O Dia Internacional da Mulher assinala-se hoje. Mas será que nos tempos atuais ainda se justifica um dia dedicado à Mulher? Penso que sim e esta minha opinião não tem nada a ver com o facto de eu ser mulher. Ou se calhar até tem…
O dia foi criado precisamente para chamar a atenção para o papel e para os direitos das mulheres na sociedade. Apesar de muito se ter evoluído nestas décadas mais recentes, ainda há muito a fazer para que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens.
As mulheres estão hoje em maioria nas escolas e nas universidades, enquanto estudantes (até porque estruturalmente, em qualquer sociedade, há sempre mais mulheres que homens), e por isso, neste aspeto, a paridade parece estar assegurada.
No entanto, segundo estudos que têm sido divulgados nos últimos meses, há ainda muito menos mulheres que homens em cargos de direção, seja nas Universidades (quantas reitoras?), seja nas empresas, seja nos serviços públicos, seja até na política. Os homens continuam a dominar, sem sombra de dúvida.
Poderá dizer-se que as mulheres, “naturalmente”, têm menos apetência, menos vontade de ocupar cargos de chefia, nomeadamente na política, e é por isso que há menos mulheres que homens nos partidos, nas autarquias, no parlamento, no Governo. Assim como na direção das empresas e de todos os setores de atividade.
Mas isso é uma maneira machista de ver a questão. As mulheres não têm menos apetência, nem menos vontade de ocupar cargos de importância. Simplesmente têm menos oportunidades para o fazer, até porque, da forma como a sociedade portuguesa continua a estar estruturada, uma mulher que queira ter uma carreira tem frequentemente que optar entre a sua vida profissional e a vida familiar. Aos homens, esse dilema não se coloca!
Há dias, também foi divulgado um estudo a nível europeu que revelava que as mulheres, nos mesmos trabalhos, para ganharem o mesmo que os homens têm que trabalhar mais 59 dias por ano! Ou seja, as mulheres fazem um trabalho igual ao dos homens, mas ganham muito menos.
Há, por isso, um longo caminho a percorrer, no que diz respeito à paridade entre homens e mulheres.
Mas também é preciso que nós, mulheres, saibamos fazer valer os nossos direitos e lutemos pela afirmação do nosso papel na sociedade. É uma luta que tem que começar pela base, até na família, educando os nossos filhos e filhas para a paridade, atribuindo-lhes as mesmas tarefas e responsabilidades.
Mas nós próprias temos que nos afirmar, nomeadamente recusando aquelas pseudo comemorações do Dia da Mulher que passam por imitar o pior que os homens têm (veja-se os jantares com dezenas de mulheres histéricas perante um stripper masculino) ou que passam por oferecer às mulheres, no seu dia, tratamentos de beleza e estética, valorizando assim a imagem fútil que muitos (e muitas) ainda têm da mulher.
Esta última estratégia não tem nada de mal quando é oferecida por empresas que se dedicam a essa área de negócios, mas já me parece um absurdo quando são autarquias a fazê-lo.
Assim como acho absurdo que, no Dia da Mulher, em muitos locais, as comemorações mais não incluam que oferecer flores. Eu gosto muito de flores e gosto muito que mas ofereçam. Mas que isso seja a única comemoração do Dia da Mulher não gosto!
Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e que pode ser ouvida em podcast aqui.