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«Estão a ver aqui este raiadinho? É por causa disto que a carne de porco preto é tão saborosa» dizia, segurando uma secção de lombo ainda com costelas, o Miguel, de 19 anos, orgulhoso da qualidade da carne que haveria de dar origem, daí a pouco, aos enchidos da fábrica do seu pai, Evangelista de Oliveira, em Monchique.

O “raiadinho” que Miguel apontava eram os veios de gordura dos porcos criados de forma natural. «É isto que dá sabor aos chouriços e sobretudo ao presunto», acrescentava o Miguel, que um dia há-de seguir o exemplo do pai e ficar à frente do negócio da produção de enchidos tradicionais.Mas não só.

Em Monchique, onde já há quatro fábricas permanentes e duas temporárias, estes enchidos são estrelas do Turismo Gastronómico, um dos quatro pilares da atividade turística no concelho. As outras estrelas são a aguardente de medronho (75 destilarias já legalizadas), os produtos da terra e, claro, os restaurantes que se dedicam a servir os pratos mais ou menos tradicionais que fazem as delícias dos visitantes.

Precisamente para dar a conhecer as potencialidades turísticas de Monchique a jornalistas, agentes de viagens e operadores turísticos, a Região de Turismo do Algarve (RTA) promoveu, no dia 5 de junho, mais uma “Fam Trip” (viagem de familiarização), inserida no projeto “Redescobrir os Segredos do Algarve”, que já antes os levou à descoberta dos concelhos de Alcoutim e São Brás de Alportel. Esta terceira edição resulta de uma parceria entre a RTA, a Câmara Municipal de Monchique e a Direção Regional de Cultura do Algarve.

 

Caminhadas e rappel, logo para começar

O programa de um dia muito ativo, em que jornalistas e agentes turísticos andaram como se fossem turistas, de máquina fotográfica em riste e sapatos de caminhada, começou na Fóia, o ponto mais alto da Serra de Monchique e do Algarve, com os seus pouco mais de 900 metros de altitude.

Nesse dia, a visibilidade era ótima, avistando-se, lá em baixo, com nitidez, a costa desde Carvoeiro a Lagos. Como disse Helder Renato Rodrigues, chefe de gabinete do presidente da Câmara de Monchique e guia muito competente dessa jornada, foi «um dia abençoado pelo sol e pela boa visibilidade». Foi mesmo!

A abrir o programa, no restaurante da Fóia, o presidente da Câmara Rui André, que acompanhou toda a visita e também fez as vezes de guia, explicou que, para desenvolver o turismo no seu concelho, a autarquia de Monchique «pegou naquilo que são as nossas atividades, a nossa realidade». Foi com essa base que foi criada a marca «Topo do Algarve», que remete «não só para a geografia, mas para o facto de estarmos no topo da qualidade e da modernidade dos novos conceitos de turismo», garantiu o autarca.

Associadas a essa marca, foram criadas «quatro gavetas»: Turismo Gastronómico, Turismo de Natureza, Turismo Cultural e Turismo de Saúde e Bem Estar. Foram essas gavetas que a fam trip foi abrindo ao longo de um dia intenso.

Começou-se pelo Turismo de Natureza e Ativo: uma curta caminhada de um quilómetro e meio levou o grupo, encabeçado por dois presidentes – Rui André, da Câmara de Monchique, e Desidério Silva, da RTA – encosta norte abaixo, percorrendo trilhos que ligam à Via Algarviana e integram a rede de Veredas de Monchique (Rota das Cascatas e Percurso da Fóia).

E assim se chegou ao Parque Aventura da Fóia, uma parceria entre a empresa Alternativtour, que explora as atividades, e o Município, que cedeu o terreno, ensombrado por enormes pinheiros da Califórnia. O parque já funciona todo o ano e oferece atividades de arborismo, paintball, escalada, tiro com arco, que fazem as delícias de gente de todas as idades.

Aí, houve um grupo de corajosos que experimentou as emoções do rappel, do slide, da ponte de cordas e do tiro com arco, e ainda houve tempo para um jogo de colaboração, em que até Rui André e Desidério Silva, sempre bem dispostos, alinharam.

A coisa correu tão bem que vários dos agentes de viagens logo ali entabularam negociações com Lúcio Feio, responsável pelo Parque Aventura, para saber condições e preços para grupos e atividades.

 

Gastronomia omnipresente

Depois de alguma atividade física, seguiu-se então a visita a uma das quatro fábricas de enchidos do concelho. O anfitrião foi, como já se disse, o jovem Miguel Alexandre de Oliveira, filho do dono, sempre de sorriso aberto e esferográfica atrás da orelha.

