A administração do Teatro Municipal de Faro (TMF) decidiu baixar os preços das produções próprias em 2012 no seguimento da diminuição de espetadores verificada em 2011. Apesar de fazerem um balanço positivo do ano que passou, os responsáveis operacionais pelas salas geridas pela empresa municipal farense notaram uma alteração do comportamento do público e querem agir em conformidade.
Anabela Afonso, administradora executiva do TMF, e João Carrolo, programador e responsável pelo serviço educativo desta estrutura cultural farense, foram os convidados desta semana do programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM. O programa pôde ser ouvido na íntegra no sábado, em 102.7 FM ou em www.rua.pt.
Anabela Afonso admitiu que, no ano que findou, o TMF começou «a sentir de forma mais objetiva a situação de crise». Algo que se notou na diminuição «ligeira» do número médio de espetadores, mas não só.
«Ainda não temos os dados completos de público de 2011, ainda falta fechar o mês de dezembro, mas eu acho que vamos ficar um pouco abaixo daquilo que é a média de público do TMF. Usualmente, andamos sempre em torno dos 40 mil, ou pouco mais, por ano. Este ano acredito que se possa andar lá muito perto, mas que possivelmente não se consiga atingir a meta dos 40 mil», revelou a administradora da empresa municipal farense.
Algo que os responsáveis pelo TMF notaram em 2011, pouco habitual noutros anos, foi a tendência crescente do público «ir à bilheteira perguntar o preço e ir para casa pensar». «Normalmente, quem ia à bilheteira, ia logo para comprar um bilhete», recordou.
«Outro dos sinais que tivemos em 2011 foi em relação à primeira e segunda plateia. Antes as pessoas, pela diferença de preço, iam à primeira plateia, pois ficam mais perto e podem ver melhor, em 2011 começamos a perceber que até muito perto do espetáculo a primeira plateia ficava relativamente vazia, porque as pessoas procuravam os bilhetes mais baratos», acrescentou. Assim, vai deixar de haver essa distinção em 2012, nos espetáculos produzidos pelo TMF.
Também se notou a diminuição da adesão de jovens às iniciativas promovidas pelo TMF, apesar de até beneficiarem de uma tabela de preços que dá descontos aos menores de 30 anos. «Antes vendíamos cerca de mil bilhetes por ano com este desconto e no ano passado devemos ter vendido entre 800 e 900», disse Anabela Afonso.
Um facto que já levou a administração do TMF «a decidir baixar o preço novamente para 5 euros», quando ao longo do ano passado os bilhetes eram vendidos por 7 euros. «No geral, naquilo que são produções nossas, no próximo ano, vamos baixar um pouco os preços», adiantou Anabela Afonso.
«Apesar das dificuldades que já se fizeram sentir em 2011, acho que foi um ano em que conseguimos cumprir aqueles que eram os nossos objetivos, enquanto instituição cultural da cidade de Faro e da região», resumiu Anabela Afonso.
Já João Carrolo salientou alguns dos momentos vividos nas salas geridas pelo TMF, alguns dos quais «quase arrepiantes», na sua visão. «Julgo que o momento mais alto foi o espetáculo “1974”, pelo Teatro Meridional», disse o programador.
«A peça falava sobre Portugal e os portugueses e foi feito numa altura em que há uma grande reflexão cada vez maior acerca do que somos. O espetáculo correu muito bem e teve aplauso estrondoso do público. O encenador, provavelmente devido a esta empatia que houve, decidiu tomar a palavra no final e falar um pouco. Foi incrível sentir a partilha ali conseguida», considerou João Carrolo.
João Carrolo lembrou que, em 2011, foi introduzida uma novidade, a de «subordinar a programação a um conceito, neste caso a comunidade, pois achámos que fazia sentido trabalhar em torno deste tema».
«A esse nível, destacava três espetáculos que pediam a participação da comunidade. Desde logo o “Vale”, um espetáculo de dança que apelava à participação de vários membros da comunidade. Foi êxito estrondoso, tivemos cerca de 50 pessoas envolvidas, muita delas nunca tinham praticado nenhuma atividade ligada à expressão artística», contou.
Outra iniciativa que o programador do TMF destacou foi o projeto «Carta Branca», onde artistas e programadores de Faro foram convidados a contribuir para a programação do TMF. «Uma vez em cada quadrimestre, houve um convidado que trabalhou connosco e definiu um programa em conjunto.
«Destaco, por fim, o projeto “Vaivém”, que veio responder a uma necessidade que vimos sentindo. Há uma franja da população que não tem acesso ao Teatro das Figuras e à programação em geral, sobretudo o público escolar que vive fora da cidade», disse.
«Este projeto tem esta lógica de voar e aterrar noutros sítios. Estivemos nas escolas, mas também no Largo da Igreja de Estoi. Conseguimos levar projetos nossos a sítios fora da cidade», acrescentou.