Resumo (trailer) da Temporada 3
Esta foi a primeira vez que o Caminhante caminhou sozinho. É uma experiência diferente, uma viagem mais introspetiva, mas não solitária. A mente divaga e há muita coisa para ir conversando, comigo e com as pessoas que, longe, estão próximas. Canta-se em surdina e às vezes alto (não perguntem porquê, mas a mim saía-me A Internacional e o Hino Nacional).
Só contava comigo pelo que, cada vez que iniciava uma etapa, havia sempre a expetativa de como iria correr e o receio de ter esquecido alguma coisa – porque há aquela máxima de que “o peregrino não volta para trás”.
Não se pense que o Caminho é fácil. Dói. Sofre-se. É necessário ter estrutura física e emocional para o fazer. Para andar, andar e não ver ninguém, nem um sítio para encher o cantil de água. Para ver o desleixo do lixo e entulho espalhados. Para ouvir os donos dos cães garantirem que eles nunca mordem. Para chegar a um sítio sem saber se há lugar para dormir. Para a (eventual) falta de privacidade e noite mal dormida. Para carregar uma mochila de 10 kgs durante treze dias, com as costas a doer. Para caminhar, oficialmente, 247,30 quilómetros mas que foram, de certeza, mais de trezentos. Para temer que o corpo não aguente.
Mas chegar cansado a um pequeno café e tomar uma bebida fresca e comer um queijinho. E as pessoas desejarem “bom caminho”. Poder apreciar a paisagem. Parar para ver as lagartixas a brincar e as carreiras de formigas a labutar. E os condutores acenarem e desviarem-se. E, o melhor de tudo, os peregrinos. Gente de todo o mundo. Convivi com mais de uma dezena de nacionalidades, temperamentos diferentes, diferentes culturas. Amizades que duram umas horas, à medida dos encontros e desencontros do Caminho, mas que não vamos esquecer – e nisto, os albergues são imbatíveis. Dormi por 7,5 euros. 75 euros foi o que paguei uma noite, com jantar e roupa lavada e seca.
Há algo de mágico (à falta de melhor palavra) nos albergues, até porque o Caminho é um grande nivelador, chegamos ao fim do dia todos humildemente cheios de pó, suados e cansados…
E há uma (às vezes não tão) visível motivação religiosa. Há quem ouça missa pelo Caminho. Há quem se benze antes de comer. Mas cada um tem as suas razões, únicas, pessoais e (muitas vezes) intransmissíveis. O peregrino nunca vai sozinho.
Seguimos as setas amarelas. A tecnologia, as apps, servem para conforto, quando nos perdemos. Também servem para matar saudades da M., lá longe, preocupada e a servir de abençoado back office.
Valeu a pena? A resposta é um claro e sonoro Siiiiim!!! à Ronaldo, até porque é uma experiência tão forte que ainda vão passar alguns dias até que uma parte de mim deixe de caminhar.
Termino com uma pergunta no estilo Netflix. Vai haver nova temporada do Caminhante? A resposta é…
Leia os outros episódios da Temporada 3 da saga d’O Caminhante:
Episódio 1 – Junto à Sé de Lisboa, começa a Temporada 3 da saga do Caminhante
Episódio 2 – Hoje não temos couratos
Episódio 3 – Desventuras de um algarvio nas voltas da grande idade
Episódio 4 – Entre estradão e alcatrão, até ao pescador do peixe-gato com 10 quilos
Episódio 5 – O milagre da fonte à beira do caminho
Episódio 6 – Uma cabeçada no beliche, um cão muito mau e um final com pés de molho
Episódio 7 – O Caminhante na terra de Saramago
Episódio 8 – De Vila Nova da Barquinha a Tomar, há Vhils e “Caça Brava”
Episódio 9 – Nos Casais, o caminhante foi recebido com sinos
Episódio 10 – Uma caminhada de quase 24 km e um almoço na Casa do Benfica
Episódio 11 – O Caminhante encontrou “homem nu” e chegou a Alvorge
Episódio 12 – 24 km com “arte popular” e outras coisas que o caminho proporciona
Episódio 13 – Cowboys que servem pizza em terra de romanos antes do regresso a casa
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