Quando falta pouco mais de um mês para o fim do programa de ajustamento financeiro, o Executivo anunciou um novo pacote de cortes.
Desta vez, se se confiar nas palavras do primeiro-ministro Passos Coelho, as vítimas não serão apenas os pensionistas e funcionários públicos. Desta vez, a vítima será toda a máquina do Estado. Ou seja, seremos todos nós, mesmo os que não são pensionistas, nem funcionários públicos.
Desengane-se quem pensa que os anunciados cortes nos chamados «consumos intermédios», na tal gordura do Estado, vão por exemplo diminuir o número de deputados da Assembleia da República, cortar no número de assessores pagos a peso de ouro nos vários ministérios, obrigar os ministros e secretários de Estado a andar em carros normais.
O pacote de medidas apresentado pelo Governo prevê que, de uma poupança total estimada em 1.400 milhões de euros, 1.200 digam respeito a consumos intermédios e a custos de funcionamento, o que equivale a 87% do total. «Aleluia!», dirão alguns. Finalmente chega-se às “gorduras” do Estado.
Mas que cortes serão esses? Segundo disse a ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, a maior fatia dos cortes vai concretizar-se a nível dos ministérios «com reorganizações, fusões e outras medidas de eficiência». Só aí, o Governo espera conseguir uma poupança de 730 milhões, o que corresponde a 52% do pacote total.
Mas o Governo espera ainda poupar 320 milhões com consumos intermédios, consultorias, pareceres técnicos e ainda a nível das tecnologias de informação e comunicação (23%).
O setor empresarial do Estado também vai dar uma ajuda, ainda que pequena, com concessões, fusões, reorganizações e ainda graças à redução de indemnizações compensatórias.
E os funcionários públicos, que pensavam que escapavam desta, também são abrangidos, através da continuação do programa de rescisões amigáveis e passagens à reforma, com o qual a ministra espera poupar 180 milhões.
Concretamente, concretamente, estes cortes nos tais consumos intermédios, as fusões e reorganizações de serviços, irão traduzir-se em quê? O primeiro-ministro Passos Coelho, na sua entrevista à SIC, já admitiu que se concretizarão, por exemplo, os fechos de Repartições de Finanças. Onde? Certamente que no interior do país e zonas consideradas mais periféricas.
E desconfio ainda que grande parte destas “poupanças” será feita à custa de mais cortes na Saúde, nos Hospitais, nas Escolas, na Segurança Social… Tudo em nome da «eficiência».
Ou seja, no fundo, no fundo…é apenas mais do mesmo!
PS – Já depois de ter escrito esta crónica, que foi emitida na semana passada na RUA FM, soube-se que o Estado/Governo gastou 4 milhões de euros em assessorias e consultorias externas. Palavras para quê?