A cidade de Istambul, na Turquia, recebe, no próximo mês de Maio, a Cimeira Humanitária Mundial.
Esta que é uma cidade dividida entre dois continentes é, sem dúvida, um local muito apropriado para receber tal Cimeira, que tratará de temas que hoje estão completamente na ordem do dia.
É que as crises humanitárias, que, durante a última metade do século XX e na primeira década do XXI, ficavam sobretudo “lá longe”, fora da Europa ou, pelo menos, nas suas franjas que alguns já nem consideram Europa (nos Balcãs, por exemplo), hoje entram-nos pela porta dentro e instalam-se no coração do Velho Continente.
Se antes os problemas de consciência dos europeus se resolviam oferecendo umas moedinhas ou umas roupas velhas para ajudar os refugiados e os deslocados “lá longe”, hoje, esses problemas estão instalados à nossa porta ou mesmo dentro da nossa casa.
Será interessante saber que posição conjunta esta Europa, a da União Europeia, irá apresentar na Cimeira Humanitária Mundial. Se é que a Europa conseguirá ter uma posição conjunta, o que duvido…
A Europa, que já foi o farol que iluminava o mundo na defesa dos valores da solidariedade, da liberdade, da igualdade e da fraternidade, apresenta-se hoje, de novo, dividida e até encerrando em si antagonismos que parecem irreconciliáveis, em relação a questões basilares, como a do apoio aos refugiados.
Ou seja, a Europa, que mal consegue resolver os problemas humanitários no seu próprio território, como irá abordá-los em todo o mundo??? Como irá propor soluções e, sobretudo, obrigar países não europeus a adotar medidas e práticas humanitárias?
Por isso, esta Cimeira corre o risco de ser mais um desfilar de hipócritas boas intenções, do qual nada resultará de concreto.
Lamento ser tão pessimista, mas é a realidade desta nossa Europa que assim me obriga a ser.
Crónica para o programa de rádio Europhonica, em Dezembro, que pode também ser ouvida aqui.