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Ostra SelectAs ostras produzidas na Ria de Alvor e em Vale da Lama (e não só) morreram quase todas, causando prejuízos de milhões de euros a quem as cria. Uma mortandade que, para os viveiristas de Lagos e Alvor, não foi bem explicada pelas entidades competentes, pelo que não estão dispostos a investir novamente em força, até terem a certeza que podem evitar que a situação se repita.

Rui Ferreira, responsável pelos viveiros Ostraselect, em Vale da Lama, Odiáxere, concelho de Lagos, é um dos produtores afetados e não esconde o seu desânimo perante uma situação que colocou em causa cerca de ano e meio de trabalho e lhe causou prejuízos «acima do milhão de euros», já que tinha «200 e tal toneladas de ostra comercial» quase pronta a “colher”. O responsável pela exploração onde são produzidas mais ostras, no Algarve, falou com o Sul Informação, traçando um cenário negro, não só no presente, mas também para o futuro.

Viveiros Ostra Select«Tivemos níveis de mortandade na ordem dos 98 por cento na ostra comercial, que é quase toda exportada para França. Isto, no fundo, é uma perda total. Na mais pequena, a mortandade andou nos 75 a 80 por cento. E não é só aqui, a ostra também está a morrer em Sagres [offshore] e já começa a haver relatos de mortalidade bastante elevada na Ria Formosa e em Aveiro», disse.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a morte das ostras está ligada ao vírus herpes, que já tem afetado populações de ostras antes. Explicação que não convence Rui Ferreira, já que os viveiristas mandaram fazer análises em França «que não detetaram a presença do vírus». «É fácil para a administração apontar o dedo ao vírus, que já se sabia que existia. Mas, mesmo que fosse, a mortandade nunca seria tão elevada», assegurou.

Para o produtor de ostras algarvio, o problema será mais profundo e estará ligado a fatores ambientais. Um deles, é a poluição. «Até este ano, nunca tínhamos tido os nossos bivalves da Ria de Alvor proibidos por causa de contaminação biológica. Neste momento, não se pode vender, por ter sido detetada a bactéria e. coli. Para mim, é da poluição», disse.

Por outro lado, «houve uma predominância de ventos Sul durante o Verão, o que não habitual». Isso levou a uma alteração na dinâmica das correntes, «que se aproximaram mais da costa» e podem ter trazido consigo agentes nocivos que normalmente não chegam à Ria de Alvor.

«Antes, já havia alguma mortandade no primeiro Verão, mas quase toda a que aguentava este período sobrevivia até ao fim. Desta vez, morriam em qualquer altura. Há aqui qualquer coisa que está a provocar isto. Deixou de haver limos e algas e o lingueirão também está a desaparecer», adiantou.

Rui Ferreira«As coisas têm de mudar, não me estou a ver a fazer tudo igual, no futuro. Temos de saber porque é que as ostras morreram, senão não vale a pena investir», considerou. Esta informação também é determinante para tentar obter algum tipo de compensação, embora Rui Ferreira não tenha muitas esperanças de se ver ressarcido dos avultados prejuízos que teve.

Antes pelo contrário, pois poderá, tal como todos os que foram afetados pela mortandade, ter um custo adicional: o de destruição das cascas. Estas foram consideradas, num edital recente da Direção Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV), como um sub-produto da produção, equiparado a resíduos industriais, o que obriga os viveiristas de Alvor a incinerá-las, com os custos que isso acarreta.

«Para incinerar as cascas, tenho de contratar uma empresa. Só da minha parte, isso obrigaria a um investimento de 150 mil euros. Não se justifica, já não há nada nas cascas, é só calcário, pode ser usado para muitas coisas, até para pavimentação de caminhos ou mesmo para dar às galinhas. Não precisa de ser queimado», disse Rui Ferreira.

Neste momento, e sem esta despesa extra, a empresa que gere já atravessa dificuldades, tendo sido obrigada a «dispensar dois dos quatros trabalhadores para o fundo de desemprego», devido à mortandade das ostras.

No meio da desgraça, o viveirista algarvio ainda reserva algum espaço para a esperança. Isto porque uma das pessoas que se mostrou mais preocupada com a situação vivida pelos produtores de Alvor foi o então deputado à Assembleia da República José Apolinário, que é atualmente o secretário de Estado das Pescas do novo Governo PS.

Um aliado de peso, que chegou a fazer uma exposição ao Governo de gestão PSD/CDS-PP poucos dias antes do anúncio da indigitação de António Costa, cujo Governo veio a integrar. Ou seja, deu-se a curiosa situação de um deputado fazer uma exposição a ele próprio.

Ostra_OstraselectJosé Apolinário falou com o Sul Informação no dia em que foi empossado como secretário de Estado e assegurou que irá dar especial atenção a um problema que conhece muito bem. «Vamos procurar, no mais curto espaço de tempo, arranjar uma solução. Penso que poderemos ter a questão do que fazer às cascas resolvida no espaço de poucas semanas», considerou.

As soluções que José Apolinário apontava, na exposição feita ao então secretário de Estado do Mar Pedro do Ó Ramos, passavam pela permissão «de depositar as cascas em aterro ou mesmo na estrada de terra batida, sem a obrigatoriedade de incineração».

No que toca à mortandade, e por ter acabado de chegar ao Governo, pediu alguns dias para se inteirar dos factos, embora admita que «é necessário ver o que podem fazer as diferentes entidades». No documento que havia elaborado, enquanto deputado, José Apolinário pedia que o IPMA elaborasse «um relatório preliminar sobre as causas possíveis da mortandade e, consequentemente, definição de estratégia de futuro entre as entidades oficiais responsáveis e os produtores que atenue os riscos ou problemas identificados».

Para Rui Ferreira, uma das medidas que terá de ser tomada, será a implantação de um sistema de monitorização da Ria, nomeadamente ao nível ambiental. Um sistema no qual os produtores estão dispostos a investir, mas apenas quando souberem o que causou a morte das ostras, na temporada que agora termina.

 

 

sulinformacao

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