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O algarvio Jody Lot sagrou-se no passado fim de semana campeão mundial de pesca submarina, no campeonato organizado pela Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas (CMAS) e que decorreu, de 5 a 8 de julho, em Vigo, na Galiza (Espanha). Em 2º lugar ficou um atleta espanhol.

A seleção portuguesa, que integrava ainda Pedro Silva (7º) e Rui Torres (25º) alcançou também um lugar no pódio, o 2º, desta vez atrás da Espanha, mas apenas por 3%.

Neste 28º Campeonato do Mundo de Pesca Submarina, participaram ao todo 19 nações: Argélia, Brasil, Chile, Croácia, Eslovénia, Espanha, Finlândia, Grã-Bretanha, Grécia, Itália, Noruega, Peru, Portugal, Rússia, San Marino, Tahiti, Turquia, Ucrânia e USA.

Esta foi a primeira vez que um atleta português atingiu o topo numa modalidade tão exigente como a da pesca submarina, onde há potências tradicionais, como a Espanha. Mas Jody Lot, atleta da Portisub, dePortimão, não é novato nestas coisas das medalhas de ouro em campeonatos internacionais. No ano passado, em Peniche, sagrou-se campeão euro-africano, novamente à frente da armada espanhola.

Jody Lot, apesar do nome, é português de alma e coração, e fala com um sotaque bem algarvio. O facto de ser filho de uma holandesa e de um indonésio é quase um acidente. O facto é que Jody (lê-se Iódi) nasceu em Lagos e agora vive em Alvor. Um algarvio de gema, portanto!

«Eu sou algarvio e português e tenho muito orgulho disso. Aliás, até quando joga Portugal contra a Holanda, torço sempre por Portugal», garante, em entrevista ao Sul Informação.

Jody tem 30 anos e era mariscador profissional, dedicando-se a apanhar «percebe na Costa Sudoeste, lagueirão no rio [Ria de Alvor] ou bruxinhas [navalheiras]. Sempre estive ligado ao mar». Agora, com as restrições ao licenciamento dos mariscadores na Costa Sudoeste, vai trabalhando no que aparece e desenrascando-se como pode.

A pesca submarina é uma paixão de sempre. «Comecei a praticar com 7 anos», revela. Uma paixão que tem desenvolvido e aperfeiçoado e que já lhe vale não só os títulos internacionais, como o apoio financeiro do seu principal patrocinador, a Mares Pure Instinct, uma marca de material para aquele desporto.

 

Um mês de preparação em Vigo

 

Para se preparar para o Mundial em Vigo, Jody foi para a Galiza um mês antes. Para isso, angariou apoios de uma série de amigos, na sua maioria empresas de artigos ligados ao mar ou restaurantes e bares em Alvor, Lagos e Carvoeiro. «Vinte euros deste, 50 daquele, e foi assim», explica, com simplicidade,

Um mês antes foi então para Vigo, para «reconhecer os sítios, as melhores áreas para mergulhar, ver como o peixe se comporta, conhecer as correntes». A sua equipa integra ainda uma «ajuda», alguém que «conduz o barco, que sabe o mesmo que eu sei, que vê o que eu vejo na água». Neste caso, as suas ajudas foram Pedro Domingos, de Lisboa, e o Toninho. Em cada barco, segue também um fiscal.

E como é que se pontua num campeonato destes? Jody explica que todo o peixe capturado tinha que ter no mínimo um quilo, havendo uma pequena margem para falhar, sem penalização. Além disso, cada pescador só poderia apanhar até 10 peixes de uma mesma espécie. «Se apanharmos todos acima de um quilo, temos grande bonificação», acrescenta. Nas águas frias de Vigo, a espécie “mais valiosa”, a que pontuava mais, era a margota.

Em Vigo, o mais fundo que Jody mergulhou, em apneia, foi aos 25 metros! «Isso foi o mais fundo que estive, mas o grosso da minha pesca foi aos 15 metros».

Esta modalidade tem muito de aptidão, de preparação, de sabedoria, mas também tem algo de calculismo. «Disse à minha família que, se eu queria ser campeão mundial, tinha que tentar já em Vigo, onde as profundidades são de 25 metros no máximo. Em Vigo, as características são parecidas à Costa Sudoeste, com o mesmo tipo de peixe, as mesmas profundidades. Pensei: se for para ganhar, é aqui!».

