Aparentemente, houve algum desconforto na sessão de apresentação pública do Parque Ambiental da Praia Grande, quando o responsável pela mesma encerrou a dita sem dar direito à populaça de fazer perguntas.
Ou melhor, perguntas imagino que até pudessem haver, respostas é que a casa se reservou o direito de não dar.
Desde já, a minha solidariedade para com o responsável pela ingrata tarefa de apresentar a salvação do Algarve às massas ignoras. Não tenho grandes dúvidas de que é só mais um a fazer pela vida, como todos nós, e seguramente a cumprir ordens superiores, pelo que não vale a pena crucificar a pessoa.
Além do mais, verdade seja dita, está no seu sacrossanto direito. É no entanto certo que podemos ver a coisa por outro lado.
Por exemplo, é falta de chá convidar alguém e depois cortar-lhe o pio, dando unilateralmente por encerrada a conversa? É.
É mau marketing passar uma imagem de despotismo e falta de vontade de explicar um projecto, numa sessão pública de apresentação, que supostamente é serve a sua promoção? É.
Mas isso interessa para alguma coisa? Não.
Isto porque, na minha modesta opinião, há diversas razões que assistem o promotor para não querer conversas. Mas já lá vamos.
Desde já manifesto o meu lamento por não ter estado na sessão. Fundamentalmente, por duas razões.
Primeiro, porque me fascina esta história dos “parques ambientais”. Principalmente porque não percebo o que são. Há parques infantis, que é onde brincam as crianças. Há parques geriátricos, que é onde a terceira idade (e não só) brinca – porque a isso também tem direito – e se exercita. Existem os parques verdes/urbanos, que são espaços naturalizados, dentro do tecido urbano, ou na sua periferia. Será que os “parques ambientais” é onde se brinca ao ambiente, depois de rebentar com tudo o que está à volta, estilo um canteiro gourmet?
Eventualmente esta sessão teria ajudado a clarificar esta minha lacuna de conhecimento… mea culpa.
Em segundo lugar, porque gosto imenso desta coisa do “agora é que é” de todos os projectos pato-bravistas que surgem, prometendo mais do mesmo na região que fez disso a sua bandeira e recebeu em troca o tecido económico mais débil do Pais e a maior taxa de desemprego, a condizer.
Pessoal, os milhentos hotéis fechados por esse Algarve fora por falta de negócio, bem como os grandes empreendimentos falhados que pululam pelo feudo, não sabem o que fazem! Estes cinco que aí vêm, mais a restante parafernália de construção, é que vão mostrar.
Andaremos todos a comer água morna com talheres, que é como quem diz, todos parvos?
E aqui encana a tal solidariedade para com o silêncio nesta sessão, por parte dos messias.
Imagine-se que sim senhor, faziam a vontade ao povão, e a malta desatava a fazer perguntas do estilo de o que é que este projecto tem que todos os outros paraísos terrenos prometidos antes dele não tiveram, de onde vêm esses empregos todos, onde é que vão buscar o dinheiro, quem vai comprar os palacetes, porque é que este Maná é imune à crise que abateu nomes bem maiores, ou se acham que a Lagoa dos Salgados é mesmo um canteiro.
O que raio iriam eles responder?
É que há alturas em que realmente mais vale estar calado.
Autor: Gonçalo Gomes é arquiteto paisagista
(e escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico)