A Comissão Coordenadora Distrital do Bloco de Esquerda no Algarve manifestou hoje a sua «grande solidariedade com a luta e o espírito de união dos moradores» do Bairro Encosta do Sol, na praia da Salema, em Budens (Vila do Bispo).
“A situação é extremamente preocupante para estas 40 pessoas e estamos cá para afirmar com determinação a nossa solidariedade com todas e todos aqueles que no início da próxima semana têm de abandonar, à força, as suas casas”, afirmou João Vasconcelos, que ontem se deslocou ao bairro social para se inteirar in situ da situação que os moradores estão a passar.
O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), culminando uma decisão do tribunal, notificou 15 famílias para que, nos dias 9 e 10 de julho, na próxima semana, deixem as casas onde moram há duas décadas.
Entretanto, o presidente da Câmara de Vila do Bispo já prometeu que a autarquia “vai tentar” realojar as famílias mais carenciadas deste bairro social. Adelino Soares adiantou que a autarquia está a fazer “tudo para apoiar e realojar as famílias de menores recursos e mais carenciadas”, em conjunto com a Segurança Social.
O bairro de 68 casas de habitação social foi construído em 1998 pela cooperativa de habitação, num terreno cedido pela Câmara de Vila do Bispo, tendo a obra sido financiada pelo então Fundo de Fomento de Habitação.
De início, as casas eram destinadas a arrendamento a custos controlados aos cooperantes por um prazo de 25 anos, com opção final de compra. Só que a direção a cooperativa mudou de ideias e quis promover apenas a venda das habitações, o que levou a um diferendo que culminou com a ocupação das casas.
José Fernandes, um dos moradores notificados para sair da casa, admite saber «que estávamos ilegais», mas salienta que os moradores sempre tentaram «resolver a situação com o INH e depois com o IHRU, só que nunca nos foi dada qualquer opção».
Ontem, o PCP de Vila do Bispo já se tinha solidarizado com os moradores do bairro social Encosta do Sol, anunciando que vai questionar o Governo sobre as medidas que irá tomar para evitar o despejo dos moradores.
Também ontem, o Bloco de Esquerda deslocou-se ao bairro, para falar com os moradores. “Queremos que lhes seja feita justiça”, disse o líder bloquista João Vasconcelos, afirmando que “estas pessoas habitam estas casas há mais de 20 anos e são alheias à situação que agora culminou neste despejo coercivo. Os moradores deste bairro sempre manifestaram vontade em pagar a prestação a que estavam sujeitos, no âmbito da cooperativa”.
Os bloquistas algarvios afirmam não compreender a “falta de sensibilidade e intransigência no despejo” por parte do IHRU, atual proprietária dos imóveis.
“Vemos o culminar, da pior forma, de um longo processo, que se iniciou num contexto social e financeiro diferente daquele que vivemos agora. O Estado não pode despejar estas 40 pessoas sem fazer uma avaliação da atual situação em que vivem”, rematou Vasconcelos.
Entretanto, Cecília Honório, a deputada do BE eleita pelo Algarve, questionou o Governo, através do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, sobre qual a razão por que “nunca o INH ou o IHRU chegou a acordo com estas famílias” e como “irá atuar de forma a garantir que estas 40 pessoas, em breve despejadas, não ficam sem apoio à habitação”.