Bem diferentes são, por exemplo, as provas no Mediterrâneo, «com espécies diferentes, pescas mais profundas até aos 50 metros, técnicas diferentes».

Na Galiza, as temperaturas da água do mar estiveram entre os 13 e os 18ºC. «Às vezes era 18º cá em cima, mas lá em baixo gelada, gelada».

No próximo ano, Jody Lot espera conseguir qualificar-se para o Campeonato Europeu na Finlândia, com condições bem diferentes, e águas entre os 12 e os 15ºC. Como se resiste ao frio? «Com fatos mais grossos, luvas e meias mais grossas», explica. Uma oportunidade de testar as potencialidades dos equipamentos que o patrocinam.

Aspeto que o atleta faz questão de sublinhar é o apoio da família. «No ano passado, os meus pais e família estiveram a apoiar-me em Peniche, mas a minha irmã estava na Holanda. Este ano, ela marcou férias e foi ela a representar a família em Vigo. E, claro, não posso esquecer a minha fã nº1, que é a minha namorada, a Isabel, que está sempre presente».

 

Capacidade física e sabedoria

 

Além das capacidades físicas – não é toda a gente que consegue mergulhar em apneia aos 25 e mais metros de profundidade… – há ainda muito de sabedoria neste desporto marítimo. «Há o fator de maré, o vento, as correntes, a temperatura, a lua, o mês, a alga naquela altura, a cor da água. Tudo isto são coisas que uma pessoa tem de saber ler, porque são fatores que podemos usar a nosso favor», explica o atleta.

No aspeto das capacidades físicas há ainda que ter em conta as horas que cada atleta passa a mergulhar em apneia. «Numa prova de cinco horas, se for fundo, passamos 2h30 debaixo de água. Quanto mais fundo, menos estamos debaixo de água, porque precisamos de mais tempo para recuperar cá em cima».

No início da prova do Mundial em Vigo, as primeiras declarações do jovem atleta algarvio eram de esperança, mas não de euforia. «Mas depois, quando vi a pescaria dos outros, fiquei mais confiante». E acabou mesmo por ganhar a medalha de ouro mundial, a primeira para um atleta português.

«Cantar o hino de Portugal em Espanha foi muito especial!», garante Jody, com um sorriso. «Os espanhóis, onde vão, arrasam sempre na pesca submarina. Para eles, isto é um desporto-rei, entra na cultura deles. Mas agora, nestes dois últimos anos, tenho sido eu, português, a ganhar e eles em 2º lugar ou 3º. Esperemos que se mantenha».

 

Medalha de ouro individual e de prata por países

 

Jody Lot com duas das capturas da primeira jornada

A Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas (FPAS) esteve a trabalhar desde o dia 15 de junho, em Vigo, com uma comitiva de oito pessoas, composta por três atletas titulares, Jody Lot, Pedro Silva e Rui Torres, e três atletas suplentes, António Silva, Carlos Lourenço e João Peixeiro, e ainda mais dois elementos da equipa técnica, Paulo Silva (selecionador) e Paulo Moreira.

Nesta competição esteve também outro português, como Juiz Internacional do Campeonato do Mundo CMAS, Lourenço Silveira, cargo esse de grande prestígio e responsabilidade.

A prova foi composta por duas jornadas de 5 horas cada, realizada nos dias 7 e 8 de julho. No primeiro dia foi utilizada a zona da Costa da Vela, a norte de Vigo, e no segundo dia a zona mais a sul, na costa de Baiona, com ótimas condições de mar para a prática desta modalidade desportiva, praticada exclusivamente em apneia.

Neste campeonato participaram 56 atletas, nos quais se incluíam os melhores atletas atuais da atualidade, e mais de 60 embarcações maioritariamente semi-rígidas, que entusiasmaram uma assistência bastante numerosa, que incluía vários apoiantes das diferentes nacionalidades participantes, com destaque para os muitos portugueses que se deslocaram a Vigo para apoiar a sua seleção.

 

Pódio individual:

1º JODY LOT, Portugal – Medalha de Ouro

2º António Linares, Espanha – Medalha de Prata

3º Daniel Gospic, Croácia – Medalha de Bronze

 

Pódio por países:

1º – Espanha

2º – Portugal

3º – Croácia

 

 

sulinformacao

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