A revolução do 25 de Abril de 1974 comemora, dentro de dias, 40 anos, mas nem parece…É pouco o entusiasmo oficial à volta desta data, talvez em resultado da situação de desânimo em que o país está mergulhado.
Mas, por isso mesmo, se as entidades oficiais – o Governo, a Assembleia da República, o Presidente da República, as Câmaras Municipais – dão tão pouca atenção a esta efeméride, nós, cidadãos, deveríamos agir, como agora se usa dizer, em contra ciclo!
Por muito desanimados que estejamos, as culpas do que se passou com a nossa Democracia e com o nosso país após o 25 de Abril não podem ser atribuídas à data, nem sequer à revolta militar que haveria de transformar-se em revolução. As culpas são de todos nós que deixámos o país chegar ao estado em que está. E não soubemos aproveitar as portas e janelas que se escancararam com essa madrugada inicial e fundadora.
Tudo isto para dizer que acho confrangedora a indigência da maioria das comemorações do 25A no país em geral e no Algarve em particular. Sobretudo porque se traduzem em pouco mais que umas exposições, uns colóquios, umas sessões oficiais com os discursos da praxe, meia dúzia de concertos e de provas desportivas. E porque, mesmo essas comemorações frouxas, se esgotam por estes dias de abril.
A única exceção, que se impõe pela sua diferença que salta aos olhos, é Loulé, que criou uma comissão cívica concelhia para as comemorações e promove iniciativas aos mais diversos níveis, na sua maioria inéditas e originais, que já começaram no início do ano e se prolongam até dezembro.
Aqui, as iniciativas vão bem mais fundo que o simples picar do ponto das comemorações rotineiras e envolvem todas as escolas, todas as associações, toda a sociedade. E trazem ao Algarve, a Loulé, as figuras que – goste-se ou não delas – fizeram esse 25 de Abril de há 40 anos. Para ouvir de viva voz o seu testemunho e, como já aconteceu com Otelo, ouvir da sua boca informações inéditas.
É preciso acrescentar que, em Loulé, essa comissão cívica é presidida pelo jornalista Carlos Albino, ele próprio ligado ao 25 de Abril. E isso permite dar toda uma outra dimensão ao programa que, ao longo de 2014, vai recordar esses dias e meses em que se pensava que tudo era possível. E talvez, quem sabe, fazer reviver a vontade de sonhar!
Nota: esta crónica foi escrita antes do infeliz episódio entre a presidente da Assembleia da República e Vasco Lourenço.
Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e que pode ser ouvida em podcast aqui.