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Da justiça dos prémios

anabela afonsoMuita tinta tem corrido nos últimos dias sobre a atribuição do prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan, mas hoje é sobre outro prémio e outro premiado que se debruçam estas linhas, e o consenso que provocou, conforme se foram sabendo das reações ao seu anúncio.

José Louro (Zé Louro, como todos nós o tratamos) foi a personalidade distinguida este ano pelo Prémio Maria Veleda. Decisão feliz do júri, que tem o efeito duplo de revelar o mais que evidente merecimento do escolhido, mas também de reforçar a credibilidade deste Prémio, dada a qualidade das duas personalidades até agora distinguidas.

Recorde-se que, apesar de ir na sua terceira edição, e depois de ter sido atribuído em 2014, a Margarida Tengarrinha, o júri teve a coragem de, na edição de 2015, não atribuir o prémio por achar que nenhuma das candidaturas propostas cumpria os critérios que estiveram na base da sua criação.

E fez bem. A atribuição do prémio a Margarida Tengarrinha na sua primeira edição elevou muito a fasquia, e é bem alta que ela se deve manter. E deve servir para o reconhecimento de um trabalho de vida, de acordo com o perfil descrito no site da Direção Regional de Cultura: “destacar e reconhecer o mérito de personalidades algarvias cujo longo percurso cultural e cívico as tenha revelado como protagonistas de intervenções particularmente relevantes e inovadoras na Região”.

À primeira vista, ninguém duvida que Zé Louro encaixa perfeitamente no perfil descrito. Mas não é só pela sua vida dedicada à educação pela arte, ao ensino do português e, por essa via, ao tanto que ensinou a tantas gerações sobre o que é o teatro e o que é amar o teatro.

O Zé Louro faz o pleno em todas as categorias que este prémio abarca e todos aqueles que, como eu, tiveram o privilégio de o ter como professor, sabem que, nas suas aulas, não era só o amor à língua portuguesa, à poesia e ao teatro que ensinava. O Zé Louro mostrou a tantos de nós o que é ser um Professor, o que é mostrar, pelo exemplo, o que é a tolerância, aceitar o outro, respeitar a diferença sem nunca perder a capacidade de questionar, de pensar, de perguntar porquê e de tentar entender. Assim, ensinou-nos também como é importante cuidar e acarinhar aquilo que é importante. E nunca deixar de lutar.

Além da enorme justiça deste prémio, ele vem em tempo útil. Em tempo, talvez, da cidade de Faro aproveitar o mote e fazer ao Zé Louro a homenagem que ele merece, para que todos tenhamos a oportunidade de lhe dizer publicamente “Obrigado!”

 

Autora: Anabela Afonso é licenciada em Relações Internacionais e mestre em Comunicação, Cultura e Artes, variante Teatro

 

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