Quando os portos comerciais de Faro e Portimão foram impostos à Administração do Porto de Sines, tornaram-se meros apêndices. Passado mais de um ano, Sines fez algum foguetório, mas esclareceu prioridades: atirou para as calendas gregas as principais benfeitorias programadas para o porto de Portimão e executa ações de cosmética no porto de Faro. “A montanha pariu um rato”.
Ora, durante décadas, os portos comerciais cobriram o Barlavento, o Centro e Sotavento do Algarve, ou seja, boa ou má, havia uma arrumação portuária e administração de proximidade.
Misteriosamente, o porto comercial de Vila Real de Santo António (VRSA) foi excluído da reorganização.
Posteriormente, foi-nos sugerido o motivo: a exclusão do porto de VRSA resulta do concubinato partidário governo/presidente da Câmara Luís Gomes.
Como um perfeito protagonista dúplice, enquanto líder político distrital, aceita o abandono do porto comercial de VRSA; como eleito local, pretende a sua municipalização por relevante interesse concelhio.
Somos insuspeitos, porquanto assente numa estratégia portuária regional, defendemos, publicamente, há décadas, a municipalização das áreas portuárias sem uso. Há dias, foi notícia, nos media, que a prospeção/exploração de gás natural, ao largo de VRSA, encaminhará a tubagem para o local mais próximo, em terra firme.
Entrementes, continua uma incompreensível omissão de informação elementar, que apenas serve para adensar a suspeição, de uma qualquer obscura articulação, entre as tubagens de gás, o porto comercial e o município vilarrealense.
Aliás, se esta temática constituísse uma ferramenta capaz de alavancar a economia regional, já teria sido propagandeado com pompa e circunstância.
Parece, portanto, não ser exagerado aceitar esta sucessão de “acasos” como os preliminares de uma gorda negociata. Na antiga Grécia, idiotes eram aqueles que apenas se interessavam pelo seu proveito particular, ignorando o interesse coletivo
Numa outra perspetiva, todos os portos têm particularidades, mas há uma que é imediatamente reconhecida por quem mantém uma estreita relação afetiva com o mar. É o reconhecimento da marca do porto, cuja envolvência molda uma original dimensão cultural e social. Genuíno ferrete identitário, entranhado no quotidiano das gentes ribeirinhas, é um perfeito mecanismo subliminar de responsabilização e custódia coletivas.
Cremos, portanto, que não é indiferente um concelho possuir ou não, um porto com atividade. Periodicamente, o município de Portimão renova a pretensão de tutelar áreas portuárias sem uso, no seu concelho. Se o porto de VRSA for municipalizado, como reagirá a edilidade portimonense?
Relativamente ao município de Faro, parece que a problemática portuária lhe passa ao lado. Deve aconselhar-se, porque o mar tem futuro.
Em bom rigor, a principal causa de não atingirmos patamares idênticos aos dos países desenvolvidos é a ausência de um pensamento estratégico para o setor portuário.
Aparentando ignorância, é intencionalidade, pois, quanto mais distante e incompleta for a orientação política, maior o espaço para o favor e a cunha.
Neste cenário, não espanta, portanto, que as principais direções partidárias, em Lisboa, não reconheçam aos políticos da nossa Região, uma grande notoriedade e influência. Objetivamente, os grandes partidos políticos nacionais, apenas são ferrenhos regionalistas quando estão na oposição. Assentados na situação… a regionalização é mais uma apoquentação.
Autor: José Martins Amaro é estudioso dos assuntos do mar