O Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira vai abrir no próximo dia 23 de fevereiro, às 16 horas. O Núcleo, situado nas antigas instalações do BNU, na Baixa da cidade, abre com a exposição «Tavira Islâmica», cuja peça central será o curioso e raro «Vaso de Tavira».
Foram as sondagens arqueológicas, nos anos 90, num edifício destinado à implantação de uma agência bancária, frente aos Paços do Concelho, que acabaram por colocar a descoberto os vestígios de um bairro islâmico anterior à muralha da cidade de Tavira.
Depois de vários anos de escavações arqueológicas e de intervenções para reforçar a estrutura do imóvel, a criação do Núcleo Islâmico do Museu de Tavira envolve um investimento «humano, material e financeiro» da Câmara Municipal, que atinge 2,085 milhões de euros, 50% apoiados por fundos europeus (POAlgarve, Interreg) e nacionais (Promuseus).
Enquanto no rés do chão do edifício fica instalado o Posto de Turismo, nos pisos superiores do edifício ficará localizado o núcleo islâmico do Museu Municipal de Tavira, onde ficará exposta boa parte dos materiais turdetanos que foram encontrados no local e vestígios islâmicos recolhidos noutros pontos da cidade.
O «Vaso de Tavira», datado do século XI, período das Taifas, será a jóia da coroa do Núcleo Islâmico do Museu de Tavira, através do qual será contada parte da história da cidade. Esta peça cerâmica, reconhecida como fundamental para a História, pelo seu bom estado de conservação, ficará no primeiro piso do museu, bem perto do local onde foi originalmente encontrado, em 1996.
Os arqueólogos que o encontraram – o casal Manuel e Maria Maia, esta última recentemente falecida – explicaram que o vaso islâmico de Tavira deverá ter sido uma peça que foi jogada para o lixo, já que, à data, no século XI, teria perdido todo o valor para os seus proprietários.
Junto ao vaso, foi também encontrado um prato decorado em corda seca integral, além de um outro prato onde constava a fórmula islâmica «não há Deus, senão Deus / Não há Alá, senão Alá». Seriam estes dados que permitiram a datação do Vaso de Tavira, que se revelou desde logo um verdadeiro quebra-cabeças para os arqueólogos, por não haver paralelos para uma peça assim, produzida em época islâmica mas profusamente decorada com figuras humanas e animais.
O Núcleo Islâmico apostará ainda na interpretação da muralha da cidade – que estará a descoberto.
A Câmara de Tavira salienta que, a partir de agora, ficará patente ao público a componente islâmica da História de Tavira, inserida na estratégia do Museu Municipal (membro da Rede Portuguesa de Museus/IMC), um museu de território, polinucleado e multitemático.
Este museu integra já o Palácio da Galeria para divulgação do património e história Tavira e da atualidade artística, o Núcleo Museológico de Cachopo sobre a etnografia serrana, o Centro Interpretativo do Abastecimento de Água a Tavira, o Núcleo da Cooperativa de Santa Catarina sobre a produção do azeite, o Núcleo do Hotel Albacora sobre a pesca do atum e o Núcleo do Bairro Almóada da Pousada do Convento de Nossa Senhora da Graça.
O que era o Vaso de Tavira?
Existem diferenças de opinião relativamente à funcionalidade e datação do Vaso de Tavira, embora os arqueólogos que o descobriram e investigaram – Maria Maia, Manuel Maia e Cláudio Torres – considerem que se trate da representação simbólica de um rapto nupcial, servindo a peça de dote para casamento.
Estima-se que o vaso corresponda a uma produção dos finais do século XI ou inícios do século XII.