A Taxa de Mortalidade poderá aumentar no Algarve e noutras regiões do país cujas unidades de saúde se debatem com a falta de médicos, avisou o bastonário da Ordem dos Médicos.
Convidado a falar sobre «O Estado da Saúde em Portugal» no 11º Congresso Português de Diabetes, que está a decorrer em Vilamoura, o José Manuel da Silva chamou a atenção para um estudo inglês que aponta nesse sentido e teceu fortes críticas à política de saúde do atual Governo. A intervenção “sem papas na língua” valeu-lhe um aplauso de pé dos muitos participantes no Congresso que estavam na assistência.
Além do problema «organizacional» que leva a que haja zonas do país carentes em médicos, o bastonário apontou o dedo ao desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde, que acredita resultar de «uma filosofia política adversa ao SNS vigente no atual Governo». Defende mesmo que, em vez de cortes na saúde, o Governo devia acabar «com o escândalo de corrupção que são as PPP rodoviárias».
No que toca à falta de médicos em alguns hospitais, o problema está no método de recrutamento, acredita. «Falta uma correta distribuição dos médicos e uma correta política de contratação dos médicos em Portugal. Os concursos fechados vieram, paradoxalmente, dificultar a fixação de médicos no interior do país, particularmente aqui no Algarve», defendeu.
José Manuel da Silva considera este tipo de concursos «ilegais e inconstitucionais», para além de serem «um paradoxo e um absurdo».
«Quando aqui estive [há cerca de duas semanas], deram-me o exemplo de um jovem cirurgião formado no hospital e para o qual não abriu vaga no concurso fechado a que podia concorrer e, portanto, passou para o setor privado, quando até gostaria de ficar no Hospital de Faro», revelou.
Esta é apenas mais uma situação em que médicos disponíveis para se fixar no Algarve encontraram dificuldades, apesar do discurso do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve e da tutela que estão a ser feitos esforços para captar mais pessoal médico.
Na sua anterior visita à região o bastonário disse que «há um cardiologista e uma obstetra disponíveis para ir para o Hospital de Portimão, cujas contratações estão atrasadas e não se percebe bem onde estão os constrangimentos».
E se há médicos suficientes em Portugal para suprir as necessidades do SNS, ao ponto de a Ordem avisar que em breve haverá médicos a mais, o mesmo já não se verifica com outros profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiros e auxiliares de ação médica. Uma escassez que José Manuel da silva relaciona com «uma menor qualidade do serviço prestado», que tem vindo a ser apontada em unidades de saúde do Algarve e um pouco por todo o país.
A intervenção de José Manuel da Silva também foi muito focada nos resultados do SNS. O bastonário apresentou «números e factos concretos» que apontam para que o SNS é não apenas eficiente, com indicadores «quase sempre superiores à média da OCDE e em alguns casos equiparados aos países mais ricos», mas também mais barato (per capita) do que a maioria dos países que pertencem a este grupo.«
«Portugal tem um dos melhores serviços públicos de saúde. É universal, barato e tem excelentes indicadores. Não podemos aceitar que digam que não é sustentável. O que não é sustentável é a forma como este país foi e continua a ser governado», acusou.
«Não foi o SNS que levou Portugal à bancarrota e que fez com que, em 40 anos de democracia, o FMI viesse a Portugal três vezes. Foi o modelo de governação e é esse que temos de mudar, não o modelo de financiamento do Serviço Nacional de Saúde», afirmou, a margem da sessão.