Cerca de duas dezenas de mariscadores e viveiristas da Ria Formosa exigiram hoje, sexta-feira, o avanço de dragagens na Ria Formosa. Os associados da Vivmar – Associação de Mariscadores e Viveiristas da Ria Formosa consideraram que a recuperação ambiental da Ria devia ter avançado há muito e antes de qualquer outra obra do Polis.
«Isto que se está aqui a passar é uma vergonha! Primeiro limpa-se a Ria por dentro, depois limpa-se a parte exterior. Agora, deixar apodrecer por dentro, deixar esta gente que vive da Ria a morrer à fome e andar a fazer estes espetáculos, é uma vergonha»,considerou o dirigente da associação Vítor Lourenço, presente no protesto.
A indignação dos viveiristas também é dirigida ao Parque Natural da Ria Formosa e a associação promete tomar uma medida de força na semana que vem. «Vamos exigir ao Governo que demita o atual diretor do parque, porque esta é uma instituição que não tem servido em rigorosamente nada a Ria Formosa», anunciou o presidente da Vivmar Américo Custódio.
O presidente da Vivmar traçou um cenário negro, garantindo que há cada vez mais viveiristas a abandonar a atividade. «No concelho de Faro há mil e tal viveiros. Mas, atualmente, a capacidade dos viveiros não é nenhuma. A capacidade que nós temos de produzir andará à volta dos 15 a 20 por cento. O pessoal todo tem abandonado a atividade, os terrenos estão todos estragados», assegurou.
Em causa a falta de condições ambientais do ecossistema, devido à falta de oxigenação da água. Problemas que se resolvem, defenderam, com dragagens e abertura das barras, nomeadamente a Barrinha que separa a Praia de Faro da Ilha da Barreta.
«Isto prejudica todo o ecossistema, não só os bivalves , mas todas as espécies que existem na Ria Formosa. E é fácil verificar que, com o assoreamento que há hoje na Ria, a circulação de água não se faz, há grande desequilíbrio nas correntes e os canais estão-se a degradar todos. Neste momento não estamos a preservar nada, como os técnicos do Parque defendem», com as proibições de apanha que impõem, garantiu.
Vivmar recusou-se a participar em reunião com Polis e Câmara
«Aquilo que foi dito ali [na cerimónia de consignação da obra do Parque Ribeirinho de Faro], pouco interessa à Vivmar. O convite que o presidente da Câmara fez para reunirmos agora com o Polis, também não vamos aceitar. Queremos ter uma reunião exatamente como esta: início dos trabalhos das dragagens», disse Vítor Lourenço.
Apesar das críticas, admitiu que a obra hoje lançada «é bem-vinda» e até «já deveria ter sido feita há muito tempo». «Mas primeiro temos de tratar a Ria, porque os bivalves nascem dentro da Ria e não no supermercado», defendeu Vítor Lourenço.
O também presidente da Junta de Freguesia de São Pedro acusou o presidente da Câmara de «compactuar com a Sociedade Polis, porque esta obra das dragagens é prioritária», lembrando que «foram eles que lhe deram o nome».
«Andamos há uma série de anos enrolados com reuniões, com adiamentos e promessas, mas as dragagens não se fizeram. Por isso estamos indignados com o que se está aqui a passar», justificou, ao falar da recusa em reunir-se com a autarquia e a Sociedade Polis.
«De há quatro anos a esta parte que nos dizem que as dragagens vão avançar em breve. Dizem o mesmo todos os anos», acrescentou Vítor Lourenço, sobre as garantias dadas momentos antes pelo presidente da Sociedade Polis Manuel Lacerda. «Não participamos em mais reunião nenhuma, pois não somos palhaços para andar aqui a fazer figura de parvos», concluiu.