A crise do BES foi tornada pública há cerca de três meses e a equipa que foi liderada pelo economista Vítor Bento esteve cerca de dois meses no Novo Banco. O BES tornou-se um Banco altamente tóxico e o Novo Banco respirava saúde e vitalidade.
Mas voltemos um pouco atrás.
Há cerca de quatro meses, o Banco de Portugal, entenda-se regulador do sistema financeiro, tomou as rédeas de controlo total, assumindo e garantindo a cobertura de todos os depósitos de forma a maximizar o valor de mercado do BES. Resultou? Não!
Partindo deste pressuposto e sem saber concretamente o estado de saúde do BES, no dia 3 de Agosto, o Banco de Portugal decidiu, em conjunto com o Banco Europeu de Investimento e a nova equipa liderada pelo Vítor Bento, criar o Novo Banco, integrando os depósitos e ativos.
Decidiu, tal como todas as empresas novas que nascem, criar uma nova marca, um novo discurso e uma nova confiança. Resultou? Não. E sabiam desta possibilidade? Sim.
Há cerca de dois meses, o Professor Miguel Rocha de Sousa (Universidade de Évora, Departamento de Economia) começou a trabalhar neste tema, através de um artigo académico. Uma das principais conclusões era que o Novo Banco só poderia ser eficiente e eficaz na sua criação e desenvolvimento se conseguisse que o mercado o “descolasse” do Antigo Banco (BES). Se a correlação dos ativos e depósitos fôr “desconexada” do BES, então o Banco tem sucesso.
E se não conseguir? Tem de vender o Banco. E porquê? Porque, apesar de terem separado os depósitos, não conseguiram separar os antigos ativos tóxicos do BES e, assim, assistimos a uma nova marca de sucesso fracassada. Incompetência? Sim.
Aquilo que à primeira hora, foi apontado como um caso de sucesso pelo primeiro-ministro, aqui ao lado, no Pontal, poderá virar-se agora contra ele. Tal como o Professor Marcelo Rebelo de Sousa referiu, “agora o Governo começa a afastar-se do caso BES, deixando ao Banco de Portugal toda a responsabilidade… se correr mal foi do regulador, se correr bem foi porque intervimos todos no início”.
Agora com uma nova equipa em funções no Novo Banco, a pergunta que coloco é a seguinte: Quanto irá custar a cada contribuinte o caso BES? Isto porque não é só o buraco financeiro do Banco. São todos os procedimentos e campanhas para criar um Banco novo…
Todos os estudos devem ser feitos para uma melhor tomada de decisão. Ainda mais quando envolve enormes quantias de dinheiros públicos.
Bem sei que é mais fácil falar depois do que agir antes, mas que se faça com bom senso, responsabilidade e com um certo nível de rigor. Tal como as grandes obras públicas, os grandes contratos públicos (como as PPP rodoviárias e de saúde, por exemplo), mas também as grandes intervenções públicas (como na Banca, por exemplo) devem ser antecedidas de estudos técnicos e análises imparciais (das Universidades, por exemplo), em parceria com os reguladores dos setores intervencionados.
Autor: Pedro Pimpão
Doutorando em Gestão pelo ISEG – Universidade de Lisboa
Pós-Graduação em Gestão Empresarial
Licenciatura em Economia
Coordenador da Comissão Instaladora da Ordem dos Economistas no Algarve
Pedro_pimpao@hotmail.com
NOTA: Artigo publicado ao abrigo do protocolo estabelecido entre o Sul Informação e a Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas.