O tecido empresarial português, face às suas particularidades, é composto em 99,9% por PME. Com as novas normas contabilísticas, transpostas através da diretiva europeia n.º 2013/34/UE que redefine as dimensões das empresas, é perentório afirmar que, à luz da contabilidade, as empresas portuguesas são consideradas, na sua maioria, micro e pequenas entidades.
O novo normativo contabilístico possibilita às micro e pequenas entidades de ficarem dispensadas de apresentar algumas demonstrações financeiras, como é o caso da demonstração de fluxos de caixa.
Esta reformulação poderá transparecer um alívio de burocracia, um regime normativo mais simples e adaptado à dimensão das empresas, no entanto na contabilidade pouca informação é sinónimo de problemas.
Embora a demonstração de fluxos de caixa não assuma uma grande importância (até ao momento), para os sócios, gerentes e contabilistas certificados é a demonstração financeira que permite ao empresário/gerente entender o destino e a origem dos meios monetários da entidade.
A ausência da demonstração de fluxos de caixa, poderá levar as entidades a não tomarem as devidas medidas/precauções, o que pode originar surpresas bastante desagradáveis. Por exemplo, o período entre a venda de uma mercadoria e o recebimento do montante referente à venda pode originar diminuições de liquidez nas entidades, sendo que o acumular destas situações, sem um devido controlo, pode ditar o fim de vida das entidades.
Com a demonstração de fluxos de caixa os sócios e os demais interessados conseguem entender a real situação da empresa não só a curto prazo mas também a longo prazo, o que permite adequar as variadas estratégias empresariais (operacionais, de financiamento e de investimento), de acordo com o que esta demonstração indica, ou seja, é possível saber qual o caminho que a empresa enveredou.
A título de exemplo, é possível averiguar se uma empresa está em condições de avançar para um investimento de grandes proporções, se um empréstimo bancário pode tornar a empresa financeiramente insustentável a longo prazo, se os recebimentos são suficientes para a empresa “manter as portas abertas” ou se a dívida aos fornecedores é sustentável.
Apesar de vários fatores, as grandes empresas tem tendência a sofrer menos oscilações nos seus resultados e conseguem adotar estratégias financeiras de acordo com as suas necessidades, fruto do uso da demonstração de fluxos de caixa. Esta é pois uma das grandes diferenças (positivas) que distingue as grandes empresas das micros e pequenas empresas, na importância que atribuem à informação vertida nas demonstrações de fluxos de caixa, pois assim, torna-se possível antecipar, minimizar e gerir os impactos na tesouraria resultantes dos diferentes acontecimentos financeiros.
Para os empresários/gerentes muitas vezes é difícil compreender as demonstrações financeiras, concretamente o Balanço e Demonstração dos Resultados, que os Contabilistas Certificados apresentam, no entanto a demonstração de fluxos de caixa permite uma leitura fácil, verdadeira e apropriada da real situação da empresa.
Assim, os gerentes/sócios devem equacionar, se apesar de não obrigatória, se não deverão pedir ao seu contabilista Certificado a sua preparação e apresentação.
É legítimo afimar que a demonstração de fluxos de caixa é indispensável para todas as empresas e que pode ajudar a tomar decisões importantes que salvaguardem a sua viabilidade e permite aos empresários/gerentes saber onde está o dinheiro.
Autor: Miguel Luzia
TOC N.º 92184