«Acho que nunca assisti ao descerrar de uma placa com tanta gente», comentava, surpreendida, a vereadora da Câmara de Faro Alexandra Gonçalves, ao ver chegar as dezenas de familiares de Isaac Bitton e membros da comunidade judaica portuguesa ao local onde foi ontem inaugurada a rua que evoca o homem responsável pela nova vida do Cemitério Judaico de Faro e pelo Centro Histórico a ele associado.
A placa toponímica da Rua Isaac «Ike» Bitton, nascido em Portugal, mas que se radicou nos Estados Unidos em meados do século XX e se tornou um empresário de sucesso, foi oficialmente descerrada esta quinta-feira numa cerimónia que acabou por atrair muito curiosos.
E não era para menos! Os ocupantes do «Bitton Bus (autocarro Bitton)», como descreveu o filho do homenageado Mike Bitton, que estacionou na ainda não acabada rua junto à Escola Neves Júnior (rua abaixo da escola, que irá ligar à futura Cidade Judiciária), depressa criaram uma mancha humana compacta, com muitas fotos a ser tiradas, enquanto soavam conversas animadas em diferentes línguas.
Os mais de 50 membros da família Bitton presentes vieram de diferentes países, nomeadamente «dos Estados Unidos, de Israel e da Suíça» e, claro, de outros pontos de Portugal, onde esta família ainda mantém uma forte presença.
A história dos Bitton está intimamente ligada a Faro, onde esta família viveu durante um largo período. Foi devido a estes antepassados farenses que a história que liga Isaac Bitton a Faro e ao Cemitério Judaico ali existente começou.
Depois de uma visita a Faro, em 1983, o ontem homenageado veio encontrar o cemitério dos seus antepassados votado ao abandono e aqui teve a ideia de salvar este espaço sagrado.
De regresso aos Estados Unidos da América (EUA), onde vivia, reuniu esforços para criar ”The Faro Cemitery Restoration Fund, Inc”, fundo este que teve por objetivo a Restauração e Rededicação do Cemitério Israelita de Faro.
A cerimónia ocorreu em 1993, com a presença de cerca de 400 pessoas, como o então Presidente da República Mário Soares, os embaixadores de Israel, dos EUA e da África do Sul, o presidente da Câmara de Faro João Botelheiro, e Abraham Benito, de Gibraltar. Esta cerimónia teve como mestre de cerimónias Ralf Pinto, diretor de operações, que apresentou as diversas individualidades.
Ontem, as honras foram feitas pelo atual curador do Museu Judaico entretanto criado, António Valente, pelas vereadoras representantes da autarquia e pelo filho de Isaac Bitton, que é agora o presidente do ”The Faro Cemitery Restoration Fund, Inc”.
Numa conversa com o Sul Informação, Mike Bitton revelou que há projetos pensados para o Cemitério e Centro Histórico Judaico de Faro, embora não haja nada de concreto a avançar. Ainda assim, não coloca de parte a possibilidade de «ampliar ou instalar o museu noutro local» ligado à presença judaica em Faro. Apesar de viver nos EUA, afirmou ter a intenção de visitar mais frequentemente o legado dos seus antepassados na capital algarvia.