O Quorum Ballet regressa ao Teatro Municipal de Portimão (Tempo) no dia 29 de Setembro, às 21h30, para apresentar a mais recente criação do coreógrafo Daniel Cardoso, “The Elements”.
O Sul Informação falou com o coreógrafo, que está neste momento em São Petersburgo, na Rússia. Daniel Cardoso conhece bem o público algarvio, e o de Portimão em particular, e por isso espera que o novo espetáculo, baseado nos quatro elementos da Natureza, consiga surpreender os fãs do grupo, mas atraia também novos públicos.
Os bilhetes custam entre 10 e 12,5 euros. Com quatro bailarinos em palco e efeitos visuais originais, a coreografia apoia-se em música de Mahler, Mozart, Debussy e Saint-Saens.
Daniel Cardoso explica as suas opções e reflete sobre a sólida carreira nacional e sobretudo internacional do Quorum Ballet. Para o próximo ano já tem planos para um novo espetáculo: uma versão atual e arrojada do «Lago dos Cisnes». Resta esperar que também esse futuro espetáculo passe por Portimão. Para já, no sábado, sobem ao palco do Tempo os quatro elementos.
Sul Informação – Já não é a primeira vez que o Quorum Ballet se apresenta no Teatro Municipal de Portimão. O que os faz regressar agora?
Daniel Cardoso – O teatro Tempo, em Portimão, é muito especial para a companhia. Foi lá que co-produzimos uma das mais importantes produções do Quorum Ballet, os “Dois Séculos”. Desde então, tem sido uma prioridade para nós continuar o trabalho com esta excelente equipa, continuar a criação de público para a companhia e para a dança em geral.
SulI – O espetáculo é à bilheteira, ou seja, o Quorum Ballet assume todos os riscos. O que vos leva a arriscar uma apresentação deste tipo em Portimão? Que expectativas têm?
DC – Numa altura como esta que estamos a atravessar no nosso país, temos que arriscar para conseguir seguir em frente…sempre riscos medidos e bem calculados. Temos que nos adaptar às circunstâncias, parar ou andar para trás não é uma opção. Seguimos em frente com uma estratégia bem definida (que inclui possíveis espetáculos à bilheteira), novas ideias e, acima de tudo, imaginação para superar os desafios. A expectativa é que o público venha ao Tempo ver a mais recente produção do Quorum Ballet.
SulI- Em 2010, o Quorum Ballet estreou em Portimão a criação original “Dois Séculos”, em homenagem à vida e obra de Manuel Teixeira Gomes. Isso pressupõe uma grande ligação a Portimão. Como tem corrido essa relação com a cidade e com o Algarve? O que os faz regressar agora?
DC –“Dois Séculos” foi um importante marco na história da companhia, foi a primeira co-produção de grande dimensão. Esta produção foi um marco para mim e para todos os envolvidos. Desde então, sempre que voltamos a Portimão, somos muito bem recebidos e com casas cheias! A relação com o Algarve tem sido a melhor, temos estado presentes no sul do país em diversas cidades, todos os anos. Tem sido excelente!
Mostrar a dança portuguesa no estrangeiro é objetivo
SulI – A vossa carreira tem-se feito muito no estrangeiro. Por onde têm andado neste último ano? Como surgiram esses convites para apresentar o vosso trabalho a nível internacional? Que balanço fazem dessas digressões internacionais?
DC – Desde a fundação do Quorum temos viajado muito a nível internacional. Sempre foi e continua a ser uma das grandes prioridades da companhia. A dança é universal, só assim um projeto como o Quorum Ballet faz sentido. Em 2012, a companhia esteve na China (Shangai, Guangzhou e Macau), Dinamarca (Arhus e Randers), Sérvia e Espanha. Para 2013, já temos digressões confirmadas na China, Dinamarca, Croácia, Brasil e no Bahrein. Estes convites surgiram do trabalho de muitos anos. Estivemos seis anos a semear (ainda continuamos) e a criar, agora estamos a colher alguns dos frutos. Não tem sido um caminho fácil, mas estamos a conseguir resultados. Se não fossem as digressões internacionais em 2012, o Quorum Ballet não teria conseguido continuar da mesma forma… O balanço tem sido muito positivo, acabámos por superar as nossas próprias expectativas, temos tido salas esgotadas onde temos atuado. Tem sido excelente e acima de tudo um incentivo para continuarmos a lutar para manter uma companhia de dança a tempo inteiro.
SulI – Neste momento está na Rússia. Qual é o seu trabalho aí?
DC – Neste momento, estou na Rússia a dar aulas e a coreografar para a Vaganova Academy (Kirov Ballet School) em São Petersburgo. Já cá tinha estado em 2007/08. É sempre uma experiência única, trabalhar na mais conceituada escola de dança clássica e ensinar-lhes o que há de mais atual na dança contemporânea. Acima de tudo, sinto-me privilegiado e enriquecido com a experiência.
