O Festival Terras Sem Sombra encerra, no dia 23 de junho, às 21h30, o seu ciclo de seis concertos, na Basílica Real de Castro Verde, monumento do tempo de D. João V, famoso pelas excelentes condições acústicas.
A estreia moderna, a nível mundial, de “La Betulia Liberata”, escrita por volta de 1773 pelo compositor e violinista italiano Gaetano Pugnani, será interpretada pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a direção do maestro Donato Renzetti, considerado um dos principais diretores de orquestra da atualidade.
A partitura da oratória, em dois atos, para solista, coro e orquestra, até agora adormecida na Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, foi recuperada por iniciativa do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, entidade organizadora do Festival Terras Sem Sombra.
José António Falcão, diretor-geral do projeto, sublinha que “esta estreia põe em evidência o esforço feito pelo Festival para recuperar o nosso património musicológico, neste caso um manuscrito precioso do antigo Palácio Real; está em causa o resgate de uma parte muito significativa da nossa história e da própria cultura europeia”.
O último concerto do Terras sem Sombra em 2012 reveste-se de elevadas expetativas, já que esta estreia mundial leva a palco algumas das melhores figuras no panorama vocal não só ibérico, mas também europeu: Raquel Alão (soprano), Carmen Romeu (soprano), Mikeldi Atxalandabaso (tenor), Marifé Nogales (mezzosoprano), Mário João Alves (tenor) e Luís Rodrigues (barítono).
Um elevado nível artístico concebido por Paolo Pinamonti, diretor artístico do Festival, que escolheu o maestro Donatto Renzitti para dirigir a Orquestra Sinfónica Portuguesa num concerto de excecional virtuosismo, seguido já com atenção pela crítica internacional.
A Castro Verde virão, de resto, alguns dos especialistas mundiais no campo operático, interessados em conhecer esta “première”.
Compositor da corte de Turim, Gaetano Pugnani (1731-1798) cedo começou a demonstrar os seus dotes artísticos, quando logo aos 10 anos de idade, era já segundo violino da orquestra do Teatro Régio de Turim.
Desenvolveu uma carreira muito assinalável como compositor e intérprete solista internacional, interpretando os seus próprios concertos; foi ainda diretor de orquestra no King’s Theatre, em Londres, onde estreou a sua primeira ópera.
Contemporâneo de Mozart, embora um pouco mais velho, gozou da estima deste e de outros grandes compositores da época, sendo muito conhecido e muito apreciado nos meios musicais.
Esta fama perdurou intacta até aos nossos dias, o que faz dele uma referência da ópera barroca.
A oratória “La Betulia liberata” é dedicada à rainha D. Maria I. Para escrevê-la, Pugnani recorreu a um célebre libretto de Pietro Metastasio, encomendado pelo imperador Carlos VI e inspirado na história de Judite, a heroína de Betúlia, que consta do “Livro de Judite”, um dos livros históricos do Antigo Testamento, escrito no séc. II a. C.
Trata-se de um argumento que, ao longo dos séculos, devido ao dramatismo da sua narrativa, inspirou inúmeros artistas, tanto na vertente musical e dramática como no domínio da escultura e da pintura, tecendo uma crítica à tirania das grandes sobre as pequenas potências e enaltecendo a coragem dos patriotas que se mantêm fiéis aos valores do humanismo.
Será em ambiente de estreia festiva, pois, que Castro Verde fecha, com chave de ouro, a oitava edição do Terras Sem Sombra.
Uma iniciativa que, como assinala José António Falcão, em jeito de balanço, “foi acolhida com um entusiasmo transbordante por parte da comunidade, que se estende às atividades direcionadas para o conhecimento do património histórico-cultural, da paisagem e dos recursos locais, sem esquecer a conservação da biodiversidade. O triângulo música-património-biodiversidade revelou-se uma aposta em cheio no alvo pretendido: a dinamização do mundo rural e dos centros históricos no Alentejo”.
Paolo Pinamonti, entretanto, já está a ultimar o programa de mais uma edição do Festival, que terá como novidade, entre outras, um reajuste da sua geografia, de modo a poder contemplar novas localidades do nosso território.