A Passagem de Nível para peões que a REFER encerrou no dia 30 de setembro, junto à Estação de Olhão, foi reaberta de ontem para hoje, sábado, durante a noite, por pessoa(s) não identificada(s).
Esta manhã, as mais de 200 pessoas que aderiram ao protesto convocado pela Câmara e Junta de Freguesia de Olhão encontraram a rede que tinha sido colocada há cerca de duas semanas cortada e arrancada, e a maioria não escondeu a sua satisfação.
«Acho bem o que aqui fizeram e dou muito valor a quem o fez! Foram valentes os que fizeram isso. Porque foi prometido, desde o início, que assim que a polícia se afastasse daqui, isto ia acontecer. E, se a seguir, fizerem uma parede, como dizem que vão fazer, também vimos cá parti-la. A linha é da REFER, mas Olhão é nosso. E nós temos de lutar por aquilo que é nosso», ilustrava a olhanense Maria Vitória, secundada por frases de apoio de outros populares.
A visão desta habitante de Olhão, que passa no local «muitas vezes», era repetida nas conversas que se ouviam, entre os manifestantes e atirada pelas centenas de transeuntes, que não demoraram a retomar o velho hábito de passar a linha por cima, e não pelo túnel que liga as Avenidas da República e Bernardino da Silva, a alternativa que existia.
«No outro dia, tive de ajudar uma senhora que vinha no túnel, de cadeira de rodas e, quando cheguei cá acima, vínhamos as duas cansadas. Isto é nosso e tem que estar aberto. Nem que tenhamos de nos colocar no meio da linha. Ou matam a população, ou não passam comboios», disse, com paixão, Maria Vitória.
A REFER justificou o fecho desta Passagem de Nível com razões de segurança, mas a população diz sentir-se mais insegura no túnel. «Todos os dias tenho de passar aqui de manhã, às 6h20, para apanhar o comboio, e tenho medo. Nas escadas não há luz. E, quando chover, como é que eu consigo passar ali?», questionava, por seu lado, Custódia Arsénio.
Estes e outros argumentos, que apenas um dia antes seriam, provavelmente, gritados como palavras de ordem, foram hoje avançados com serenidade. A reabertura, que se adivinha temporária, da Passagem de Nível, não impediu que se ouvissem muitas críticas à REFER, mas ditas, agora, em tom de desafio.
Apesar de permitir a circulação, a passagem deixou de ter as condições que tinha, antes do seu fecho. A REFER destruiu a rampa que ali existia, as guardas de metal e retirou as traves que permitiam a circulação a cadeiras de rodas e carrinhos de bebé. «Agora é que isto está perigoso», comentavam alguns populares, ao passar.
Apesar disso, não se encontrava polícia no local, embora a PSP tenha passado as últimas semanas a patrulhar, em permanência, a zona.
Resta saber o que fará, agora, a REFER. Segundo o presidente da Câmara de Olhão António Pina, apesar de a empresa que gere as infraestruturas ferroviárias em Portugal ter mostrado, recentemente, abertura para encontrar uma solução melhor que a passagem pelo túnel, em parceria com a autarquia, «não querem que passe pela reabertura da Passagem de Nível».
O autarca revelou que a autarquia sempre defendeu que a passagem se mantivesse aberta e sugeriu que poderiam «ser elevados os níveis de segurança, com um pequeno investimento, para perto de cem por cento», através da colocação de «sinais sonoros, luminosos e até uma cancela». «Aliás, existe uma passagem com estes elementos a um quilómetro daqui», disse.
Uma solução que a REFER descartou, defendendo, ao invés, que fosse intervencionado o túnel, de modo a elevar a passagem para peões, diminuindo o declive.
Este braço de ferro com a autarquia teve um primeiro momento «em 2010», altura em que a REFER, perante o desacordo da autarquia, não avançou com a decisão. «No dia 2 de setembro, voltaram a contactar-nos, dizendo que tinham a intenção de fechar a passagem. Tivemos uma reunião com a REFER no dia 11, onde demonstramos o nosso desagrado. Entretanto, levámos a questão a Reunião de Câmara, onde se chegou a um consenso alargado contra o fecho da passagem», descreveu.
Mas a REFER não «deu o mínimo tempo» e fechou a passagem «unilateralmente». «Dizem que não respondemos em tempo útil, como se uma semana fosse um período assim tão dilatado», considerou António Pina.
«Esta linha está cá há cem anos e os olhanenses aprenderam a conviver com ela. Nunca foi um problema. Agora, há umas cabeças iluminadas na REFER que resolveram encontrar um problema. Tinhamos um bom nível de segurança e os registos demonstram que, pelo menos nos últimos cinco anos, não houve aqui acidentes», ilustrou.
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