Os dois primeiros linces-ibéricos criados em cativeiro a serem reintroduzidos em Portugal deverão ser libertados no dia 16 de Dezembro, no vale do Guadiana, no concelho de Mértola, noticia hoje o jornal Público.
Os dois animais, da espécie Lynx pardinus, começarão por ser largados numa grande área cercada, com dois hectares, onde permanecerão durante algumas semanas, sob monitorização dos técnicos. Só quando os técnicos estiverem seguros que os linces estão completamente adaptados à vida selvagem é que os dois animais serão soltos na natureza.
Ao todo, prevê-se a libertação, em território nacional, de um total de oito linces, dos que têm estado a ser criados em cativeiro no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI), instalado na serra de Silves, que faz parte de um vasto programa de medidas de minimização, compensação e sobrecompensação ambiental exigidas pela Comissão Europeia devido à construção da Barragem de Odelouca.
O Lynx pardinus é uma espécie endémica da Península Ibérica, ou seja, que só existe em Portugal e Espanha. Mas a sua população foi diminuindo perigosamente ao longo do século XX, de tal forma que, no início da década passada, só restava pouco mais de uma centena de linces em Espanha e quase nenhum em Portugal.
Daí que a espécie seja considerada em “perigo crítico” de extinção, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza.
Até agoira, no âmbito dos esforços em Espanha e Portugal para a criação de animais em cativeiro para posterior reintrodução no mundo selvagem, já foram libertados animais criados nos centros de ambos os países em território espanhol. Mas esta será a primeira vez que a libertação na natureza será tentada em terras portuguesas.
Resolvidas que parecem estar as questões técnicas da reprodução de lince-ibérico em cativeiro, para que esta espécie possa ser reintroduzida com sucesso no meio natural há que assegurar que tem alimento suficiente, entre outras condições.
Só que o lince tem como principal e quase exclusivo alimento o coelho-bravo, que tem sido afetado nos últimos anos por doenças, nomeadamente uma variante da doença hemorrágica viral, que provocou drástica redução da população de coelho nos últimos anos. Ora, sem coelhos, não há hipótese de os linces sobreviverem.
Esta situação levou as associações ambientalistas portuguesas, nomeadamente a Liga para a Proteção da Natureza (LPN) e a Quercus, a questionar o Ministério do Ambiente sobre os riscos envolvidos na reintrodução da espécie.
Em Março deste ano, a LPN manifestava-se preocupada, nomeadamente, com «a densidade de coelho-bravo (principal presa do lince-ibérico), riscos de mortalidade de origem humana, patologias de lince-ibérico, aceitação da reintrodução por parte da sociedade» e a falta de «protocolos de colaboração com agentes locais».
A reintrodução estava prevista para Janeiro ou Fevereiro, mas foi agora antecipada para Dezembro. E há quem continue a recear que tudo não passe de fogo de vista.