A prosa é de Paulo Pires, mas as reflexões sobre cultura e as histórias que se podem ler no livro “Escrytos”, apresentado na quint5a-feira, dia 15 de Junho, em São Brás de Alportel, também são de outras pessoas: daqueles com quem o programador cultural algarvio conversou e debateu vários temas, ao longo dos anos, dos que com ele trabalharam e de pessoas que lhe contaram histórias que o marcaram para a vida.
Conhecido pela sua carreira de programador cultural, sendo atualmente o responsável pelo Cine-Teatro Louletano, Paulo Pires tem, também a paixão pela escrita. Um gosto que, segundo o autor, foi ganho em (então) penosas tardes de Verão, na sua infância, em que a mãe o obrigava a ficar em casa a escrever letras e a ler. A origem são-brasense do autor depressa veio ao de cima, não só no rememorar da infância ali passada, mas também nos agradecimentos que Paulo Pires dirigiu ao pai, presente na sessão.
A vida do programador cultural algarvio acabou por se desenvolver em muitos outros locais – Lisboa, Silves e, agora, Loulé. E foi nestas “deambulações” que foi fazendo as reflexões que, mais tarde, colocou no papel – «sinto a necessidade de escrever os meus pensamentos, para os organizar», ilustrou – e que foram publicados ao longo dos anos em jornais e noutros suportes.
«Este livro é uma compilação de textos que eu fui escrevendo entre 2013 e 2017. São sobretudo crónicas, mas também alguns textos ensaísticos, que têm, por um lado, a ver com preferências minhas: livros que li, espetáculos que vi, pessoas com quem privei, que me deram testemunhos importantes sobre, por exemplo, as relações de José Afonso, Amália Rodrigues e Sophia de Mello Breyner com o Algarve. Depois, há uma série de textos sobre artes performativas e também sobre o meu trabalho, a minha área, que é a da programação cultural», resumiu Paulo Pires em declarações ao Sul Informação, à margem da apresentação de “Escrytos”.
Neste último campo, o autor reflete sobre questões como «a forma de trabalhar os públicos, qual o tipo de programação mais adequada para cada lugar, como se capta públicos e a questão das minorias». No livro também têm lugar temas como a educação e a sociedade, em textos que «por vezes têm um certo pendor sociológico e, noutras, uma dimensão poética».
No seu regresso a casa, Paulo Pires foi recebido por muitos amigos, numa sessão muito participada, promovida com o apoio da Câmara de São Brás de Alportel no renovado Largo de São Sebastião, onde não faltou um momento musical, garantido pelo são-brasense Ricardo Martins, mestre na guitarra portuguesa. Alguns dos que estiveram presentes estão, de resto, intimamente ligados à sua obra, garantiu o autor.
«Este livro não é só meu, é também de todas as pessoas com as quais fui privando ao longo dos anos e com quem debati muitas das ideias que estão nos textos. Pessoas com quem conversei, com quem também trabalhei, como a Dália Paulo [até há pouco tempo diretora do Departamento de Coesão e Desenvolvimento da Câmara de Loulé] e a Maria José Mackaaij, da Biblioteca de Silves, onde estive sete anos», considerou.
No fundo, Paulo Pires procurou «produzir pensamento e deixá-lo escrito», algo que considera «muito importante». «Muitas vezes, falamos destas coisas entre nós e não fica nada escrito. Acho muito importante passar estes pensamentos para o registo escrito, para que mais tarde as pessoas possam ler e refletir. Temos de ter aqui alguma base teórica para o que nós andamos a fazer, na prática», defendeu.
O livro “Escrytos” vai estar à venda nas principais livrarias e também pode ser adquirido na Câmara de São Brás de Alportel. A obra foi editada por João Paulo Cotrim, fundador da editora Abysmo, facto que Paulo Pires salienta. «É um editor que eu respeito muito, pois sei que faz edições muito criteriosas», disse.
O editor esteve na sessão, bem como Ana Isabel Santos, que apresentou o livro, e o presidente da Câmara de São Brás de Alportel Vítor Guerreiro.
Veja as fotos da apresentação do livro Escrytos: