A Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza suspendeu a classificação “Qualidade de Ouro”, atribuída à Praia de Dona Ana, no concelho de Lagos, por considerar que «as recentes intervenções realizadas colocam em causa o equilíbrio ambiental e paisagístico que deve nortear a atribuição deste galardão».
Estas intervenções, com um custo base de 1,8 milhões de euros, compreenderam a recarga artificial numa extensão de 40 metros, a construção de um esporão para retenção de sedimentos e a consolidação de arribas.
Segundo a Quercus, «além de alterarem significativamente a paisagem natural característica da Praia da Dona Ana, colocam em causa a conservação e a proteção de ecossistemas marinhos de elevada biodiversidade, nomeadamente a destruição de dois roteiros subaquáticos identificados pela Universidade do Algarve».
A Quercus considera que estas intervenções, devido ao seu «custo elevado» e «carácter temporário», «não se justificam».
«A segurança dos utentes não passa pela destruição da beleza paisagística das nossas praias, mas por campanhas de sensibilização e por limitar o número de utentes por praia, medida fundamental em praias de arribas instáveis, como é o caso da Praia de Dona Ana», acrescenta a associação.
Por outro lado, considera, «a crescente construção de hotéis e habitações privadas em domínio público hídrico reflete o deficiente ordenamento do território na região do Algarve, constituindo a grande causa para a degradação das arribas».
Por isso, «é necessário minimizar os impactes que advêm da erosão das arribas» e promover «a requalificação das praias».
A associação ambientalista, considera também «importante a rápida atuação do poder político no sentido de proibir e instaurar a retirada de habitações que se encontram em zonas assinaladas com elevado perigo de derrocada».
Por fim, a Quercus volta a informar que a classificação “Qualidade de Ouro” atribuída às praias nacionais em 2015 foi exclusivamente baseada na análise à qualidade da água realizada pela APA – Agência Portuguesa do Ambiente, ou seja, nada tem a ver com os eventuais impactos causados pela recente intervenção.
Esclarece, contudo, que «não pode deixar de tomar em conta acontecimentos como o da Praia de Dona Ana, que colocam em causa o equilíbrio ambiental e paisagístico», e informa que «outros casos excecionais como este serão devidamente analisados, no sentido de se ponderar semelhantes suspensões do galardão atribuído».