Diz quem convive com ele todos os dias, que é o melhor do mundo. É algarvio, mais especificamente do Barrocal, e é a mais recente raça de cão autóctone portuguesa: o Cão do Barrocal Algarvio. Se, nos dias que correm, esta raça anda nas bocas do mundo, nem sempre foi assim. Há cerca de 30 anos, existiam cerca de 30 cães abandeirados, felpudos, ou fraldados, ou seja Cães do Barrocal Algarvio. Agora, existem mais de 1500.
Há pouco mais de um mês, a 4 de fevereiro, chegou a confirmação da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária que o Cão do Barrocal Algarvio é uma raça autóctone portuguesa, a 11ª. Este é mais um capítulo da história deste cão que esteve perto da extinção no final dos anos 70, mas que, fruto do trabalho da Associação de Criadores do Cão do Barrocal Algarvio, está em franca recuperação.
Quando começou o trabalho de recuperação e reconhecimento desta raça, há cerca de 16 anos, «foi feito um levantamento de 30 cães na região. Deixaram de ser criados com a entrada de novas raças estrangeiras, a partir do 25 de Abril. Até aí, aqui, não havia mais nenhuma raça. Havia este cão, podengos, rafeiros alentejanos, mas o principal era este, até essa altura», explica José Afonso Correia, membro da associação, ao Sul Informação.
Depois, segundo Rogério Teixeira, presidente da ACCBA, «fizemos, mais ou menos, uma estrutura teórica do que é que poderia ser o cão e a sua história. Publicámos as características do cão essa foi a base de trabalho».
Estas informações foram publicadas num site na Internet, mas a possibilidade de haver uma nova raça de cão algarvia não foi bem recebida. «Quando começámos a identificar estes cães, como uma raça, as pessoas reagiram um bocado negativamente porque se questionavam que nunca ninguém tivesse visto isto, que existia aqui um cão diferente dos outros».
Antes, «as pessoas diziam que estes cães eram podengos, que tínhamos inventado uma raça, mas não. Este cão já estava cá, porque quando me ofereceram um primeiro casal de cães, eu tinha 18 anos. Tenho 62, já. Há 44 anos. Quem me deu esses cães, disse-me que era uma raça que já pertencia ao avô. Comecei a ver que já era um cão muito antigo. Comecei a falar com o Rogério e disse-lhe que se podia fazer o teste de ADN, porque ia ser diferente de tudo o resto», lembra José Afonso.
E as suspeitas confirmaram-se há quatro anos, depois de um estudo feito pela Universidade de Lisboa, que confirmou que o Cão do Barrocal Algarvio tinha uma estrutura de ADN diferenciada.
Diferentes também eram os nomes pelos quais era conhecido este cão no Barrocal algarvio. «Antes de adotarmos o nome de Cão do Barrocal Algarvio, tinha vários nomes. Podia ser chamado abandeirado, por causa da “bandeira” que tem no rabo, fraldado porque ali nas pernas de trás tem aquelas “fraldas”… Bastava andar uns 10 ou 15 quilómetros e o nome mudava. Cada um chamava aquilo que que achava mais engraçado», lembra José Afonso Correia .
Também as utilizações dadas ao “abandeirado”, “felpudo”, ou “fraldado” eram variadas. «Na realidade, é um cão de caça. É um cão muito enérgico, com uma resistência muito diferente a qualquer outro. Apesar de não ser propriamente um cão de guarda, também se utilizava para isso. É um cão que alerta logo quando há alguém perto da casa. Além disso, era um cão de companhia. Os donos iam para as terras colher as suas alfarrobas, amêndoas… e o cão estava sempre presente lá, acompanhando-os. É um cão dócil, é um cão muito meigo. É um cão espetacular!», considera José Afonso Correia.
O entusiasmo de José Afonso Correia em relação ao Cão do Barrocal Algarvio levou-o a desfazer-se de praticamente todos os cães que tinha de raças importadas e começou a levá-lo para a caça e a distribuir cães, sendo que, já terá criado e distribuído, mais de mil.
O esquecimento a que o Cão do Barrocal Algarvio esteve sujeito parece, por agora, estar ultrapassado, porque todos falam dele.
«Tem havido muita procura mas, até agora, nunca se comercializou nenhum cão. A preocupação foi incrementar a raça. Mas, a partir de agora, se calhar, abre-se um horizonte que possibilitará vendas. Mas esse nunca foi um objetivo. Enquanto fizemos tudo isto, nunca tivemos ajudas monetárias de nenhuma entidade, porque não existe para a canicultura. Sendo um património cultural de uma região não se compreende», lamenta Rogério Teixeira.
«Há doze anos que andamos “a colocar a boca no trombone” em relação ao cão, mas só mais aqueles que viam o cão caçar é que tinham interesse. Agora, já se generalizou», conclui Rogério Teixeira.
O Algarve tem agora, oficialmente, aquele que José Afonso Correia considera, sem dúvidas, «o melhor cão do mundo para caçar».