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Sé Catedral de BejaA Sé de Beja (Santiago Maior) vai poder ser novamente visitada amanhã, sexta-feira, numa Jornada de Portas Abertas promovida pela Diocese de Beja, em conjunto com outras entidades locais.

O templo tem vindo a ser alvo de obras de requalificação, que tiveram o seu início em Novembro de 2014 e deverão estar concluídas no final de Outubro de 2015.

Antes da reabertura, o Bispo de Beja, a Câmara de Beja, o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese e a Associação Portas do Território juntaram esforços para dar uma oportunidade aos mais curiosos de ver o andamento da intervenção e conhecer ou matar saudades da Catedral.

A obra atualmente em curso irá custar cerca de 1,5 milhões de euros, um milhão dos quais virão de fundos europeus.

 

A Igreja de Santiago Maior, Catedral de Beja (texto de José António Falcão):

«Tanto a origem como a localização da primitiva igreja de Santiago constituem um enigma por resolver, existindo diversas referências à importância da sua colegiada, uma das mais antigas de Beja, rivalizando com a da matriz de Santa Maria da Feira, paróquia contígua.

Alguns autores ubicam a sede inicial da paróquia na vizinha igreja de Santa Maria da Graça, depois mais conhecida pela invocação de Santo Amaro, que remonta à transição do século V para o século VI. Outros ligam-na a um espaço de culto independente, também extramuros. É provável que, no século XIV, se fixasse no actual sítio, dentro do circuito das muralhas e perto de uma das suas principais portas. Já seria, então, referência no Caminho de peregrinação a Compostela.

O monumento que chegou aos nossos dias sucedeu a esse edifício e constituiu uma obra de raiz, erguida a instâncias de D. Teotónio de Bragança, arcebispo de Évora entre 1578 e 1602. Prelado renovador das estruturas pastorais do vasto território sob a sua jurisdição, de acordo com as instruções emanadas do Concílio de Trento, e mecenas das artes, D. Teotónio interessou-se pela dinamização da vida religiosa de Beja, a segunda cidade da arquidiocese, sede de uma importante vigararia. Dirigidos pelo arquitecto Jorge Rodrigues, os trabalhos do novo lugar de culto estavam terminados, no essencial, à data da sagração: 14 de Julho de 1590.

De planta rectangular, com três naves divididas em cinco tramos, a igreja é coberta por abóbadas de arcos cruzados com nervuras de aresta estucadas, ainda de tradição gótica. Porém, a organização espacial, ampla e unitária, obedece já, nitidamente, a um modelo característico da “arquitectura chã” do Alentejo, aproximando-se da tipologia das “igrejas-salão” (hallenkirchen) que teve, como cabeça-de-série, a paroquial de Santo Antão, de Évora, erigida entre 1557 e 1563, sob a égide do cardeal infante D. Henrique – o antecessor de D. Teodósio de Bragança na cátedra eborense –, com projecto do arquitecto Afonso Álvares, sendo as obras confiadas ao mestre Manuel Pires.

Ao longo do século XVII, realizaram-se grandes beneficiações, incluindo a construção, nos finais da centúria, de vários retábulos de talha dourada e policroma, com os respectivos painéis pictóricos. Outro arcebispo de Évora que deu grande impulso às empreitadas artísticas, D. Fr. Luís da Silva Telles, financiou, em 1692, o retábulo da capela de São Francisco Xavier. O retábulo da capela-mor foi realizado pelo mestre lisboeta Manuel João da Fonseca, em 1696-1697, a expensas da fábrica da igreja, com o auxílio das confrarias e de outras esmolas.

D. José do Patrocínio Dias, fautor da “reconstrução” física e moral da Diocese, escolheu esta igreja para instalar a catedral, sob a invocação do Sagrado Coração de Jesus. Entre 1932 e 1937, efectuou-se profunda remodelação no interior e no exterior do imóvel, orientada por um perito de arte, o Dr. Diogo de Castro e Brito, dentro do gosto neomaneirista e neobarroco. A sagração ocorreu em 1946. Ciente do peso simbólico da sé, o bispo-soldado trabalhou afincadamente para juntar ao acervo da paróquia de Santiago Maior notáveis fundos sumptuários, maioritariamente oriundos de conventos extintos de Lisboa, de depósitos do Ministério da Guerra, do Palácio Real das Necessidades e do Paço Ducal de Vila Viçosa.

O património da sé conta, assim, com relevantes colecções de pintura, escultura, mobiliário, ourivesaria, paramentaria e azulejaria. Neste último âmbito, destacam–se os painéis oriundos da igreja do convento lisboeta de Santa Mónica (vulgo, Mónicas), à Graça; fazem parte de um ciclo que inclui, além de episódios bíblicos – sobressaindo os alusivos à Paixão e Morte de Cristo –, numerosas cenas alegóricas, com realce para as inspiradas em gravuras do livro do sacerdote jesuíta Hermann Hugo, Pia Desideria (1624), um clássico da literatura emblemática pós-tridentina.

Também notável, a pinacoteca inclui peças da autoria de pintores activos em Lisboa, Évora e Beja nos séculos XVI-XVIII. Pela iconografia, tornou-se célebre, apesar da sua discreta qualidade plástica, a tela seiscentista que figura São Luís de Tolosa a salvar D. Dinis do ataque do urso, evocação de uma montaria, ocorrida em 1294, nos “matos do Guadiana”, durante a qual o rei foi salvo da morte pela intervenção mira­culosa daquele santo franciscano. A criação contemporânea está representada pela Ceia de Emaús, de Severo Portela (1936), na capela do Santíssimo Sacramento.

No campo da escultura, merecem particular nota as imagens, em mármore branco, de quatro santos jesuítas: Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier, São Luís Gonzaga e Santo Estanislau Kostka, atribuídas a um escultor italiano radicado em Portugal, Giovanni Antonio Bellini, dito Pádua, por seu natural desta cidade (ou do seu alfoz), que se evidenciou como estatuário na remodelação da capela-mor da sé de Évora. Vindas do depósito militar da Cova da Moura, na capital, terão pertencido a uma instituição da Companhia de Jesus, provavelmente o noviciado de Nossa Senhora da Nazaré, em Arroios. Isto leva a aproximá-las de 1733, data inscrita num dos dois retábulos de mármore branco e róseo, também da autoria do mesmo mestre, existentes na sé e provenientes desse colégio.

Quanto ao acervo têxtil, é de salientar a presença, entre outras alfaias de valor, dos sumptuosos estofos, importados de Itália por ocasião do baptismo do futuro rei D. Pedro V (1837), para a capela do palácio das Necessidades».

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