O caso do Porto de Portimão é um dos temas do livro «Abordagem Multidisciplinar dos Cruzeiros Turísticos» lançado esta quinta-feira a bordo do navio de cruzeiros norueguês «Boudicca», da companhia Fred Olsen Cruise Lines, que hoje acostou na cidade algarvia.
E não admira que Portimão –cujo porto até foi escolhido como tema da foto de capa – motive esta atenção: é que, de 2007 a 2011, o turismo de cruzeiros subiu 600% no porto algarvio, o que constitui uma das melhores performances do setor.
Este é o primeiro livro editado em língua portuguesa sobre o tema, reunindo os contributos, em diversas áreas, de especialistas de universidades portuguesas, brasileiras, argentinas e norte-americanas.
Nina Cardona, uma das autoras da obra, salientou, na apresentação, que há, na Europa, «uma carência enorme de material científico sobre cruzeiros», apesar do crescimento que o setor tem registado. «A maior parte da investigação e reflexão sobre este tema é norte-americana, mas esse é um mercado muito diferente do europeu», acrescentou.
Ericka Amorim, outra das autoras, por seu lado, reforçou que se trata de um «livro pioneiro em Portugal. Mesmo no Brasil não há muitas referências na área do turismo de cruzeiros». Mas a obra e a abordagem que propõe – falando sobre casos específicos portugueses (Portimão e turismo fluvial no Douro) e o caso do Brasil, bem como sobre lazer e entretenimento, gastronomia e ainda segurança nos cruzeiros – já levou a que surgissem propostas para a sua tradução.
Luís Carito, vice-presidente da Câmara de Portimão, salientou que o «turismo de cruzeiros é uma área que tem vindo a crescer exponencialmente nos últimos anos e que tem todas as condições para continuar a crescer».
Tendo em conta que cada passageiro de cruzeiros gasta em média 60 euros por dia na zona onde está atracado, o que, no Algarve, poderá gerar «2,7 milhões de euros por ano», Carito sublinhou o «enorme impacto económico» deste setor não só em Portimão, como no resto da região.
Daí, explicou, a «forte aposta que a Câmara tem vindo a fazer na divulgação do porto de Portimão, embora nem seja competência nossa, mas da administração central através do IPTM».
«Trata-se de uma área em desenvolvimento que tem que continuar a ser aposta forte dos governos», embora «infelizmente, os governos nem sempre olhem para esta região como deveria ser», acrescentou Luís Carito.
Exemplo dessa desatenção é a falta de um rebocador no Porto de Portimão, como apoio ao turismo de cruzeiros e não só, as obras adiadas de dragagem do canal e da bacia de manobra do porto à cota -10, ou ainda a falta de investimento nas condições de acessibilidade do porto.
O autarca recordou que a Câmara de Portimão fez um projeto para um novo terminal do porto, que candidatou a verbas do QREN. «Mas as verbas do QREN diminuíram e agora não há condições para financiar o projeto. Por isso terá de ser o Governo a assumir esse investimento».
«Com estas obras, facilmente atingiríamos, em Portimão, os 100 mil passageiros por ano», o que geraria «um impacto para a região de cerca de seis milhões de euros por ano. Isto é algo para que os Governos têm que olhar!».
No mesmo sentido se pronunciou Diamantino Silva, diretor dos escritórios em Portimão da empresa Wilhelmsen Ships Service, agente de navegação responsável por todo o apoio às escalas dos navios da companhia Fred Olsen Cruise Lines.
«Portimão é, potencialmente, um porto que se pode desenvolver exponencialmente, porque está na entrada e saída do Mediterrâneo e conta com abertura às linhas transoceânicas. Para mais, Portimão localiza-se numa região turística que já de si é conhecida, o Algarve. Por isso, não tenho problemas em dizer que Portimão pode ser o grande porto do Sul da Europa», garantiu Diamantino Silva, em declarações ao Sul Informação.
Júlio Mendes, da Universidade do Algarve, co-autor, com Nuno Silva, de um dos artigos científicos do livro, sublinhou que o Porto de Portimão é «a porta de entrada dos turistas de cruzeiros no Algarve. Há que fazer desta porta um grande portal, não só de Portimão mas de todo o Algarve».
