Quando não há soluções para combater a desertificação de um território, o melhor é levar até lá quem as pode encontrar, para que conheçam a realidade local e pensem em formas de resolver problemas específicos.
Esta é a ideia principal da nova edição do Mestrado em Gestão Sustentável dos Espaços Rurais que a Universidade do Algarve já está a promover, uma iniciativa inovadora que terá uma forte componente de e-learning e no qual todo o trabalho de campo será realizado no concelho de Alcoutim.
Como se percebeu na cerimónia oficial de lançamento do mestrado, que decorreu na sexta-feira em Alcoutim, a esperança depositada nesta nova abordagem à desertificação, que resulta de uma parceria entre a UAlg e a autarquia alcouteneja, é grande. E o facto de ter havido uma forte adesão ajuda a que o otimismo esteja em níveis elevados. Houve 20 inscrições para 20 vagas e 19 mestrandos que começaram as aulas (um dos candidatos, entretanto, desistiu).
Com a nova abordagem ao ensino de gestão sustentável de espaços rurais idealizada pela UAlg, deixa-se de pensar o território à distância, o que, desejavelmente, levará a que haja soluções mais adequadas.
«Vamos tentar que os mestrandos adquiram competências nas diversas dimensões que permitem a gestão sustentável dos espaços rurais, nomeadamente ao nível dos recursos bióticos, abióticos e culturais. O curso tem uma componente letiva de um ano e um semestre para desenvolver uma dissertação. Nesses trabalhos finais, vamos tentar que todos os casos de estudo sejam aplicados ao concelho de Alcoutim e que da união desses contributos resulte um novo modelo de gestão para este território», explicou ao Sul Informação Carla Antunes, diretora do Mestrado em Gestão Sustentável dos Espaços Rurais.
O mestrado não deixará de estar sediado no Campus de Gambelas da Universidade do Algarve, na Faculdade de Ciências e Tecnologia, que o promove, mas os alunos não terão de ir lá, obrigatoriamente. «Com o e-learning, nós estamos em Faro no nosso computador e podemos ter um aluno na América», exemplificou. Na edição corrente do mestrado, não há alunos de fora do país, mas há mestrandos «de todo o Algarve, do Alentejo e até do Sardoal (Santarém)».
Alcoutim agradece este input de conhecimento especializado e espera que possa fazer a diferença. «Hoje em dia, é cada vez mais importante promover o conhecimento e formação específica em áreas como o combate à desertificação. E se essa formação acontecer em ambiente real, como vai acontecer aqui, penso que aumentará a possibilidade destes agentes intervirem de forma efetiva sobre os graves problemas que afetam as zonas do interior», considerou o presidente da Câmara Osvaldo Gonçalves.
«É muito importante ter conseguido esta parceria com a Universidade do Algarve, um parceiro fundamental se quisermos pensar em soluções de uma forma responsável», acrescentou o edil alcoutenejo.
Para o eventual sucesso deste curso de mestrado, poderá ser determinante a dimensão de e-learning, tendo em conta que esta metodologia possibilita a frequência neste curso a um número muito mais alargado de pessoas.
«Quisemos reforçar a componente de e-learning, porque muitos dos candidatos aos cursos de mestrado e doutoramento são pessoas que estão inseridas no mercado de trabalho. Isso, como é evidente, coloca-lhes um problema acrescido para poder completar a sua formação, dada a exigência destes cursos», ilustrou o reitor da Universidade do Algarve António Branco.
«A metodologia de e-learning aqui utilizada devia ser o mais replicada possível dentro da UAlg, porque isso seria uma forma de responder mais amplamente às necessidades das pessoas da região – e até de fora do Algarve – que querem continuar a estudar», acrescentou.
António Branco também salientou a «forte componente de trabalho laboratorial no terreno». «Foi escolhido um território onde estas questões são evidentes e onde o estudo do território, do ponto de vista académico, pode produzir efeitos e dar pistas às políticas públicas. Parece-me muito feliz o casamento entre a área de especialização do curso e o território que foi escolhido para o trabalho de campo», concluiu.
Os candidatos a Mestre já estão a aprender e a trabalhar. Dentro de cerca de ano e meio, poderão ser os precursores de mudanças estruturais, que permitam a Alcoutim e, por acréscimo, a outros territórios do interior, ter novas ferramentas para combater a desertificação e passar a olhar, sem medo, para a interioridade.