«Se em 2015 tivermos um ano com interdições constantes, como em 2014 , a pesca local com a arte da ganchorra do Algarve, única no país, vai acabar», desabafou, em conversa com o Sul Informação, o presidente da Olhãopesca Miguel Cardoso.
A associação de armadores e produtores de Olhão veio esta segunda-feira a público alertar para a possibilidade da extinção da atividade da pesca com arte de ganchorra rebocada por embarcação, na sequência das muitas interdições que foram impostas à pesca de bivalves, na costa oceânica do Sotavento Algarvio, em 2014, nomeadamente a proibição da apanha de conquilha, principal espécie alvo desta frota pesqueira.
Segundo Miguel Cardoso, 2014 foi um ano especialmente duro para os donos das 51 embarcações algarvias que se dedicam a este tipo de pesca e para as suas tripulações, já que houve «interdições constantes, de forma interpolada e incerta» à apanha de diferentes espécies de bivalves, algo que «não se verificava antes».
Uma situação que fez com que aqueles que se dedicam à atividade passassem muito tempo parados. «Foram cerca de cinco meses perdidos. A conquilha esteve dois meses seguidos interdita, durante o verão, altura em que se vende mais, para não falar de outros períodos mais curtos, ao longo do ano», ilustrou Miguel Cardoso.
A tomada de posição pública surge no seguimento de nova proibição à apanha da conquilha. Neste caso, a proibição surge depois de cerca de um mês de permissão de pesca, uma situação que tem levado ao desespero os armadores, que «até já têm dificuldade em encontrar mestres e tripulantes para as embarcações, devido à incerteza».
Miguel Cardoso: “Como toda a pesca artesanal, nesta atividade ganha-se à semana. Caso não haja atividade, nem armador, nem a tripulação, ganham dinheiro”
A associação algarvia exige que as autoridades expliquem, com frontalidade, o que levou a que a apanha de bivalves, nomeadamente a conquilha, estivesse tanto tempo interdita, no ano passado, e se se tratou de uma «situação pontual» ou se está mais qualquer coisa em causa. «Acho que está na hora de nos dizerem, exatamente, o que se passa», considerou Miguel Cardoso.
«Os técnicos do IPMA dizem-nos, verbalmente, que não sabem muito bem porque é que isto acontece. Dizem que terá a ver com as condições climatéricas», disse. Justificação que não convence os armadores e a associação que a representa, que estranham que haja uma diferença tão acentuada, de um ano para o outros. «Não bate a bota com a perdigota», resume.
Até porque, garantiu, esta é «uma atividade devidamente regulamentada e organizada, tem horário de trabalho, limites de captura diários por embarcação e um defeso de 45 dias». «Nós temos feito um investimento para tornar esta atividade, que trazia bom retorno económico e criava emprego, cada vez mais sustentável. Agora, queremos saber se compensa continuar este esforço», disse Miguel Cardoso.
O Estado e a União Europeia também estão a contribuir para esse esforço, através do apoio que dão a um projecto que visa «equipar as cinquenta e uma unidades de pesca da ganchorra do sotavento Algarvio com equipamento de seguimento em tempo real durante 3 anos, cuja informação servirá para fins científicos destinados ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera, sendo esta, uma obrigação imposta pelo Estado Português».
Este projeto de 120 mil euros está a ser co-financiado pela UE e pelo Estado Português, no âmbito do programa Promar.
Enquanto espera respostas, a Olhãopesca traça um panorama negro e vaticina «a falência das embarcações de pesca com ganchorra», caso nada mude.
«Como toda a pesca artesanal, nesta atividade ganha-se à semana. Caso não haja atividade, nem armador, nem a tripulação, ganham dinheiro. Veja lá como é ter a pesca interdita por mais de um mês, para mais sem nunca se saber como será amanhã?», questionou Miguel Cardoso.