Miguel, que está ainda a estudar no Secundário, na área de Economia, falou também com entusiasmo da «Destila da Ribeira», uma destilaria de aguardente de medronho que já está legalizada e que tem a particularidade de ter ainda uma parte de alojamento, com três apartamentos para um total de 12 pessoas. A «Destila da Ribeira» situa-se na Foz do Besteiro, junto à ribeira de Seixe, quase no limite do concelho de Monchique com Odemira.

Como, além de criar os seus próprios porcos, esta família de gente empreendedora está também a plantar medronheiros, Rui André manifestou a esperança de que este projeto de destilaria e alojamento turístico possa servir de exemplo para outros voos: «imagine que promovem um fim de semana temático, em que os clientes participam numa matança de porco, fazem chouriços, ou apanham medronho e assistem à destila, visitam Monchique para conhecer como era antigamente, fazem umas caminhadas. É destas experiências que os turistas de hoje gostam e precisam».

Na fábrica de enchidos perto de Monchique, o grupo de visitantes especiais pôde ver como se preparam os chouriços, admirar um enorme presunto de salga tradicional com 50 quilos, feito com a perna de um porco preto que pesava 400 quilos…e terminar a visita com um lanche, com os enchidos e presunto da casa, torresmos acabados de fazer e bom pão da vila. Aliás, a gastronomia foi uma constante ao longo do dia, já que a sessão inicial, na Fóia, tinha começado precisamente com café, fatias douradas e bolos.

E foi assim que, logo depois da visita à fábrica de enchidos, que terminou com o lanche,  se seguiu um almoço tradicional (papas de milho, chouriça assada, cozido de couve à Monchique) no restaurante Jardim das Oliveiras.

 

Património, cultura e artes tradicionais nas ruas

Para “desmoer” (como se diz no Algarve), o grupo foi então conhecer outra gaveta, a do Turismo Cultural, com um passeio pela vila de Monchique, para ver uma chaminé de saia que está a ser recuperada, conhecer a Igreja Matriz com o seu belo pórtico manuelino e visitar a olaria do ceramista Leonel Telo.

E também percorrer as lojas antigas, que parecem paradas no tempo, a cheirar a bafio mas com muito charme, como a Sapataria Boavista, do Senhor Fernando, que já empregou mais de 50 pessoas no fabrico de calçado e hoje passa os seus dias à espera dos poucos clientes que ainda lhe entram porta adentro, o mais das vezes apenas para dar dois dedos de conversa.

«Isto é o que os meus grupos de alemães e holandeses procuram, estas ruas antigas, a simpatia das pessoas, os recantos a descobrir», dizia, para o autarca Rui André, uma das operadoras turísticas convidadas.

 

E tudo terminou com um copo de água…sagrada

Depois de um dia intenso, à descoberta das belezas para muitos desconhecidas de Monchique, faltava conhecer a quarta gaveta, a do Turismo de Saúde e Bem Estar.

Com o Longevity Wellness Resort, e os seus 195 apartamentos construídos numa encosta, fechado e em «reformulação», como disse o presidente da Câmara Rui André, o grupo rumou à Vila Termal das Caldas de Monchique, onde visitou parte das instalações hoteleiras, a nova Loja Central que abriu há pouco tempo, comeu uma tiborna com pão quentinho acabadinho de cozer no forno pela Dona Celina, e finalmente terminou no spa do hotel termal.

E aí, para rebater um dia dedicado a quatro tipos/nichos de turismo, mas onde o Turismo Gastronómico foi omnipresente, bebeu-se um copo de água termal da Fonte da Juventude, que já os romanos, há dois mil anos, diziam que era sagrada, como o atesta a lápide patente no pequeno núcleo museológico no Hotel Central.

Foi o culminar de uma jornada de descoberta do turismo em Monchique, que, como sublinhou o autarca Rui André, é «complementar ao Turismo de Sol e Praia do litoral», mas que, apesar de estar «em afirmação», ainda escapa aos habituais roteiros turísticos.

O presidente da RTA salientou que o objetivo desta fam trip era «potenciar estes produtos ligados à Natureza, ao Património, à Gastronomia e à Saúde, entre outubro e abril, que é a grande falha da região». «Se conseguirmos fazer com que Monchique tenha mais visitantes, será este concelho mas também todo o Algarve a beneficiar», acrescentou Desidério Silva.

«A adesão às fam trips tem sido muito boa e tem resultado num conhecimento mais profundo da oferta por parte dos participantes que, mais tarde, ajudarão a vender o destino», afirmou o presidente da RTA.

 

Veja aqui mais fotos desta jornada à descoberta dos segredos de Monchique.

 

 

 

 

 

 

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