Há quem fale com os botões, cogite com o travesseiro, eu por mim tenho intensos diálogos com os meus pneus. Iniciei estas conversas de pé de orelha quando o começa-pára-arranca das obras da variante de Faro à EN125 canalizaram o trânsito para um desvio, alegadamente transitório.
– Vá lá, querem que eu volte a fazer a figurinha de andar de rabo no ar no meio da estrada? Já sei que os buracos estão maiores, mas hoje não dá para ir fora de mão, o trânsito parece Lisboa em hora de ponta, aguentem!
À medida que o tempo passava e já lá vão mais de três anos, o desvio por onde eu e os milhares de residentes no triângulo Faro, Estoi, Olhão somos obrigados a circular, sem outra alternativa, foi abrindo mais e mais buracos, o engarrafamento para se entrar na capital ganhou uns bons quilómetros e, claro!, os pneus ressentem-se.
Só este ano, já por três vezes estive de rabo no ar a mudar pneus. À terceira, comprei um macaco potentíssimo, mas a fuselagem do carro não quis colaborar. Ferrugem a mais, suporte a menos, disse ela.
Comentei o assunto com a minha amiga Ana, num desabafo sobre orçamentos curtos, pneus caros, desvios provisórios por causa de obras que começam e se interrompem, de falsos recomeços, e mesmo quando arrancam outra vez, como aconteceu no mês de agosto, vão a passo de caracol e mais parecem as obras de Santa Engrácia, mas ela não se comoveu.
Depois de um silêncio meditativo, retrucou: Tens de renovar o teu guarda-roupa interior, por causa das rabanadas de vento. Para quem vê, mudar de pneus é sexy, com as cuecas certas, evidentemente.
Pois, para lá dos pneus, ainda tenho de gastar mais em cuecas de griffe. Oh, deuses!, castigai-os a eles e não a mim!
Autora: Conceição Branco é jornalista
