A maioria dos filmes portugueses é baseada em factos históricos ou em livros; muitos até bons. Finalmente, vemos um filme baseado no mundo real, atual, muito bom e ainda muito divertido.
A história de como o filme passou de sonho a realidade é tão boa como a história do filme e espelha bem a realidade do Algarve. Pois reúne um coprodutor americano, uma produtora inglesa, um realizador dinamarquês que vive na Holanda, artistas ingleses e portugueses, com apoio de empresários alemães, franceses, holandeses e até algarvios.
Barbara-Jean Boulter chegou ao Algarve em 1962, quando os pais britânicos adquiriram a Residencial Pinguim, na Praia da Rocha. Ela nasceu na Tanzânia, na infância viveu no Quénia, onde o pai coordenou a construção de uma ferrovia. Veio para cá com o bichinho internacional.
Quando jovem, Barbara apaixonou-se por…cinema. Aprendeu tudo, iluminação, produção, edição, câmara. Como com muitos emigrantes jovens que mudaram de país, correu o mundo. Trabalhou em Hong-Kong, Austrália, Argentina, e outros países “exóticos” e casou com um dinamarquês. E logo se separou para continuar as andanças pelo mundo.
O filho, Kristjan, enquanto jovem, dizia que não se dedicaria àquela vida louca de sempre mudar, mas apoiava a mãe em todas as tarefas que ela fazia neste mundo de sonho que, muitas vezes, reflete mais a realidade do que a ficção publicada o faz.
Já adulto, ele concluiu que o que sabia fazer era… cinema. Kristjan casa então com uma holandesa e vai para o mundo da publicidade e documentários em… Amsterdam.
Mas o bichinho do Algarve o picara, como picara a loira e entusiástica mãe. Esta sabia que tudo era possível, desde que se fizesse tudo com amor, afinco, e muuuuuuuito trabalho.
É quando ele conversa com a mãe e sonha rodar um filme sobre o Algarve. Ela junta mais dois, cada um escreve um parágrafo com uma ideia de um filme, eles sorteiam uma ideia e todos, unidos, a desenvolvem para torná-la uma história.
Mas rodar um filme custa meio milhão. Sem este capital, BJ vai atrás dos que poderiam oferecer algo, como quarto em hotel para a equipa de 25, alimentos durante as sete semanas de rodagem, apoio para publicidade, etc.
Só uma senhora vivida pelo mundo poderia conseguir tanto apoio como Barbara.
E assim nasceu um filme sobre o Algarve real, a mostrar aldrabões, idealistas, gente simpática e acolhedora, sempre de forma jocosa, romântica, com os marafados e os encantos deste paraíso terrestre que consegue atrair tantas culturas.
O filme em si é muito divertido, tem uma história simples, de um inglês desiludido com as aldrabices do mundo das finanças, que tenta realizar um sonho irrealizável, mas, com a ajuda de muitos, conclui que há alternativas para transformar o sonho de outros em realidade, o que beneficia muitos. Lúcia Moniz está excelente no seu papel, romântico e firme.
Seria muito bom se todos fossemos prestigiar este filme rodado em muitos municípios do nosso querido Algarve.
Dar gargalhadas, apreciar o que temos de melhor e concluir, YES, WE CAN! Podemos sim, melhorar o nosso pedaço de paraíso! Usemos os recursos que temos, os estrangeiros que nos amam. Deixemos as telenovelas, vamos ao “Sonho Certo”. VAMOS A ISSO!!!
Jack Soifer é autor dos livros «Como sair da Crise», «Transportes», «Portugal Rural», «Algarve/Alentejo – My Love» e «Ontem e Oje na Economia»
Nota: O filme «O Sonho Certo – Uma História do Algarve/The Right Juice» estreia amanhã, quinta-feira, dia 18, nos cinemas do Algarve e depois, provavelmente em Outubro, terá também exibição nacional.