Júlio Mendes, em declarações ao Sul Informação, considerou mesmo que, «em termos de porta de entrada de turistas, o Porto de Portimão está ao nível do Aeroporto de Faro».
«É preciso que as pessoas tenham consciência que são duas portas de entrada estratégicas do destino turístico Algarve». Por isso, salientou o professor universitário, «o que se faz para uma, devia fazer-se para outra», referindo-se à falta de investimento na melhoria das condições do Porto de Portimão, enquanto o Aeroporto de Faro está a ser alvo de investimentos avultados.
A apresentação do livro teve lugar numa das salas do navio de cruzeiros «Boudicca», atracado em Portimão. Das janelas podia ver-se o edifício pequeno e sem grandes condições do terminal de passageiros, bem como o descampado sem graça nem ordenamento que rodeia o porto e as ruínas do Convento de S. Francisco. Um enquadramento pouco digno daquele que se está a tornar um grande porto de cruzeiros no Sul da Europa.
Apesar disso, e embora o dia estivesse cinzento, de chuva, o comandante Magnus Rodburg fez questão de elogiar as condições do porto e da cidade. Num jeito bem humorado, o comandante do «Boudicca» disse que Portimão é «um belo sítio para me reformar».
Luís Monteiro, da Portimão Urbis, salientou que a Fred Olsen Cruise Lines é «das companhias mais frequentes no Porto de Portimão». E o comandante rematou, com uma gargalhada, que espera continuar a voltar «nos próximos 100 anos».
Breve resumo dos capítulos do livro “Abordagem Multidisciplinar dos Cruzeiros Turísticos”:
Capítulo 1 – As autoras Cyntia Andrade e Margaret Hart apresentam a contextualização do mercado de cruzeiros, suas origens e evolução, e a relação de sustentabilidade entre o navio e o destino. O artigo aborda ainda a tendência das viagens temáticas como fator de diversificação e inovação do sector de turismo de cruzeiros.
Capítulo 2- O autor Marco Avila analisa a importância da animação turística nas viagens de cruzeiros, assim como a importância das atividades de lazer e entretenimento em um navio, refletindo sobre a estrutura física, os objetivos, a organização e o planeamento do Setor de Lazer e Recreação, bem como sobre o perfil dos profissionais que atuam nesse setor.
Capítulo 3 – As autoras Ericka Amorim, Cyntia Andrade e Nina Cardona dedicam-se aos cruzeiros fluviais, em especial no Rio Douro, explorando o tema turismo e desenvolvimento local, e discutindo os impactos aplicados à nova realidade dos cruzeiros nas regiões visitadas.
Capítulo 4 – As autoras Claudia Soares, Ana Paula Cunha de Oliveira, Maria de Fátima Salgado e Natália Pacheco Júnior apresentam o aumento do mercado de Cruzeiro marítimo no Brasil e destacam a visão empreendedora e inovadora e a quebra de paradigma na busca por popularizar o produto cruzeiro para a população da classe C de consumo brasileiro.
Capítulo 5 – As autoras Valéria Mariotti e Regina Schlüter destacam o papel da gastronomia nos cruzeiros turísticos e a experiência gastronómica em uma viagem, como uma forma de também conhecer um lugar. Os turistas que viajam para comer constituem uma tendência forte no mercado atual e os cruzeiros adotam essa questão como força para o prazer na viagem quando apresentam cruzeiros gastronómicos.
Capítulo 6 – O autor Peter Tarlow aborda a segurança dos cruzeiros e algumas abordagens sociológicas acerca da segurança e o turismo de cruzeiros. O autor analisa uma série de fatores que podem comprometer a segurança em uma viagem e como são tratados os
incidentes que podem ocorrer em alto mar.
Capítulo 7 – Os autores Júlio Mendes e Nuno Silva contextualizam a indústria do turismo, através de sua história, adotando como caso especial o porto de Portimão, o crescimento do setor na região sul de Portugal e sua posição no competitivo mercado europeu.
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