Ao que parece, e fazendo fé num jornal de âmbito nacional, andam mafiosos verdes à solta no nosso Pais! Sicília rói-te de inveja: aqui manda a Couve Nostra!
Tudo indica tratar-se de malandros que, no Estado e fora dele, em nome da preservação do ambiente e de um futuro minimamente decente, complicam a vida ao “pato-bravismo” e à lei do vale-tudo. Vai daí, são mafiosos. Parece mesmo que alguns desses meliantes acompanham e monitorizam a preservação do ambiente em Portugal, reforçando e auxiliando a acção das entidades estatais, de forma voluntária – algumas pessoas, que nunca fizeram nada na vida sem a perspectiva de lucrar alguma coisa com isso, estranham o conceito e caluniam-no –, sem qualquer remuneração (muitas vezes investindo do próprio bolso), sacrificando tempo de família, ócio e amigos. Quase parecem cidadãos, os bandidos!
Felizmente, são verdes. Ainda não amadureceram. Quando tal acontecer, aí sim, podemos preocupar-nos. É que mudam para outras cores, mais quentes, arranjam “Padrinhos” graúdos e é um vê se te avias, com negociatas e esquemas muito para além dos passarinhos e das plantinhas, não hesitando, por exemplo, em encomendar peças de propaganda em bordéis jornalísticos!
Sim, porque não foi com “verduras” que se chegou a um País oco, onde os 3 a 5% do seu território que são urbanizados, seja por falta de planeamento ou má gestão, comprometem a coerência e integridade dos sistemas naturais, colocando em risco a própria segurança de pessoas e bens, que se amontoam em pilhas de edifícios (uma cidade é muito mais do que isso) inseguras, insalubres e insensatas.
Não foi também com “verduras” que as melhores áreas do País, tanto em termos agrícolas como em termos turísticos, são destruídas por loteamentos, empreendimentos turísticos, plataformas logísticas e mamarrachos inenarráveis que, contas feitas, nada acrescentam à economia que realmente interessa, e não à das estatísticas. Ou ninguém estranha que o Algarve, “paraíso” turístico, seja a região portuguesa que lidera… no desemprego?
“Verduras” não foram seguramente o segredo da venda da nossa paisagem, expressão da nossa identidade, por patacos. E não para a implantação de infra-estruturas ou equipamentos destinados a servir o bem comum, mas sim para o interesse e proveito de poucos. Criámos encargos públicos para sustento da privatização destes lucros.
Face ao assomo de tantas e descomunais enormidades, agora torna-se mais perceptível a abjecta intenção de acabar com o feriado do 1º de Dezembro: sob o pretexto da crise, o País está (ainda mais) a saque, vendido a retalho, e com uma grande placa dizendo “SIRVA-SE” à porta.
Eis o nosso maior défice, de forma nua e crua: de inteligência, discernimento, decência e vergonha na cara.
É por isso que nos deixámos encaminhar alegremente, qual ratos encantados pela melodia da flauta mágica, para esta crise, causada pela falta de produção e produtividade. Agora, não satisfeitos com o atoleiro em que estamos, ainda nos dispomos a dar ouvidos aos mesmos “flautistas” para daqui nos tirarem.
Apontar o dedo à conservação da Natureza, ao ordenamento do território e à salvaguarda das estruturas biofísicas fundamentais da paisagem (p.ex. a Reserva Ecológica Nacional) como fonte dos nossos males, é estar disposto a sacrificar aquilo que verdadeiramente nos diferencia positivamente, as últimas reservas estratégicas que nos podem permitir aspirar a uma verdadeira competitividade enquanto País.
É regredir 30 anos.
À beira do abismo, estamos mortinhos por dar o passo em frente…
Texto de: Gonçalo Gomes
Arquitecto Paisagista
Nota: O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico