A Petição Pública «pela preservação da integridade da Fábrica do Inglês/Museu da Cortiça de Silves como valor cultural industrial/corticeiro», a ser enviada à presidente da Assembleia da República e promovida pela Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, já recolheu até agora 620 assinaturas.
A petição sublinha que «o atual proprietário não garante a manutenção do espólio museológico no seu lugar de origem», «nem a pode garantir não sendo proprietário do imóvel» do Museu, pelo que pode vir a ocorrer uma «deslocação» desse espólio, «que lhe retiraria a maior parte do seu valor patrimonial».
O texto salienta também que «o Museu da Cortiça se constitui como um todo na fábrica em que se localiza, com parte do seu património integrado no edifício e por ele disperso, sendo, por isso, indissociável do espaço que atualmente ocupa», recordando ainda e «este Museu surgiu da vontade de conservar um património local em vias de desaparecimento e em homenagem a uma cidade de importantíssimo passado industrial/corticeiro».
Petição: Museu da Cortiça constitui-se como um todo na fábrica em que se localiza, com parte do seu património integrado no edifício e por ele disperso, sendo, por isso, indissociável do espaço que atualmente ocupa
Aliás, sublinha a Petição, foram «várias as doações feitas por cidadãos anónimos ao espólio museológico, confiantes na preservação que a instituição faria da memória dos seus antepassados».
Por outro lado, a Petição considera que «a Assembleia da República, em várias ocasiões, manifestou a sua preocupação pelo destino deste importante património, designadamente através da aprovação unânime da Resolução nº 129/2010», que não teve quaisquer efeitos práticos.
Além disso, frisa o texto, trata-se de um momento em que «Portugal – o maior produtor de cortiça a nível mundial – busca novas formas de promoção externa, parcerias e mercados com o objetivo de um significativo e sustentado desenvolvimento económico».
Por isso, os signatários pretendem «que os senhores deputados da República manifestem junto dos atuais proprietários e dos membros do governo, nesta área competentes, a preocupação pelo destino e preservação deste importante património», bem como que «usem a sua influência enquanto órgão de soberania para apoiar a candidatura do espólio móvel e integrado do Museu da Cortiça a património de interesse público, processo atualmente em curso por iniciativa da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial».
O texto da Petição Pública, que pode ser assinada online aqui ou descarregada e impressa através da página de Facebook do Museu da Cortiça de Silves, salienta que a estrutura foi inaugurada em 1999, promovendo a reabilitação do espaço arquitetónico original de uma antiga fábrica de rolhas construída em 1894, também conhecida por Fábrica do Inglês.
O projeto museológico, que incluía todo o espaço fabril, foi internacionalmente reconhecido com o prémio Luigi Micheletti para melhor museu industrial do ano em 2001.
Petição: O atual proprietário não garante a manutenção do espólio museológico no seu lugar de origem
Entre 1999 e 2009, período em que permaneceu aberto, «foi um dos mais visitados museus a nível nacional, contribuindo positivamente para a boa imagem da região algarvia e do país, numa área temática e económica – a da cortiça – que nos projeta internacionalmente e em que, justamente, reclamamos primazia».
O Museu e a antiga fábrica em que se insere (agora imóvel de interesse municipal) estão desde 2009 encerrados na sequência do processo de insolvência da sociedade proprietária.
Em 2014, este processo terminou em leilão público com a venda do imóvel “Fábrica do Inglês” à Caixa Geral de Depósitos e do espólio museológico (algum dele integrado no próprio edifício) a um grupo privado ligado ao ramo da distribuição alimentar, o Grupo Nogueira, «apesar dos esforços da Câmara Municipal de Silves em o adquirir».
Na hasta pública de 30 de Maio, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) arrematou o imóvel da Fábrica do Inglês por 2.239.600 euros, enquanto o espólio do Museu da Cortiça, que funcionava numa das alas do edifício, no qual a Câmara de Silves estava interessada, acabou por ser comprado pelo Grupo Nogueira, atual proprietário dos Supermercados Alisuper e, por essa via, também grande credor do falido Grupo Alicoop/Alisuper, que em 1999 transformou a antiga fábrica de cortiça num espaço de restauração e lazer.
No leilão, a que o Sul Informação assistiu, o espólio museológico ainda foi disputado entre a Câmara de Silves e o Grupo Nogueira, mas acabou por ser este último a fazer a licitação final, por 36 mil euros.
Em declarações ao nosso jornal, João Nogueira, administrador do Grupo Nogueira, garantiu que a sua intenção é «manter e reabrir o Museu da Cortiça o mais rapidamente possível».
Mas em Julho, em declarações ao jornal Público, o gestor foi mais longe: «Queremos abrir o museu ali ou noutro lado».
Ora, esta possibilidade de mudar a coleção de peças e documentos do museu para outra localização deixou os museólogos e defensores do património em choque. «Não se pode construir este Museu da Cortiça noutro lado senão onde ele está».
Trata-se de património industrial integrado, que tanto inclui o espólio como o edifício em si. Qualquer remoção das peças deste local é destruição», explicou Jorge Custódio, presidente do APAI ao Sul Informação, à margem de uma concentração promovida à porta da Fábrica do Inglês, em Silves, a 19 de Julho.