SulI – Que outros espetáculos têm programados em Portugal nos próximos tempos? E no estrangeiro?
DC- Até ao final do ano, o Quorum Ballet vai estar também em Espanha, Açores (Angra, São Miguel, Faial e Graciosa), Leiria, Amadora, Seixal, Redondo (Alentejo), Bragança e Lisboa.
SulI – No nosso país, a companhia foi distinguida nos Portugal Dance Awards, em 2009. Fora de Portugal, já foram premiados pelo menos na Feira de Teatro de Castilla y León. Esses prémios têm sido importantes para a companhia? Abriram-vos novas portas?
DC – Os prémios têm tido a maior importância para toda a equipa. São acima de tudo um incentivo e motivação para conseguirmos atingir os nosso objetivos. Ao longo dos anos, temos tido diversos “prémios”. Mais recentemente, o espetáculo “Correr o Fado” foi considerado umas das melhores produções do ano, pela Shangai TimeOut Magazine, na China.
«The Elements» é trabalho inspirado nos quatro elementos da natureza
SulI – Em Portimão vão apresentar «The Elements», que é a sua mais recente criação. O que pode dizer sobre esta criação? O que deve o público algarvio esperar deste espetáculo? Há algo que o distinga das vossas criações anteriores já apresentadas no Algarve?
DC – «The Elements» é um trabalho inspirado nos quatro elementos da natureza. Podem esperar um trabalho muito físico a nível do movimento e expressividade corporal. Talvez seja um dos trabalhos que mais gosto me deu a criar e a desenvolver… Espero conseguirmos surpreender aqueles que já nos conhecem e conquistar novo público com esta nova produção. É um trabalho diferente dos que já produzimos até à data, não só pela escolha musical, mas também pela forma como são simbolizados os elementos em palco.
SulI – Desta vez, escolheram música de Mahler, Mozart, Debussy, Saint-Saens. Ou seja, uma escolha musical bem diferente de «Correr o Fado» ou de «Dois Séculos»…
DC – A escolha musical é feita consoante a temática da peça e a mensagem que se quer passar ao público. «The Elements» nesse aspeto é único, tem uma escolha musical assombrosa (no bom sentido!), tem algumas das faixas mais emblemáticas do repertório clássico.
SulI – Quem são os bailarinos que integram atualmente o Quorum Ballet? Que experiência têm?
DC – Atualmente a companhia tem oito bailarinos profissionais (sete deles estão com a companhia desde a estreia dos “Dois Séculos”!) e uma estagiária. Em 2013, vamos ter uma produção onde contaremos com mais nove estagiários, um total de 17 bailarinos em palco. Será a maior produção da companhia, até à data, uma versão contemporânea do Lago dos Cisnes. Em «The Elements» só atuam quatro bailarinos.
SulI- Como começou o Daniel Cardoso a sua vocação de bailarino? Foi difícil? Teve apoio da família e dos amigos?
DC- Comecei aos 9 anos de idade. Sempre tive o apoio dos meus pais e família. A dança não é fácil, por isso não posso dizer que foi fácil. Acima de tudo, escolhi a profissão certa, faço o que mais gosto e não me vejo a fazer mais nada que não seja ligado à dança. Nesse aspeto tive muita sorte…
SulI – Como e quando passou de bailarino a também coreógrafo? Quais são as suas influências na coreografia?
DC- Ao longo da minha carreira, tive diversas influências artísticas, de muitas companhias, artistas e coreógrafos. Agora estou a trabalhar para encontrar o meu caminho e a minha linha artística como criador. O meu interesse pela coreografia começou em 2000/01, quando vivia em Nova Iorque. Desde aí comecei, mas mais seriamente somente em 2005, quando voltei para Portugal e criei o Quorum.
Quorum Ballet é projeto que só faz sentido em Portugal
SulI – Com a sua experiência, não seria preferível trabalhar “lá fora”? Porque continua a trabalhar em Portugal?
DC- Lá fora seria com certeza mais fácil, mas o objetivo nunca foi o de levar o Quorum Ballet para fora. Estive a trabalhar dez anos fora de Portugal para conseguir trazer algo de novo, um contributo para o nosso mundo da dança. O Quorum Ballet é o meu contributo, e só faz sentido em Portugal: uma companhia que quer levar dança portuguesa de grande qualidade para além fronteiras. Só assim faz sentido, com ou sem crise. Espero conseguirmos (o Quorum é acima de tudo fruto de um trabalho de equipa) continuar este grande desafio…
SulI – Que projetos tem a nível pessoal e no âmbito do Quorum Ballet para os próximos tempos? Já estão a pensar em novo espetáculo? O que será?
DC – O «Lago dos Cisnes»: este será o nosso grande projeto para 2013. Uma versão atual, contemporânea e arrojada da história original.