Os corpos daqueles que morrem no Centro de Saúde de Vila Real de Santo António «passam em frente ao bar, depois pelo meio de uma das unidades do Centro de Saúde, na presença de quem aguarda a vez para atendimento, nomeadamente crianças», antes de serem depositados numa sala «não refrigerada e sem outras condições», onde aguardam transporte pelas agências funerárias, denunciou o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
Esta é uma situação que, segundo os sindicalistas, se verifica «há anos» e que não ficou resolvida com a intervenção que foi feita numa das salas deste Centro de Saúde, que acolhe um Serviço de Urgência Básica, tendo em vista a sua adaptação para acolher, temporariamente, cadáveres. As obras já foram feitas, mas a sala não está ser utilizada pois «os corpos nem cabem nas “novas instalações” pelo que permanecem no mesmo sítio».
«O cheiro dos corpos em decomposição é insuportável, sobretudo no Verão, e já houve situações em que permaneceram todo o fim de semana», garante o SEP, que exige uma rápida resolução da situação, por «questões de Saúde Pública, de condições de trabalho, de atendimento ao público e pelo tratamento digno que as pessoas falecidas e suas famílias merecem».
Contactado pelo Sul Informação, o presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve João Moura Reis diz estar consciente da situação, mas garante que, após a última visita que fez a esta unidade de saúde, já este mês, deu instruções para que os corpos passassem a fazer um trajeto diferente dentro do Centro de Saúde, longe dos olhares dos utentes, e que fossem levados para uma outra sala «com as condições de refrigeração necessárias».
Desta forma, disse ter ficado surpreendido com a denúncia do SEP, a quem já tinha dado garantias de que a situação fora resolvida, tendo percebido, posteriormente, «que o novo procedimento ainda não foi colocado em prática». Quanto à sala que foi preparada para acolher os corpos, «não tem área suficiente, apesar de ter as condições».
O presidente da ARS não enjeita as críticas dos enfermeiros, mas lembra que, em teoria, os corpos «não deviam estar mais do que 3 a 4 horas» no centro. Os que necessitam de autópsia, disse, são levados logo para o Instituto de Medicina Legal, situado no Hospital de Faro. Os demais, devem ser levados rapidamente pelas agências funerárias, «que os tratam nas suas instalações».
«O período de permanência normal não é o suficiente para começar o processo de decomposição. Em todo o caso, sempre que se mostre necessário, há a morgue municipal, que se situa a poucos metros do Centro de Saúde», disse.
Moura Reis lembrou que esta unidade de saúde está instalada «num edifício antigo, que não foi construído para este fim», o que tem obrigado «a constantes obras de adaptação».