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Luís Gomes e António Pina Projeto CuidarVila Real de Santo António e Olhão não vão esperar mais pelo Governo, para resolver alguns problemas de saúde com que a população destes concelhos se debate. Os dois municípios algarvios criaram a primeira rede intermunicipal de cuidados de saúde de Portugal, que pretende garantir o acesso a certas especialidades médicas, de forma célere, aos que mais precisam e menos têm.

O projeto «Cuidar» foi lançado esta quinta-feira, em Vila Real de Santo António e irá focar-se, numa primeira fase, na área da oftalmologia. No âmbito desta iniciativa, foi contratado um oftalmologista e celebrado um contrato com o Hospital de Gambelas, do grupo Hospital Particular do Algarve (HPA), para utilização de um bloco operatório.

Em VRSA, as consultas começam no dia 28 de julho, nas instalações da clínica do HPA ali existentes. Já em Olhão, só irão começar em agosto, já que dependem da formalização de um acordo entre a autarquia e a Administração Regional de Saúde do Algarve, que irá ceder um espaço no Centro de Saúde local. Este espaço irá, posteriormente, ser alvo de pequenas obras de adaptação.

«Este não será um serviço universal, já que apenas poderão aceder a ele pessoas carenciadas, que não têm capacidade financeira para aceder a estes cuidados de saúde por outra via», disse. Os serviços sociais de VRSA vão começar a receber candidaturas «em breve», enquanto em Olhão o processo começa no final do mês.

António Pina: “Não podemos dormir descansados quando sabemos que há concidadãos nossos que precisam de ser tratados, às vezes com intervenções simples”

A avaliação de quem é elegível será feita «com base nas declarações de rendimentos, À semelhança do que acontece com outras respostas sociais dos municípios».

Para já, não há ainda uma ideia de quantos poderão ser os beneficiários deste programa. Ainda assim, ambos os presidentes de Câmara acreditam que, nesta primeira fase, será possível dar resposta a todas as solicitações que surjam, ligadas à oftalmologia.

Quanto à escolha de um parceiro privado, na área hospitalar, nomeadamente o Hospital de Gambelas, deveu-se ao facto de ser a entidade que «fez a melhor oferta». Apesar de haver abertura da parte da ARS em associar-se a este projeto, o mesmo não aconteceu com o Centro Hospitalar do Algarve.

O HPA foi escolhido após «um concurso público», no qual foram convidadas a participar todas as entidades «públicas e privadas que têm blocos operatórios». «O CHA nunca respondeu», revelou o edil de VRSA Luís Gomes.

 

Projeto arranca com um orçamento de 100 mil euros

Oftalmologista António GasparO orçamento inicial do «Cuidar» é de 100 mil euros por ano, divididos entre as duas Câmaras Municipais. Este dinheiro servirá para pagar ao médico António Gaspar, contratado «a tempo inteiro» e eventuais operações oftalmológicas.

Quando é público que ter acesso a consultas e intervenções cirúrgicas em algumas especialidades do Serviço Nacional de Saúde pode ser bem difícil, no Hospital de Faro, com listas de espera de 5 ou mais anos, os dois municípios assumem a responsabilidade de «resolver os problemas das pessoas».

Até porque, segundo o presidente da Câmara de Olhão, não sai assim tão caro como seria de esperar curar alguém de uma doença como as cataratas. «Cada operação irá custar, em média 300 euros», assegurou, acrescentando que esta intervenção cirúrgica demora «5 ou 10 minutos».

A solução para um problema que afeta muitos munícipes dos dois concelhos e que pode levar à cegueira é, aparentemente simples. Mas isso não tem impedido que haja pessoas que percam a visão ou até que morram, sem nunca terem conseguido uma consulta no sobrecarregado e subdotado de meios humanos Serviço de Oftalmologia do Hospital de Faro.

Luís Gomes e António Pina Projeto Cuidar_2Foi, de resto, esta situação que levou os dois municípios a pensar nesta «forma inovadora de partilha e otimização de recursos».
A iniciativa partiu de Luís Gomes, que abordou António Pina no sentido de encetar a parceria, nesta área. «VRSA já nos habituou a ter uma atitude ativa na área da saúde. Mas era preciso ir mais longe», ilustrou o autarca olhanense.

«Não podemos dormir descansados quando sabemos que há concidadãos nossos que precisam de ser tratados, às vezes com intervenções simples. A visão é o sentido cuja perda mais nos afeta, daí termos começado pela área oftalmológica», acrescentou.

O «Cuidar» começa nos olhos, mas não ficará por aí. Na calha está o alargamento deste programa a outras especialidades, nomeadamente aquelas em que o Hospital de Faro tem mais dificuldade em dar resposta, como cardiologia e dermatologia, entre outras.

Esta «pedrada no charco», como a designa António Pina, é dada por dois concelhos que nem sequer fazem fronteira e que são liderados por executivos de cores partidárias diferentes, neste caso, PS e PSD.

«Esta parceria é fundamental para mostrar que cuidar das pessoas é algo que não tem partidos nem cores políticas», disse o socialista António Pina, enquanto o socia-democrata Luís Gomes salientou que «esta é uma medida histórica, que não pode deixar de ser entendida como um sinal ao país».

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