Um grupo de voluntários dedicou-se, este sábado, a uma «ação de cidadania»: caiar a ponte velha de Silves.
Ao todo, foi quase uma dúzia de pessoas que se dedicou a caiar a ponte velha – a chamada ponte romana, mas na verdade de origem medieval – que cruza o Rio Arade frente à cidade de Silves, há anos fechada ao trânsito automóvel e classificada como «património de interesse concelhio».
A ação de cidadania e voluntariado foi convocada por Manuel Castelo Ramos, ex-vereador da CDU na Câmara de Silves, professor, ativista social e diretor do – há muito fechado – Museu da Cortiça de Silves.
Mas o trabalho do grupo de 11 voluntários não ficou completo. Segundo Manuel Ramos, só um terço da caiação ficou feita, embora também tenham cortado as canas e as silvas que invadem o leito do Arade, junto aos arcos da ponte. No meio da vegetação, descobriram lixo, muito lixo…
Por isso, os voluntários prometem que vão voltar a meter mãos à obra no próximo sábado, para tentar acabar a tarefa. Um trabalho que não é fácil, já que, por exemplo, é preciso aproveitar a maré baixa para colocar, com alguma segurança, a escada para caiar o arco mais alto da ponte.
O Sul Informação acompanhou o início dos trabalhos na manhã de sábado. «Foi um trabalho hercúleo, e atrevido, para os 11 bravo(a)s que responderam de forma alegre e entusiástica ao apelo. Pena que entre os bravos, a maioria nem fosse silvense! Sintomático!», comentou Manuel Castelo Ramos, no seu blogue Saco de Desabafos ( http://sacodosdesabafos.blogspot.com/2011 ).
Os voluntários eram gente de todas as idades. Uma das caiadoras era a jovem Maria João, que ali estava, de pincel de caiação na mão, no meio das canas e das silvas, coberta de pingas de cal no cabelo, no rosto e na roupa, a trabalhar lado a lado com a sua mãe, Paula, e o padrasto, António.
António, escultor, comentou «o estado em que se encontra esta ponte é vergonhoso! Isto é património! Tanto dinheiro mal gasto e tanta honraria para intelectuais de segunda e as coisas que são fundamentais não se fazem, nesta cidade!»
Mais acima, outra voluntária caiava o muro superior da ponte e perguntava: «Isto está a ficar bem? É que eu nunca caiei…» Mas o que faltava em prática, sobrava em boa vontade e por isso, nas horas de trabalho sob sol bem quente, os voluntários conseguiram caiar um terço da velha ponte de Silves.
Segundo Manuel Castelo Ramos, o objetivo desta iniciativa de cidadãos é «preservar e conservar um monumento de interesse concelhio (o que, aliás, a lei do património diz caber a qualquer um de nós), há sete anos completamente abandonado, em riscos de ruir, que no passado teve seis arcos e agora mal vemos três (os outros parece que são propriedade privada!), ex-libris de uma cidade que nem a pinta (ou caia), alvo do vandalismo e dos graffiters».
«Ninguém pode reclamar, seriamente, o desassoreamento do rio Arade e deixar chegar ao estado a que chegou a ponte histórica que o atravessa, o assoreamento dos seus arcos, a lixeira e o desleixo que os seus vãos encobrem. Fogões, esquentadores, bicicletas, garrafas e plásticos aos quilos, árvores, silvas, canas e, sei lá, tudo cresce debaixo de um dos mais antigos, e visíveis, monumentos da cidade», continua.
«Mas, como por cá se diz, “longe da vista, longe do coração”…»
A caiação da ponte medieval de Silves teve já um resultado lateral e algo inesperado. Tal como o Sul Informação constatou (ver foto), um dos arcos apresenta várias pedras em risco de cair, alegadamente devido a uma conduta de água de responsabilidade camarária que ainda atravessa a ponte e que está partida e a pingar água permanentemente, ameaçando a estrutura secular da ponte. Além das pedras a cair, é visível a mancha de fungos causada pela água que se escapa da conduta…
No mesmo dia em que este grupo de voluntários se dedicava, sob o olhar crítico e preguiçoso de muitos silvenses, a caiar a ponte velha, um grupo de funcionários da Câmara de Silves estava a colaborar na pintura da fachada da antiga Escola do Loubite e nos arranjos do seu espaço exterior, no âmbito do Programa de Responsabilidade Social da autarquia. Quem sabe se a próxima ação de voluntariado promovida neste âmbito não será a conservação da ponte velha de Silves…
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