O secretário de Estado do Turismo trocou o casaco e gravata pelo fato de mergulho e deixou-se afundar nas águas, hoje não muito quentes, junto à Ponta João d’Arens, na costa de Portimão. Foi uma forma de dar visibilidade ao turismo de mergulho, um nicho de mercado que tem todas as potencialidades para crescer, no Algarve.
Mas o pretexto da visita de Adolfo Mesquita Nunes é o projeto Ocean Revival, um parque subaquático que resulta do afundamento de antigos navios de guerra da Marinha Portuguesa a cerca de duas milhas da costa de Alvor.
Dois foram afundados em 30 de outubro do ano passado e nestes cerca de seis meses já motivaram perto de 2500 mergulhos, enquanto o terceiro dos quatro navios do projeto saiu esta manhã de Lisboa, deve chegar a Portimão amanhã e será afundado, com pompa e circunstância, a 15 de junho. O quarto navio deve ir ao fundo a 21 de setembro.
«O turismo ligado ao mar é uma das áreas onde estamos a atuar. Está a ser feito um esforço conjunto das várias tutelas para potenciar esta fileira», salientou o secretário de Estado, em declarações aos jornalistas, ainda a bordo do barco e logo após o seu batismo de mergulho.
Adolfo Mesquita Nunes explicou que o turismo náutico e as atividades de animação marítimo-turística são consideradas áreas estratégicas para o turismo em Portugal e destacou o esforço que tem estado a ser feito na simplificação dos processos: «já alterámos o regime jurídico da animação turística», nomeadamente baixando em 70% as taxas a pagar.
O governante disse também que, no que diz respeito aos mecanismos de financiamento, estes «estavam direcionados para a construção de alojamento, mas estamos agora a direcioná-los para outras áreas, nomeadamente a animação turística».
Tudo boas notícias. Mas será que isso interessa muito ao turismo de mergulho que o projeto Ocean Revival pretende fomentar no Algarve? Luís Sá Couto, da empresa Subnauta, fundadora, com a Câmara de Portimão, da associação Musubmar e o principal mentor do projeto, salientou as vantagens competitivas do Algarve em relação a destinos de mergulho bem mais conhecidos e consolidados: «nós temos segurança, temos motivos de interesse, não só os que já existiam como agora este parque subaquático, temos uma oferta complementar integrada, que até pode servir para o mergulhador trazer aqui a família, o que não acontece noutros destinos mais populares, como o Mar Vermelho».
Na apresentação que Luís Sá Couto fez sobre este projeto, ainda em terra firme, na sede da Subnauta na Praia da Rocha, salientou que atualmente o Algarve regista 10 mil mergulhos por ano, número que se espera que, com o investimento feito no Ocean Revival e com a necessária promoção externa deste novo produto, chegue aos «90 a 100 mil mergulhos, em 2022, daqui a dez anos». Será, ainda assim, uma pequeníssima quota deste mercado milionário do mergulho. «Atualmente temos 0,31% da quota de mercado na Europa, em 2022, se atingirmos os números pretendidos, teremos 1,88%. É perfeitamente possível».
Promoção, precisa-se!
«Temos o produto, temos bom vinho, boa gastronomia, boa gente, segurança, outras coisas para a família fazer, e o nosso produto é mais barato», insistiu Luís Sá Couto, já a bordo da embarcação que levou o secretário de Estado, o presidente e o vice-presidente do Turismo do Algarve, o staff da Subnauta e os jornalistas até ao local de mergulho.
Então se o Algarve tem tudo isso, o que falta? Falta a promoção. Luís Sá Couto salientou que falta agora fazer a promoção no exterior, nomeadamente junto dos mercados inglês, irlandês, alemão e nórdico. E essa promoção, sublinhou, tem que ser feita pelo Turismo de Portugal, com o mergulho a fazer parte «da oferta integrada do turismo português».
Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve (TA), salientou que esta entidade, naquilo que são as suas competências, já está a trabalhar nesse sentido. «Quanto ao mercado escandinavo, que queremos recuperar, estamos a trabalhar com os operadores no sentido de que haja voos para o Algarve. Sem isso, os turistas não vêm». Dentro do novo modelo de gestão e atuação das Entidades Regionais de Turismo, o Algarve vai também «contratualizar com o Turismo de Portugal a promoção externa do destino».
Em relação a Espanha, o TA vai assinar, nos próximos meses, protocolos de cooperação com a Deputación de Sevilha (Andaluzia), de Badajoz (Extremadura) e de Pontevedra (Galiza), o que dará, nas palavras de Desidério Silva, «uma nova capacidade para promover a região nesses mercados».
O secretário de Estado, por seu lado, revelou a nova estratégia da promoção do Turismo de Portugal no exterior, que passa por «segmentar as mensagens» e assim dirigi-la a públicos mais específicos, em vez de ter «uma só mensagem genérica». Uma forma de focalizar as atenções em segmentos de mercado que podem ser complementares uns dos outros, como o do mergulho, mas que concorrem todos para o mesmo fim: esbater a sazonalidade e aumentar os proveitos do turismo.
Adolfo Mesquita Nunes gostou da primeira experiência
Apesar de o dia hoje estar nublado, o mergulho correu muito bem. «O Algarve tem o melhor mergulho da Europa de primavera e de outono», garantia Luís Sá Couto. «Há quinze dias, tivemos um grupo de irlandeses e o tempo não estava muito bom. Mas eles mergulharam. Os mergulhadores destes países estão habituados a mares duros e o Algarve para eles, mesmo com um tempo menos bom, é sempre apetecível».
«Teve azar. Com sol, temos mais luz debaixo de água. Para um batismo de mergulho é mais interessante», disse o empresário, voltando-se para Adolfo Mesquita Nunes.
Antes de partir para o mar e depois da apresentação do projeto Ocean Revival, o secretário de Estado teve uma formação ainda em terra sobre os princípios básicos do mergulho. Luís Sá Couto explicou tudo exaustivamente, não descurando nenhum aspeto de segurança. «Não pode bloquear a respiração, respire sempre», repetiu várias vezes. Caso contrário, «pode haver problemas».
«Isso é muito animador», gracejou Mesquita Nunes.
Ao seu lado, estava Duarte Padinha, vice-presidente do Turismo do Algarve e já com alguma experiência, embora tenha confessado que «há uns seis anos que não mergulho». A bordo do barco, e já com os fatos de mergulho vestidos, Pedro Caleja explicou de novo, com pormenor, regras de segurança, pormenores de funcionamento do equipamento e ainda como fazer para entrar na água com a garrafa de oxigénio às costas, como colocar a máscara ou usar o regulador.
Com o Pedro e a Paula já dentro de água, para auxiliar os novatos, Adolfo Mesquita Nunes foi o primeiro a entrar na água, eram 11h22, e imediatamente fez o sinal de ok com os dedos. Até ali, tudo bem.
Seguiu-se depois Duarte Padinha, mais à vontade, e finalmente o fotógrafo Virgílio Rodrigues, que acabou por não conseguir fotografar a estreia do governante no mundo subaquático porque a água estava um pouco turva.
O mergulho durou cerca de meia hora e não ultrapassou os três metros de profundidade. Na embarcação da Subnauta tinha ficado Desidério Silva, que às tantas já estava impaciente, a ver o tempo a passar, e a lembrar que à tarde ainda haveria uma reunião do secretário de Estado com o trade e autarcas, a propósito do Turismo de Saúde e Bem Estar.
De volta a bordo, Adolfo Mesquita Nunes garantiu ter gostado «muito desta primeira experiência» e manifestou-se «convencido a voltar». E apontando para o céu, onde o sol espreitava debilmente entre as nuvens, disse: «é uma atividade que podemos fazer, mesmo quando o tempo não está no seu melhor». Por outras palavras, mais uma arma para esbater a sazonalidade do Turismo no Algarve. Ou mais uma forma de fugir à crise através do turismo subaquático.