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Maria Antónia_Café Central_Ameixial_2Da frigideira, que a dona Maria Antónia vai enchendo com diferentes iguarias e novos sabores, já se solta um aroma convidativo, que faz crescer água na boca.

Sem pressas, mas com a eficiência de quem dirige há muitos anos a cozinha do Café Central do Ameixial, a proprietária e cozinheira do estabelecimento prepara a refeição para um grupo de homens que está a trabalhar ali na zona, que se espera que cruzem a porta a todo o momento.

Se assim não fosse, a proprietária do café e casa de pasto desta pequena e isolada aldeia do concelho de Loulé, não se daria ao trabalho de acender o lume, dar uso às panelas grandes e  esperar pela clientela.

Senhor Fernando_Café Central_Ameixial_Ao contrário do que acontecerá a partir de amanhã, sexta-feira, dia 22, e até segunda, 25 de Abril, não é normal ver muita gente de fora no Ameixial. Mas, com o Festival de Caminhadas que vai ter a sua base nesta aldeia, o cenário é bem diferente.

Os ameixialenses agradecem, já que esta é uma quebra na rotina de uma localidade que tem cerca de cem habitantes, boa parte dos quais vivem no lar da terceira idade ali existente. «Nós gostamos que aconteçam estas coisas, para dar uma ajuda aqui à nossa terra. E é uma alegria ver aí o pessoal, sempre é um convívio. A gente gosta é que venham pessoas cá», garante, animada, a Dona Maria Antónia.

«Sempre dá uma ajuda. A gente faz o melhor que pode. Já só faço comida quando ma encomendam. Mas, se quiserem uma sandes, eu também faço», acrescenta.

Maria Adelaide, que explora o café do posto de combustível, ali bem perto, confirma as palavras da vizinha. «É bom que venha tanta gente, faz bastante diferença. Isto é um meio pequeno, com poucas pessoas, traz mais movimento à nossa terra», disse.

O Ameixial até se situa à beira da Estrada Nacional 2, que liga Portugal de uma ponta a outra, de Faro a Chaves, mas as vias rápidas e a autoestrada roubaram o pouco trânsito de passagem que a aldeia tinha.

Para ter uma ideia do impacto do Festival de Caminhadas, que propõe atividades bem variadas, basta dizer que atrai um número de visitantes pelo menos três vezes superior ao de habitantes locais. Isso reflete-se no alojamento, mas também nos negócios, que têm aqui um balão de oxigénio.

Andreia Martins_Café Miguel_AmeixialAndreia Martins está tranquilamente sentada no Café Miguel, sem clientes para servir, no momento. Os proprietários deste estabelecimento, um casal jovem, são ambos do Ameixial, mas vivem na cidade de Loulé, de onde se deslocam, aos dias de semana, para o interior do concelho. O facto de terem filhos a isso obriga, uma vez que, por ali, a escola primária já deixou de funcionar.

«Um dia normal, aqui, é calminho (risos). Os nossos fregueses são, essencialmente, pessoas daqui. Mas é muito pouca gente, quase não há jovens», disse Andreia Martins.

Como se vê, a animação trazida pelo Walking Festival do Ameixial (WFA), bem como por outras festas anuais que se realizam na aldeia, contrasta com um dia a dia em que, ao cruzar as ruas da aldeia, se vê muito pouca gente. E se é este o cenário na sede de Freguesia, nos montes e sítios à sua volta ainda se sente mais a desertificação.

«Se for aí a alguns montes, montes grandes, têm lá quatro ou cinco velhotes. Onde eu vivia, havia três senhoras e dois homens. E todos eles com problemas de saúde», disse Maria Alice, que, nos tempos que correm, dá uma ajuda ocasional à cunhada e ao irmão, o afável e conversador senhor Fernando, no Café Central.

AmeixialApesar disso, há muitos turistas que visitam o Ameixial, ao longo de todo o ano, nomeadamente autocaravanistas, que aproveitam o parque ali existente para passar longas temporadas e calcorrear a pé os caminhos da Serra do Caldeirão, os mesmos que servem de atrativo às centenas de pessoas que vão invadir a aldeia, nos próximos dias.

Alguns deles, conheceram este território devido ao Walking Festival do Ameixial, já que não são raros os casos de turistas que passaram no festival e «voltaram mais tarde, para fazer percursos que não conseguiram percorrer, da primeira vez», ilustrou João Ministro, cuja empresa, a ProActiveTur, faz parte da comissão organizadora do WFA e leva cada vez mais grupos de turistas ao interior do Algarve, ao longo do ano.

Os autocaravanistas e os caminhantes, vai dizendo Maria Antónia, não criam muita freguesia, nem muito negócio. Mas acaba por admitir que se dirigem com regularidade à aldeia «para comprar pão ou laranjas». «Este ano, andam aí muitos estrangeiros, mas é raro fazerem uma refeição aqui», acrescentou.

Dar a conhecer este território que, apesar de desertificado, tem muito para oferecer, é o objetivo principal do WFA. Daí que se procure envolver os habitantes locais no processo, de modo a que sejam eles os principais beneficiários do evento.

Além disso, procura-se deixar sementes para o futuro para que um dia, quem sabe não muito longínquo, Maria Antónia, o senhor Fernando, a sua cunhada Maria Alice e o casal Martins acordem todas as manhãs a pensar na ementa do dia, nos seus estabelecimentos, sabendo que, mesmo sem pré-aviso, alguém irá, de certeza, aparecer.

 

Clique aqui para conhecer o programa do Festival de Caminhadas/Walking Festival do Ameixial

 

 

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