Basta espreitar pela janela após o jantar, para sentir que entre a população há toda uma nova atitude quanto à ctividade física. E este aspeto é muito positivo, por vários motivos.
Primeiramente, porque existem óbvios benefícios para a saúde dos praticantes, que passam a estar mais saudáveis. E diretamente relacionado com a questão anterior está o fator económico, da poupança do Estado, porque uma população ativa, mais saudável, mantém-se afastada do Serviço Nacional de Saúde por muitos mais anos, o que é bom, para ambos!
Além disso, a atividade física promove o contacto com os outros, por isso combate o isolamento e contribui para o bem-estar psicológico.
Promove ainda socialização e ajuda na criação de um sentimento de comunidade. A cada caminhada, passeio de bicicleta ou qualquer outra atividade executada ao ar livre no espaço público, criamos uma maior consciência do espaço que nos é oferecido, pois vamo-nos apercebendo das suas debilidades ou dos seus aspetos positivos.
Desse modo, cada um de nós pode ter uma parte ativa na construção da cidade, com sugestões, fazendo propostas, etc. Propostas essas, algumas acarinhadas pela gestão da cidade e posteriormente colocadas em prática, outras não. Algumas executadas, para depois constatarmos que não funcionam. E então, é preciso voltar atrás! Mas para experimentar novamente, por outro prisma, e assim construir uma melhor cidade.
Que não se espere acertar à primeira, para não desistir também à primeira. Porque, mais grave do que errar por colocar uma ideia em prática, é nunca colocar qualquer ideia em prática. Porque aprendemos com cada erro e assim delimitamos cada vez melhor o percurso a seguir, definindo a cidade que queremos para responder mais eficazmente às necessidades dos cidadãos.
E então o espaço público, como é? É difícil de usar! A infraestrutura é antiga, desadequada a uma sociedade que evolui cada vez mais rapidamente e que dedica cada vez mais tempo à sua saúde.
Os passeios são diminutos, muitas vezes sem continuidade, com obstáculos, etc. E há automóveis a passar a toda a hora. Motociclos e motorizadas, autocarros e alguns destemidos que tentam pedalar por entre a confusão, poucos, pois as cidades ainda não conseguem responder a esta nova, e ao mesmo tempo muito antiga, atividade.
Sentir-se-ia seguro ao saber que o seu cônjuge, filho ou filha, pedalava nessa selva motorizada? Ficaria tranquilo mesmo sabendo haver legislação para garantia dos direitos do ciclista? Nunca! Pelo menos enquanto não existir uma infraestrutura adequada.
Há que compreender que, para usar o espaço público, o Homem precisa sentir segurança e conforto.
Como e por onde começar?
Suponhamos que estudávamos a planta de um local, ou da cidade, e decidíamos que, ao Domingo, encerraríamos algumas vias ao trânsito motorizado, ligando praças, algumas avenidas e “construíamos” uma série de percursos pela cidade, na infraestrutura existente, permitindo que a população saísse à rua e dela desfrutasse com conforto e segurança.
E que, ao invés de promover atividades desportivas sempre longe da cidade, mesmo sob o pretexto de ser no ambiente natural, o que também afasta os cidadãos da cidade, debilitando os laços que com ela mantêm, algumas vezes, por vários Domingos, o espaço proposto fosse a cidade.
Pois nada disto é novo! Já acontece desde 1976 e teve origem em Bogotá. Tem sido um sucesso desde então, agora espalhado um pouco por todo o mundo, também com o nome de “Open Streets” e que convida o cidadão a envolver-se em atividades físicas variadas no espaço urbano, nas ruas encerradas temporariamente (ao Domingo) ao trânsito, para passear, andar de skate, de bicicleta, fazer ginástica ao ar livre, conhecer as associações locais, encontrar amigos, socializar, etc.
Tem mostrado também que consegue cativar um espectro muito alargado da população, cativando até mesmo aqueles que, por norma, não fazem desporto, e contribuindo também para uma maior integração das minorias étnicas.
Além disso, as várias associações de cada Concelho podem ser decisivas para o sucesso deste tipo de iniciativa, contribuindo mediante pagamento, com alimentação, bebidas ou propondo a realização de atividades várias.
Começamos quando?
Autor: Miguel Caetano
Arquiteto
miguel.jcaetano@gmail.com