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A queda e o pego do Vigário secos, em foto de António Martins, no Facebook

A queda de água e o pego do Vigário, junto a Alte, estão secos devido ao ano quase sem chuva e não por causa de um desvio ilegal das águas. A garantia foi dada ao Sul Informação por Paulo Cruz, chefe de Divisão da Agência Portuguesa do Ambiente/ARH Algarve.

Paulo Cruz explicou que a falta de água na pequena cascata e no pego, cujas fotos têm circulado nas redes sociais nos últimos dias, causando uma onda de indignação, são «uma manifestação natural e consequência de este ser um ano mais seco».

A ribeira onde fica a Queda do Vigário é alimentada pela mesma nascente da Fonte Grande de Alte. Entre essa nascente e o pego «há algumas captações de água, pequenas captações para hortas, uma captação de reforço da Câmara de Loulé e, com licença nossa desde 2014, uma captação mais recente, de uma exploração agrícola com pomar de laranjeiras, instalada na zona da várzea».

Tem sido esta exploração agrícola a ser acusada, nas redes sociais, de estar na origem da falta de água na Queda do Vigário e respetivo pego, pondo assim em causa esta zona de lazer da aldeia de Alte. Mas o responsável da APA/ARH garante que não é bem assim.

«As nascentes de Alte são alimentadas pelo aquífero, que tem uma capacidade de armazenamento relativamente reduzida. Desde 1978 que são feitas medições do caudal, semestrais ou trimestrais, e, ao longo de toda esta série de dados, verifica-se que aquele pego já secou várias vezes, porque há grande variação do caudal, entre anos secos e chuvosos».

quedas de água do Vigário, Alte - josé alberto godinho
Queda de água e pego do Vigário com água, na Primavera – foto de José Alberto Godinho

«Ao longo da história recente e mesmo mais antiga, segundo nos dizem pessoas de mais idade, não é inédita esta situação de seca», reforça Paulo Cruz.

Esta situação de «conflito no uso da água», entre quem gostaria de ter a queda do Vigário e o pego com água, para manter a pequena zona de banhos e lazer, e o uso agrícola, para irrigar um novo laranjal plantado há pouco tempo, num investimento de largos milhares de euros financiado pelo PRODER, «é a primeira vez que nos deparamos com ela», admite aquele responsável.

De facto, disse, «a água que vai para a irrigação do pomar não continua na ribeira, ou seja, é mais um consumidor de água nesta ribeira. Devido ao período mais seco que estamos a viver, esse novo consumo deverá ter contribuído para diminuir o caudal».

«A questão que se nos coloca é se há aqui uma situação que justifica uma intervenção ou não. E que intervenção? Temos de ponderar o que está em causa. Considerando a hierarquia de usos, que nos diz que, em primeiro lugar, está o abastecimento público, em segundo, a pecuária e a agricultura com culturas permanentes, nomeadamente pomares, e só depois usos de lazer, conclui-se que, em termos de usos, não há motivo para restringir ou condicionar uma cultura agrícola para manter mais algum tempo água no pego», acrescentou Paulo Cruz.

O chefe de Divisão da APA/ARH acrescentou, nas suas declarações ao Sul Informação, que o agricultor em causa «já tinha pedido, antes de surgir esta questão, para executar um novo furo que poderá reforçar a água para rega».

A APA/ARH, organismo que supervisiona estas questões da água, foi alertada para a seca da queda e do pego do Vigário pela Junta de Freguesia de Alte, que estava ela própria a ser confrontada com reclamações.

Na segunda-feira, técnicos da APA/ARH foram ao local, para confirmar e avaliar a situação. «A meio da tarde, a queda tinha alguma água e o pego não estava completamente seco».

A queda e o pego do Vigário secos, em foto de António Martins, no Facebook
A queda e o pego do Vigário secos, em foto de António Martins, no Facebook

No entanto, admite Paulo Cruz, «este está a ser um ano seco. Estamos em meados de Julho e não se prevê que, pelo menos até Outubro, chova de modo significativo. Por isso, a situação só irá piorar na Queda do Vigário. Mesmo o caudal das restantes fontes de Alte vai ter tendência para diminuir».

Resumindo: a utilização da água para regar o pomar e as outras utilizações «contribuíram para diminuir o caudal a jusante» da Queda do Vigário, situação que, durante o Verão, «só irá piorar devido ao ano seco». A APA/ARH está a «acompanhar a situação de mais perto, face à manifestação de preocupação de várias entidades» e vai «tentar libertar caudais, mas não há a garantia que se consiga fazê-lo».

Uma coisa é certa: a APA/ARH não põe «a hipótese de anular a licença de captação de água da exploração agrícola, porque isso iria comprometer o futuro daquele investimento».

Quanto à queda e ao pego do Vigário, como muitas outras pequenas cascatas e ribeiras existentes no Algarve, que secam ou diminuem o seu caudal durante o Verão, em especial em anos secos como foi o caso, estarão de volta logo que recomece a chover. Haverá menos banhos na zona de Alte, mas, em compensação, não se deixará morrer o novo laranjal, que dá emprego e garante aproveitamento agrícola na fértil várzea.

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