A fotógrafa algarvia Telma Veríssimo apresenta a sua arte ao público olhanense na exposição «Seareiros da Ria Formosa», que está patente no foyer do Auditório Municipal de Olhão até 28 de dezembro.
Telma Veríssimo é fotógrafa free-lancer desde 1993, mantendo colaborações regulares com publicações regionais e nacionais e diversas entidades públicas e culturais da região.
É formadora de fotografia desde 1995 e já lançou duas obras: Passeio Público – Jardins, Alamedas e Recantos Ajardinados do Algarve (2008) e Sagres – O Começo (2010).
«Rebuscada a descrição científica da AMÊIJOA. O mais trabalhado dos frutos do mar.
Que não o mais trabalhoso. Essa distinção cabe ao Perceve, cuja captura é função heróica.
Mas a AMÊIJOA, antes de ser manjar de sonho, é lavoura de suor.
Tome-se uma ria, um braço de mar, um baixio irrigado pelas marés.
Junte-se areia em montículos, na baixa-mar, e acrescente-se-lhe pedra miúda.
Espalhe-se tudo e inclua-se uma extensa ninhada dos pequenos bivalves. Em seguida lavre-se o chão, como se fosse sementeira de trigo, para lhes arejar o crescimento. Marquem-se as extremas e espere-se pelo vaivém do mar.
Depois é acompanhar todos os dias a lavoura. Com a atenção carinhosa que merece o que cresce das nossas mãos. Atentos aos perigos. Às ameaças, que são muitas.
A malvada sebarrinha, antes do mais. Alga ruim que sufoca chão e AMÊIJOA, e que é preciso remover constantemente. Que ataca de surpresa, com o calor, como as pragas das searas. E também o Limo Manta de Espigão, que abafa tudo.
O desvelo tem de ser permanente. Obrigatório. Sem horário, nem feriado.
O Mar, e muito tempo de trabalho.
Mãos rugosas, pés gretados e costas doridas, preparam, meses a fio, o prazer que chegará à mesa de muitos: a AMÊIJOA PRETA, a Boa, como lhe chamam os lavradores da Ria.
Ano e meio a dois anos. É quanto custa de vida cada colheita.
Ali, na Ria Formosa. Em Olhão. Terra de Seareiros da AMÊIJOA».
Afonso Dias