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Designers com as mãos na massa no Loulé Criativo

Produtos mais genuinamente louletanos seriam difíceis de imaginar. Senão vejamos: três designers de Loulé vão trabalhar em conjunto com nove artesãos do concelho, com matérias primas locais, para idealizar produtos diferenciados e adaptados ao mundo moderno, feitos segundo as tradições milenares deste território.

A residência criativa «Designers de Loulé» já está a decorrer, o que é o mesmo que dizer que as ideias já fervilham, em diferentes pontos do concelho de Loulé. Nesta iniciativa do Loulé Criativo, os espaços de criação são as oficinas e ateliers dos diferentes artesãos envolvidos, para além das mentes de Henrique Ralheta, Hugo Silva e Vanessa Domingos, os três criativos desafiados pela Câmara de Loulé a regressar às origens e dar largas à sua imaginação.

O Sul Informação foi ao encontro dos três designers numa das saídas de campo preparatórias, ou «de absorção», que efetuaram ao longo da passada semana, cujo objetivo foi conhecer de perto os artesãos envolvidos e o trabalho que desenvolvem. O contacto entre criativos e artesãos durou, em todos os casos, várias horas.

Esta interação foi fundamental para o processo que está, neste momento, a decorrer. «Estas visitas têm duas dimensões. Por um lado, o contacto com os materiais e as técnicas. Mas são também uma forma de reavivar as nossas memórias. Queremos muito integrar a cultura local, os saberes tradicionais, questões ligadas ao património e história, antropologia e etnografia. É algo muito, muito ambicioso», explicou ao Sul Informação Henrique Ralheta, o curador da residência criativa.

Segundo o designer louletano, que trabalha atualmente para uma grande empresa da área em Lisboa, a ideia do périplo feito na passada semana, que passou em diferentes freguesias do concelho de Loulé, foi «uma abordagem genérica a tudo isto». Um processo que pode ser determinante para o resultado final da residência.

 

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Foto de Jorge Graça/Loulé Criativo

«Estamos a trabalhar com os artesãos para perceber as técnicas e os procedimentos, as oportunidades, mas também aquilo que é negativo, para ver se nós podemos agir e contribuir para melhorar as coisas», explicou Henrique Ralheta.

Desta forma, «quando começarem a sair ideias, poderão ser coisas mais consequentes, e não apenas uma forma bonita ou o introduzir de um lado mais utilitário à coisa». «Queremos ir à raiz do problema e fazer um trabalho mais integrado e consequente», assegurou.

Oportunidades para aprender e contactar com conhecimentos bem antigos, em diferentes áreas, não faltaram. Os três designers estiveram com ferreiros, com caldeireiros, com cesteiros, oleiros e com artesãos que trabalham madeira, cabedal, empreita e lã, bem como com a Fábrica da Amêndoa, de doçaria regional. A gastronomia e o uso dos produtos também foram focados numa visita ao Moinho Ti Casinha, onde Maria de Jesus contou a história e explicou o uso dos produtos tradicionais na cozinha algarvia.

Depois da jornada da passada semana, os designers deram largas ao processo criativo e pensaram em propostas especificas. Ao longo desta semana, cada qual irá trabalhar com um máximo de quatro artesãos, para testar conceitos e procurar deixar algum legado para o futuro.

 

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Foto de Jorge Graça/Loulé Criativo

 

Marco é um jovem ferreiro e não quer ser o único

Marco Cristovam, ferreiro, é o mais jovem artesão envolvido na residência, juntando-se a Analide Carmo e Francisco Dias (caldeireiros), Cremilde Sousa (artesã da empreita), Fernando Henriques (artesão da madeira), Fernando Zuninga (artesão do cabedal), José Amendoeira (cesteiro), Manoli Ortiz de La Torre (artesã da lã), Odete Rocha (artesã da empreita) e Pedro Piedade (oleiro).

A história de Marco, que hoje vive numa zona de Barrocal, na zona do Parragil, em Loulé, é de perseverança e paixão por uma arte tradicional, numa altura em que muitos poucos jovens enveredam por este caminho. Apesar de ter apenas 39 anos, já é bem experiente, uma vez que se “insinuou” como aprendiz de ferreiro antes dos 20 anos e dedica-se a esta ofício desde então.

«Esta paixão surgiu-me após ter visto uma exposição de dois ferreiros estrangeiros, aqui em Loulé, já há 20 anos. Um era escocês e o outro inglês e juntaram-se para formar uma empresa. Quando começaram, houve dois ou três aprendizes portugueses que por lá passaram, mas que acabaram por desistir. Este trabalho, ou amas, ou odeias», recordou.

Entusiasmado com o que tinha visto na mostra, Marco Cristovam abordou os dois ferreiros e insistiu com eles até que o aceitaram como aprendiz. «Estive lá cinco anos. Depois, acabei por emigrar para a Alemanha. No centro da Europa a comunidades dos ferreiros é pequena e toda a gente se conhece, o que me permitiu ter outras experiências e poder avaliar a minha própria progressão. Há sete anos voltei e desde há 3 anos que me dedico exclusivamente a isto», contou.

Marco foi, durante muito tempo, o mais jovem ferreiro registado em Portugal, e não tem muitos congéneres com quem trocar conhecimentos, em Portugal. Daí que valorize muito a participação em iniciativas como o «Designers de Loulé».

Marco Cristovam

«A interação com designers traz sempre algo de novo, porque dá continuidade à exploração, que é aquilo que eu faço. Eu não tenho todo o conhecimento, pelo que a interação com os outros é muito importante. É muito saudável, porque acabo por ter objetivos só meus e tenho de desenvolver o meu trabalho em função dos objetivos dos designers, o que é um desafio a título pessoal», ilustrou Marco Cristovam.

E isto é válido, também, para o contacto com outros artesãos, proporcionado não só por esta residência criativa, mas também pela «Makers Meal», iniciativa que também foi realizada no âmbito do Loulé Criativo e na qual Marco e muitos dos artesãos envolvidos na «Designers de Loulé» participaram.

«É positivo conhecer-nos uns aos outros. Estas são artes que tendem a desaparecer, se não houver esta interação. Desta forma, trazemos à luz do dia e ao conhecimento do público em geral artes que podem desaparecer se não lhe dermos atenção. E todos temos algo em comum, que é um legado que não queremos ver extinguir», ilustrou o ferreiro louletano.

«Quanto mais divulgarmos, mais pessoas vão estar atentas, vão querer desenvolver conhecimentos e acabarão por vir ter connosco pela importância que sentem que esse legado tem. Nós não queremos deixar isto morrer», concluiu Marco Cristovam.

Este é, também, o principal objetivo da residência criativa que agora decorre em Loulé. Os resultados desta experiência colaborativa entre designers e artesãos vai ser conhecida no sábado, dia para a qual está marcada uma roda de empreita, que juntará diversas empreiteiras do concelho de Loulé e será aberta «aos curiosos que queiram experimentar as várias técnicas de trabalhar a palmeira-anã, um ícone da tradição artesanal deste território», segundo a Câmara de Loulé.

Na quinta-feira, às 18h00, serão apresentados os 12 novos produtos do projeto TASA – Técnicas Ancestrais, Soluções Atuais, iniciativa da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional que está a ser dinamizada pela empresa ProActiveTur, que também está envolvida na organização das residências criativas do Loulé Criativo.

 

Veja as fotos da residência criativa:

Fotos: Jorge Graça/Loulé Criativo

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