Venho hoje dar-vos nota das principais conclusões de um estudo que efetuei sobre o tecido empresarial do Algarve por conta da minha recente participação no I Encontro Empresarial de Faro.
Comecemos então pelo princípio. Com a ajuda do AMADEUS, base de dados que congrega informação contabilística sobre mais de 21 milhões de empresas europeias, consegui perceber que em 2013 (último ano com informação disponível) existiam 7.150 empresas no Algarve.
Estas são unidades empresariais particulares: o seu capital é maioritariamente privado, são legalmente constituídas como sociedades por quotas ou anónimas, não pertencem ao setor financeiro ou segurador, apresentam contabilidade “consistente” (i.e., livre de problemas de registo como ativos ou vendas negativos) e têm sede fiscal num dos dezasseis concelhos do Algarve.
Nesse ano, estas empresas deram emprego a 52 mil pessoas, geraram um volume de negócios (VN) de três biliões de euros, um valor acrescentado bruto (VAB) na ordem dos 830 milhões de euros e foram responsáveis por um investimento em ativo tangível (CAPEX) de mais de 137 milhões de euros.
Impressionados? Bem, a verdade é que estas 7.150 empresas representam apenas 5% do total nacional, sendo a larga maioria (mais de 84%) classificadas como microempresas.
Paralelamente, entre 2012 e 2013, o Algarve perdeu 5% das suas empresas, quase 9% do emprego, 6.5% do VN, 3.5% do VAB e quase 25% do CAPEX.
Os dados disponíveis mostram ainda que, em 2013, 42% das 7.150 empresas do Algarve apurou um resultado operacional negativo e 45,6% das mesmas gerou prejuízo. Valores comparáveis para o ano de 2007 (i.e., último ano antes do início da grave crise financeira e económica que ainda hoje se faz sentir) são 27.4% e 29.3%, respetivamente.
Esta é uma realidade importante. De facto, o resultado operacional mede a diferença entre os ganhos do negócio (e.g., vendas e prestações de serviços) e os custos operacionais que temos de suportar para o manter (e.g., pessoal, custo das matérias primas e mercadorias, fornecimentos e serviços externos e depreciações e amortizações).
Logo, em bom Português, empresas com resultado operacional negativo não chegam a trabalhar para aquecer.
Por seu turno, o resultado líquido mostra a capacidade que a empresa tem para criar riqueza para o acionista. É simpático pensar que acionistas esclarecidos preferem ver a sua riqueza aumentar e não diminuir, o que acontece sempre que há prejuízo.
Neste contexto, e por ser relevante, é ainda de salientar que, em 2013, uma em cada quatro empresas do Algarve estava tecnicamente falida, i.e., numa situação onde o valor do ativo já não chega para cobrir o respetivo passivo (o valor comparável para 2007, o tal ano antes da crise, é “apenas” 16.6%).
Tudo somado leva a concluir que 2013 não foi um ano feliz para a maioria dos acionistas que investiram na região do Algarve, especialmente quando se verifica que, no mesmo ano, o principal índice da Euronext Lisbon se valorizou mais de 12%.
Termino, no entanto, com uma nota de esperança. Como é sabido, 2014 foi aparentemente um bom ano para o turismo. Atendendo a que mais de 60% do VAB da região é gerado por empresas de setores conexos com este fenómeno socioeconómico, é expectável que a realidade do tecido empresarial do Algarve tenha melhorado em 2014.
Notem, defendo que o Algarve tem de diversificar a sua base económica; no entanto, reconheço que em 2014 a “monocultura” do turismo pode até ter jogado a nosso favor.
Acresce que a CCDR Algarve irá gerir um envelope financeiro de vários milhões de euros até 2020 que se destina (pelo menos parcialmente) a reforçar a capacidade competitiva e de geração de valor das empresas do Algarve.
Como contribuinte e residente no Algarve, apelo a que as forças vivas da nossa região se unam por forma a tirar o melhor proveito destes fundos, garantindo assim que os números que encontrei para o tecido empresarial algarvio em 2013 nunca mais se repitam. A bem de todos!
Autor: Luís Coelho
Membro Efetivo da Ordem dos Economistas
Vogal do Secretariado da Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas
Professor Auxiliar de Finanças na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve
NOTA: Artigo publicado ao abrigo do protocolo estabelecido entre o Sul Informação e a Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas.