudança radical, ao nível dos meios afetados pela PSP e pela GNR, na altura da concentração, que é um aparato policial indescritível». Mas também passa por uma alteração na atitude, nomeadamente na abordagem aos motociclistas.
«Não deve haver mais nenhuma festa do país em que as pessoas são recebidas de pistola, metralhadora e shotgun», ilustrou. «É claro que achamos que a polícia tem de estar sempre presente, mas as coisas não podem ser da forma como têm sido», acrescentou José Amaro.
Em causa, aquilo que a associação farense considera ser uma perseguição aos motards, que vêm de todo o país e vários pontos da Europa para marcar presença na Concentração de Faro.
José Amaro: “Há sempre reuniões com as autoridades e com a própria Câmara”, mas “tudo o que é lá conversado, nunca passa do papel”.
«Por todo o lado há operações Stop dirigidas exclusivamente a motociclistas. Há pessoas que são mandadas parar 5 e 6 vezes. Isto acontece em todo o país. Os espanhóis, por exemplo, mal passam a Ponte do Guadiana, já estão a ser mandados parar», disse.
José Amaro lembra ainda que, no segundo dia de evento, uma sexta-feira, foi realizada uma operação e fiscalização na Praia de Faro «com polícias fortemente armados», situação que «revoltou muitos dos visitantes». «Parecia que iam para a Ucrânia. Acho que nem lá há tanta polícia na rua, apesar de estar a decorrer uma guerra», ironizou.
Contactado pelo nosso jornal, o Comando Territorial de Faro da GNR disse que recebeu a missiva, mas que não irá fazer «qualquer comentário ao teor da missiva». O Comando de Faro da PSP também não comentou, para já, a carta.
Discriminação «ostensiva» e « obsessiva» dos motociclistas pode afetar a imagem da região
O Motoclube lembra que muitos dos visitantes vêm de outros países e que estas ações de «discriminação ostensiva dos motociclistas nos dias de evento, obsessiva mesmo», prejudicam a imagem do Motoclube e da cidade de Faro. Algo que tem «grande impacto em países estrangeiros, nomeadamente em Espanha».
Na carta, o Motoclube defende que «será importante voltar a haver diálogo entre as partes interessadas e que seja definido o quanto antes o que se pretende permitir que aconteça no futuro em relação à Concentração Internacional de Motos de Faro, sob o risco de se acabar «a meca do Motociclismo», na cidade denominada “Faro, capital do Motociclismo”».
Apesar de admitir que «há sempre reuniões com as autoridades e com a própria Câmara», José Amaro não considera que haja um verdadeiro diálogo, pois «tudo o que é lá conversado, nunca passa do papel».
O presidente do Motoclube também insistiu em deixar «uma palavra à Câmara de Faro», que considera que «deve ter uma posição de mais forte em relação às forças policiais».
O Motoclube diz ser «uma associação enraizada na cidade de Faro, perfeitamente consciente da sua responsabilidade social perante a sociedade e que nunca enjeitou oportunidade de participar e contribuir para o engrandecimento da sua cidade e até da região, atendendo à colaboração que mantém com inúmeras associações e entidades públicas».
E, para que o ministro não fique com qualquer dúvida quanto a isso, anexou à carta uma (longa) lista de «dados ilustrativos do que tem sido o Motoclube», onde se incluem não só as atividades que tem promovido e os prémios que lhes foram concedidos, mas também as muitas campanhas de sensibilização e de prevenção rodoviária que tem levado a cabo.